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I Think We’re Alone Now: quando o pop ingênuo dos anos 80 reaprende a respirar

Às vezes, tudo o que uma música precisa para renascer é um encontro improvável com o tempo, e Tiffany descobriu isso de novo

Tiffany cantora pop dos anos 80
Imagem: Reprodução

Há músicas que sobrevivem porque são perfeitas na sua simplicidade. I Think We’re Alone Now, eternizada por Tiffany em 87, é uma dessas faíscas que incendiavam as rádios sem esforço: pulsação sintética, refrão imediatamente familiar, a sensação de que o mundo, por três minutos, podia caber dentro de um shopping. Era o auge da cultura teen, dos clipes coloridos, do romantismo exagerado, e Tiffany, com apenas 15 anos, virou um símbolo precoce dessa euforia luminosa.



Mas o curioso é que, mesmo sendo o maior hit de sua carreira e um dos grandes hinos adolescentes dos anos 80, I Think We’re Alone Now não nasceu ali. A canção foi escrita por Ritchie Cordell, compositor que ajudou a moldar parte do pop dos anos 60, e ganhou sua primeira gravação de sucesso em 1967, com Tommy James & the Shondells, que a transformaram num pequeno clássico daquela década. O que Tiffany faz — e talvez por isso sua versão seja a definitiva — é transportar esse romance clandestino para o coração pulsante do dance-pop oitentista. Bateria eletrônica, sintetizadores marcantes, vocais melódicos: a música se reinventa como trilha sonora de shoppings lotados, rádios frenéticas e pistas iluminadas por neon.


E tudo isso amplia o sentido da letra. A história de dois jovens que se escondem do mundo para viver um amor vigiado, “correr o mais rápido que podem”, “parece que não há ninguém por perto”, fala não só de um namoro proibido, mas de uma adolescência que tenta escapar do controle dos adultos, das normas, da vigilância. Tiffany transformou essa narrativa em pura iconografia pop.


Mas o interessante é quando uma canção dessa natureza, presa à memória afetiva de uma década, salta de volta à superfície com uma nova camada de sentido. E é aqui que Stranger Things entra como um portal cultural, não só narrativo.


A quinta temporada resgata a música com a precisão de quem entende que nostalgia não é sobre repetir um passado, mas sobre reler suas vibrações. I Think We’re Alone Now reaparece ali não como enfeite sonoro, mas como comentário: a solidão juvenil, o vazio entre o que sentimos e o que mostramos, o desejo de escapar quando o mundo parece esmagar. A série, como sempre, sabe usar os clássicos dos anos 80 para ativar sentimentos que estavam adormecidos, e, ao mesmo tempo, para apresentar esses hits a uma geração que nunca os viveu.


Stranger Things fez isso antes — Running Up That Hill, Master of Puppets, Pass The Dutchie, Should I Stay or Should I Go. Mas, com Tiffany, há uma espécie de comentário sobre a própria adolescência americana da década: aquela mistura de ingenuidade, urgência e melancolia que sempre parece pronta a quebrar. A letra, que antes soava como um flerte inocente, hoje ganha um subtexto quase político: jovens tentando existir apesar das forças que os querem silenciados, controlados, moldados.



E é exatamente essa a força cultural do hit: I Think We’re Alone Now nunca deixou de ser usada em filmes, séries e vídeos nostálgicos para representar a juventude dos anos 80. Sempre esteve ali, como símbolo de liberdade, romance secreto, rebeldia suave. Mas Stranger Things devolve à música um frescor inesperado, lembrando que clássicos não sobrevivem apenas pelo passado que carregam, mas pelo futuro que ainda conseguem tocar.



Tiffany talvez não imaginasse que sua voz adolescente atravessaria décadas e encontraria novo fôlego em 2025. Mas é assim que funciona com certas canções: elas esperam, em silêncio, por uma nova história para habitar. E quando chegam, chegam iluminando tudo de novo.


Porque, no fim, não estamos sozinhos, apenas precisamos ser lembrados disso por uma música de 1987 tocando no momento certo.




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