ElectronicMusic: a revolução eletrônica no TikTok e o império de US$ 12 bilhões que desafia o indie
- Marcello Almeida
- 23 de abr.
- 3 min de leitura
Dance music vira o jogo nas redes, nas pistas e no mercado global — e não há como fingir que não está acontecendo

A música eletrônica não apenas voltou ao centro da cultura pop: ela explodiu — e, desta vez, com força suficiente para reescrever o jogo. Pela primeira vez, os vídeos de música eletrônica ultrapassaram os de indie no TikTok, revelando não só uma mudança no gosto de uma geração hiperconectada, mas um novo posicionamento estético e comercial para a dance music no século XXI.
De acordo com dados recentes divulgados pelo The Guardian, as postagens com a hashtag #ElectronicMusic cresceram 45% em 2024. Isso depois de já terem dobrado em 2023, o que aponta para uma curva de crescimento vertiginosa — mais rápida do que qualquer outro gênero analisado, incluindo o rap e o próprio indie, que dominou os algoritmos nos últimos anos.

Techno, house, trance, EDM, bass — todos os subgêneros estão em jogo. A eletrônica não quer mais ser só uma trilha para afters ou uma estética marginal nas madrugadas underground. Ela está no topo das trending pages e nas maiores arenas do mundo. O TikTok, termômetro cultural da juventude global, confirma: a pista de dança agora é também digital.
“O TikTok mostra a comunidade que as pessoas estão tentando construir e da qual fazem parte, e a música eletrônica é, em grande parte, uma questão de comunidade”, afirmou Toyin Mustapha, chefe de parcerias da plataforma no Reino Unido e Irlanda. Ele reforça que o gênero não está apenas mais popular — está mais acessível, mais global, mais integrado à linguagem visual, rápida e colaborativa das redes. “Estamos vendo a quebra de barreiras para os artistas, e o TikTok faz parte disso.”
E os dados não param por aí. Segundo o Relatório de Negócios da Música Eletrônica 2025, publicado pelo International Music Summit, o setor movimentou impressionantes US$ 12,9 bilhões no último ano, impulsionado sobretudo pelo setor de música ao vivo — com festivais e casas noturnas atingindo níveis duas vezes maiores que o período pré-pandemia. E não é exagero: empresas como a Live Nation e a Eventim somaram, sozinhas, US$ 27 bilhões em receita. Leia aqui
Mas atenção: o crescimento não veio por milagre, nem apenas por volume de público. O relatório aponta que a alta nos preços dos ingressos foi determinante para esse salto. O público quer estar lá, mas paga caro. A experiência da pista se tornou um produto de luxo. A catarse coletiva da música eletrônica, paradoxalmente, virou mercado premium.
Enquanto isso, a música gravada e o streaming, embora ainda cresçam, mostram sinais de desaceleração: 6% em 2024 contra os 10% e 16% de 2023, respectivamente. A novidade? O Sul Global é a principal fonte de novos assinantes de plataformas — com 818 milhões de novos usuários no último ano.
No line-up dos maiores festivais do planeta, os artistas eletrônicos já representam 18% das atrações — e subindo. A dance music não é mais nicho. É potência.
No meio desse redemoinho digital e financeiro, paira uma nuvem de incerteza geopolítica: o presidente Donald Trump afirmou que o TikTok tem 75 dias para se alinhar às exigências dos EUA ou enfrentará uma proibição total no país. Um movimento que pode mexer não apenas com o mercado, mas com a própria dinâmica de ascensão cultural de gêneros como a música eletrônica.
Seja no club, no festival, no vídeo viral ou na métrica bilionária, o recado está dado: a música eletrônica não é mais só sobre beats — é sobre pertencimento, linguagem, dinheiro e futuro. O indie perdeu o posto. O novo som dominante tem drop, tem BPM e tem comunidade.
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