"Quatro Cantos de um Mundo Redondo" foi lançado em 26 de setembro de 2023.
O gaúcho Humberto Gessinger é um dos grandes nomes do Rock no Brasil. De 1985 até o ano de 2008, ele foi líder e vocalista da banda Engenheiros do Hawaii, que foi um dos responsáveis por colocado o Estado do Rio Grande do Sul na rota dos holofotes, do Rock e da renomeação na música brasileira, com letras que misturam literatura, filosofia, existencialismo e sentimentalismo.
Após o fim do Engenheiros do Hawaii, Humberto fez o grupo Pouca Vogal com Duca Leindecker da banda gaúcha Cidadão Quem. Ele lançou livros e trabalhou em discos solo. Em 2023, ele lançou o seu mais recente trabalho, "Quatro Cantos de um Mundo Redondo", onde ele mostra um ecletismo sonoro bem presente e letras que capturam a essência lírica do artista. Isso renova sua influência na música brasileira e mostra uma maturidade que faz dele, como compositor, atento para as afetividades e os acontecimentos do mundo, passando pelos seus mais diversos temas sociais.
O álbum é composto por 10 faixas e foi gravado tanto em Porto Alegre, sua cidade natal, quanto em Estocolmo, Suécia, onde sua filha Clara reside, acrescentando uma dimensão internacional à produção. Essa escolha diversificada ressalta o caráter multi-instrumentalista do músico e sua busca contínua por inspiração.
O time de músicos que o acompanha na gravação, inclui nomes como Rafa Bisogno, Marcelo Corsetti, Paulinho Goulart e Felipe Rotta, proporciona um amplo espectro de ecletismo sonoro, demonstrando o domínio e experimentação de Gessinger com diferentes estilos musicais.
O álbum começa com "Espanto", que introduz com destreza a jornada lírica do disco. A faixa combina elementos literários, filosóficos e poéticos em uma apresentação emotiva com arranjos instrumentais bem executados.
"Fevereiro 13" é uma tocante homenagem à sua filha, Clara, com um arranjo acústico que ressalta a conexão emocional entre pai e filha, que agora mora distante. Ela, para quem não sabe ou não se lembra, participou do álbum “Acústico MTV Engenheiros do Hawaii” lançado em 2004 cantando a música “Pose” com seu pai. Voltando a falar da faixa, ela tem roupagem acústica muito bem feita com elementos elétricos em uma letra sentimental que retrata um amor de um pai que viu e acompanhou o crescimento da sua filha desde seu nascimento e as conquistas pessoais e agora ela mora em outro lugar. Nisso, o músico deseja felicidade para ela, não importa como ou mesmo onde ela esteja, com as bonificações que a vida possa oferecer.
“Toxina” tem uma letra bem diferente do que se vê no repertório do músico. Isso porque, ao longo da carreira enquanto membro da Engenheiros do Hawaii, recebeu muitas críticas negativas de diversos críticos e veículos, como a Revista Bizz, Jornal do Brasil e Folha de São Paulo, em relação aos seus trabalhos. Segundo o youtuber Júlio Ettore no seu vídeo "Por que os críticos odiavam os Engenheiros do Hawaii?", ele apresenta apontamentos para isso ter acontecido.
Esse ranço segue nos dias atuais, com pessoas que querem destruir esse legado, sejam elas com conhecimento musical grandioso ou não. A diferença é que dos anos 1980 para hoje se tem a internet, as redes sociais e meios fáceis de conseguir a fama e o dinheiro em cima de polêmicas ou de querer criar um personagem cheio de egocentrismo. Por conta disso, o músico fez essa canção, “Toxina”, como forma de abordar as críticas ao seu trabalho ao longo dos anos, rejeitando a toxicidade da negatividade e destacando a importância de rejeitar o ódio, a maldade e polêmicas sem fundamentos. O som desta faixa lembra a formação clássica dos Engenheiros do Hawaii, que tinha Augusto Licks e Carlos Maltz com o Humberto Gessinger. Esse som é feito com uma roupagem atualizada e uma energia frenética.
"Começaria Tudo Outra Vez” foi lançada originalmente em 2021, em duo com a talentosa cantora mineira Roberta Campos, para o disco dela “O Amor Liberta”, que também foi lançado no mesmo ano. O dueto chama a atenção por suas sutilezas singelas, delicadezas e sincronias. Se tivesse sido lançada em formato de videoclipe no auge da antiga MTV Brasil, teria provocado muitas lágrimas de emoção. Essa regravação é uma versão solo que prende o ouvido por sua beleza sonora e tem um tom de voz bem intimista.
Por falar em dueto, o álbum possui um para chamar de seu, que é na faixa “A.E.I.O.U”, feito com Duca Leindecker da banda gaúcha Cidadão Quem. Ela evoca uma sensação de nostalgia do tempo do Pouca Vogal e é uma das canções mais memoráveis do álbum. "Mais Que Sombras" reflete sobre a solidão na era moderna com um toque intimista que é acentuado pelo uso do acordeon. "No Delta dos Rios" combina elementos do eletroacústico com camadas que se referem ao futebol e à sociedade, resultando em uma faixa repleta de esperança.
"Quatro Cantos de um Mundo Redondo" pode não atingir o mesmo patamar de obras icônicas como "A Revolta dos Dândis", “O Papa É Pop”, “Várias Variáveis” ou "Ouça o que Eu Digo: Não Ouça Ninguém", mas mantém um nível de qualidade que o coloca acima de trabalhos como "Insular" e coloca no patamar bom que é equivalente ao “Não Vejo a Hora”.
O álbum mostra a habilidade de Gessinger de compor músicas memoráveis que ressoam com seu público, independentemente de quaisquer referências extravagantes. Sua música permanece arraigada no imaginário popular, graças às suas letras habilmente compostas e interpretadas. Gessinger é um artista que atravessa gerações, levando sua mensagem com fluidez e impacto.
Quatro Cantos de um Mundo Redondo
Humberto Gessinger
Lançamento: 26 de setembro de 2023
Gênero: Rock
Ouça: "Toxina", "Fevereiro 13", "Começaria Tudo Outra Vez"
Humor: Poético, sensitivo, observador
Para quem curte: Belchior, Engenheiros do Hawaii, Cidadão Quem
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