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'Fossora' carrega nuances pesadas, entretanto, Björk não abandona a esperança

Atualizado: 2 de out. de 2022

Um disco produzido durante um período de isolamento e luto, uma jornada de força, inovação e emoções

CRÉDITO: Björk/Still

A vida muitas vezes pode ser dura e perversa, em muitos momentos podemos nos encontrar em uma enorme montanha-russa — tudo que sobe deve descer, mas talvez você não precise cultuar a queda. Com ‘Utopia’ de 2017, Björk, mergulhou plenamente nas ondas abundantes do otimismo, ativismo, flautas e canto dos pássaros; suas camadas estavam todas envoltas de luzes.

 


 

Em seu décimo disco, ‘Fossora’ (lançado em 30 de setembro), a cantora embarcou em uma atmosfera árida e sombria: pandemia, isolamento e a morte de sua mãe, detalhes que construíram uma reação profunda, ancorando-se na família, na pátria e no corpo. O mundo atmosférico de ‘Fossora’ é mais denso, forte e pesado: as batidas ligeiras do duo indonésio Gabber Modus Operandi são fundidas com o Techno tectônico de Björk, que ganham novas nuances com os enfeitados clarinetes baixos, cortesia do sexteto islandês Murmuri.


Na verdade, há um poço sem fundo alimentando cada faixa de ‘Fossora', uma nostálgica recordação das vertentes mais impetuosas do disco ‘Biophilia’ de 2011. A faixa “Trolla Gabba, por exemplo, uma canção fúnebre e fantasmagórica com mudanças de tons que ficam pulsando na alma, ruídos e sons esquisitos, hipnotizantes que parecem recriar uma cena de filme de terror, enquanto a faixa-título entrega camadas de Techno com instrumentos de sopro, com Björk celebrando o feminismo.


Um disco produzido durante um período de isolamento e luto, uma jornada de força, inovação e emoção. Um tour pela magia da vida cotidiana e dos relacionamentos.

No meio disso tudo, existe a perda a ser superada. Duas das faixas de ‘Fossora’ são dedicadas à sua mãe, Hildur Rúna Hauksdóttir, que faleceu em 2018. 'Sorrowful Soil', foi escrita durante a doença da mãe, e é descrita como um elogio: uma canção de hinário e salmo, com vozes crescentes comandadas pelo coral islandês Hamrahlíðarkórinn, uma reconfortante canção que diz assim: “Você fez o seu melhor, você fez bem,” um elogio feito de coração partido.


“Ancestress”, por sua vez, se encaixa mais como um "epitáfio”, a melódica e nostálgica música de um ritual fúnebre alternativo concretizado por símbolos, dança e muita fantasia, basta dar uma olhada no vídeo que acompanha a faixa, filmado na terra onde sua mãe costumava colher ervas. Em meio a uma percussão que evoca sutilezas e doçura, apoiadas pela voz serena de seu filho Sindri e cordas que soam sedutoras e românticas, Björk relembra os últimos momentos de sua mãe: “A máquina dela respirou a noite toda/enquanto ela descansava/Revelou sua resiliência/E então... não deu”. Há uma pausa extasiante, sua voz ressoa no espaço vazio, antes que ela seja retomada mais uma vez pela procissão de sinos e cordas. É incrivelmente bonito e poderoso.

 


 

Portanto, nem tudo nesse novo trabalho e centrado no luto, assim como revelou a cantora que ‘Fossora’ não seria um álbum sobre o luto; ‘Vulnicura’ de 2015 e até mesmo algumas faixas de ‘Utopia’ de 2017 já se ancoravam na tristeza. 'Fossora' é, em vez disso, um disco de aceitamento e processamento desses acontecimentos, pegando carona nas ideias expostas em ‘Utopia’ e testando esse progresso nas profundezas da alma. “Her Mother’s House” que encerra o disco, ela e sua filha Ísadora Bjarkardóttir Barney refletem sobre a dor e o orgulho de deixar o ninho: “Quanto mais eu te amo/ Quanto mais forte você se torna/Menos você precisa de mim.”


Em “Victimhood”, ela lamenta pelo tempo que ficou presa ao martírio após um processo de separação. A canção cresce com batidas ásperas e uma atmosfera soturna e climática. Essa ambientação pode ser sentida no álbum em si. A música termina em uma surra escrupulosa, uma quebra de resistência sensacional. É possível encontrar além da esperança restabelecida, um novo amor a ser conquistado e encontrado nas profundezas desse poço lapidado minunciosamente em ‘Fossora’, nas fanfarras suaves, entorpecidas e nas cordas distintas de canções como "Ovule" e "Freefall".

 


 

Um álbum de refúgio e de força revigorante. Daqueles discos que precisam ser ouvidos e reouvidos com total atenção, são inúmeros detalhes e sons distribuídos em 13 faixas revigorantes. Se você já ouviu canções como “Pluto” e “Mutual Core”, não ficará espantado e chocado com as nuances de ‘Fossora’.

 

Fossora

Björk


Lançamento: 30 de setembro de 2022

Gênero: Eletrônico, Experimental, Alternativo

Ouça: "Fossora", "Ancestress" e "Her Mother's House"

Humor: Excêntrico, Teatral, Ambicioso



 

NOTA DO CRÍTICO: 8,0

 

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