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“It Won/t Be Like This All The Time”: o grito contido do The Twilight Sad em meio ao colapso

Há discos que parecem prever o fim do mundo. E ainda assim, te abraçam

The Twilight Sad  tocando o vivo
Crédito: Roberto Ricciuti/Redferns.

Linhas de baixo pulsantes, guitarras energizadas, uma fúria sonora vibrante e um eco de melancolia que remete diretamente ao The Cure. Assim é It Won/t Be Like This All The Time, quinto álbum da banda escocesa The Twilight Sad. Uma grandeza épica ao pós-punk moderno, desses discos que soam como um aviso prévio do caos. Lançado pouco antes da pandemia, parecia já pressentir o colapso de 2020 e 2021. E, em meio à escuridão, sussurra uma frase que soa quase como uma prece: “não será assim o tempo todo.”



O refrão visceral de I/m Not Here (Missing Face) gruda na alma. “Eu não quero mais ficar perto de mim” — um verso que sintetiza a solidão e o isolamento social com uma precisão quase profética. As camadas estáticas e poderosas da faixa criam uma conexão intensa, quase espiritual, com o ouvinte. Aqui, o The Twilight Sad expande sua paleta sonora: teclados e sintetizadores ganham protagonismo, desenhando atmosferas introspectivas e viajantes. Já na abertura, 10 Good Reasons for Modern Drugs, a guitarra energizada e quase robótica te arrasta pelos primeiros segundos, e não solta mais.


É um disco movido por mudanças. A banda deixou o selo FatCat e assinou com a Rock Action Records, perdeu o baterista original e um amigo próximo. Tudo isso se traduz em cada acorde, em cada verso. Quando James Graham canta “There’s no love too small” em VTr, a frase se transforma em um mantra sobre seguir em frente, mesmo quando tudo parece ruir. VTr e I/m Not Here são o coração pulsante do álbum, melodias que brilham como lampejos de luz dentro da alma, uma ode às coisas que nunca foram ditas, mas precisavam ser.


Ouvir It Won/t Be Like This All The Time hoje é como revisitar o tempo. Um álbum que olha para o futuro e o encontra distorcido — porque aquele futuro já é o nosso presente. The Arbor é pura introspecção: guitarras e baixos que lembram The Smiths, uma batida à la Joy Division, e vocais góticos que parecem emergir de um lugar obscuro da alma. O The Twilight Sad domina esse território com maestria, transforma dor em arquitetura sonora, tristeza em catarse.



A capa já antecipa a viagem: desenhos nostálgicos e oníricos, como se o tempo escorresse pelas rachaduras da imagem. Enquanto escrevo, me pego repetindo o play, tentando entender o que há nessa melancolia que acolhe em vez de afastar. Talvez seja isso o que faz o disco ser tão grande, ele não explica nada, apenas te convida a sentir.



It Won/t Be Like This All The Time é mais do que um álbum: é uma travessia. Uma obra sinfônica feita de perdas, esperança e sobrevivência. Um relato melancólico sobre o que significa continuar respirando num mundo que insiste em apertar o peito. Um lembrete, doloroso e bonito, de que sim, não será assim o tempo todo.

Capa do disco - It Won/t Be Like This All The Time, do The Twiight Sad

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