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Ira! celebra 20 anos do Acústico com shows lotados e um país ainda em conflito

A pergunta que paira no ar: até onde vai a liberdade de cantar — e de não se calar?

Ira!
Foto: Ana Karina Zaratin / Divulgação

Vinte anos se passaram desde que o Acústico MTV do Ira! transformou revolta em poesia e devolveu a fúria urbana da banda em acordes suaves e palavras afiadas. Em 2025, esse disco — que marcou uma geração — volta aos palcos em uma turnê comemorativa. Mas, em vez de apenas nostalgia, o que se ouve é o movimento de um Brasil ainda em disputa.



O fim de semana em São Paulo foi o palco de uma espécie de reconciliação: o Vibra recebeu Nasi, Edgard Scandurra e banda em duas noites de casa cheia e aplausos longos. Foi um show celebrativo, cheio de hits, de memórias, mas também de feridas recentes.


Porque essa turnê não começou leve. Parte das datas no Sul foi cancelada após um episódio polêmico: em um show anterior, Nasi pediu que apoiadores de Bolsonaro se retirassem do local, em resposta ao grito de “sem anistia” vindo da plateia. A declaração teve repercussão nacional — patrocinadores recuaram, casas de show cancelaram, e o debate sobre os limites do palco político voltou à tona.


Mas em São Paulo, o público não recuou. Pelo contrário: durante Dias de Luta, o grito “sem anistia” emergiu espontâneo, coletivo, como um manifesto compartilhado com o artista no palco. Nasi ouviu, sorriu, e respondeu apenas: “Não preciso falar nada para vocês.”



A noite seguiu com um repertório afiado. De Flerte Fatal a Poço de Sensibilidade, passando por O Girassol, Tarde Vazia e Mudança de Comportamento, a banda provou que não envelheceu — amadureceu. O encerramento, com Bebendo Vinho, foi um brinde à resistência, à inquietude, à arte que não se cala.


“O Ira! é uma banda progressista”, disse Nasi após a polêmica. “Nós somos democráticos. Passamos pela ditadura. Eu não quero público fascista… Tem outras bandas. Vão curtir Ultraje a Rigor.”


O que está em jogo não é só música. É memória. É posicionamento. É o lugar do artista em um país que vive num eterno embate entre o que foi e o que ainda não conseguiu ser.



E a turnê segue: Rio, Goiânia, Curitiba, Belém, BH, Porto Alegre. Cada cidade com seu próprio termômetro político, cada palco um novo teste de resistência.


A pergunta que paira no ar: até onde vai a liberdade de cantar — e de não se calar?

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