Duna é uma experiência única e distinta de tudo aquilo que você já viu em filmes épicos e de ficção científica. Uma obra de agraciar os olhos e os ouvidos com cenários deslumbrantes, efeitos incrivelmente trabalhados (explorados minunciosamente) e uma trilha sonora emocionante que desperta a magia do cinema em sua totalidade. A adaptação de Denis Villeneuve para as telonas do cinema circula (deslumbradamente) o fascínio de gerações por essa história que, na verdade, é uma adaptação do livro de ficção científica escrito por Frank Herbert em 1965. Após, passar às duas horas e meia de espetáculo você sai dessa (odisseia) totalmente seduzido e hipnotizado pelo brilhantismo da verdadeira arte e significado do que um filme pode representar e fica evidente, Villeneuve produziu um épico de dar inveja em outras obras do gênero. Duna contem tudo aquilo que outros filmes da sua linhagem não conseguiram alcançar. Repleto de nuances emocionais e um contexto filosófico extraído da literatura correndo em suas veias e lacunas.
O grande mérito de Villeneuve é que ele se mostra um apaixonado pelo universo de Duna e conseguiu mostrar mais do que contar o que está acontecendo, transformando uma das obras literárias mais complexas e de difícil adaptação em um filme exuberante, inteligente e emocionante. Assim como a vida, Duna não tenta se explicar e sim sentir e viver a experiência, e esse feito transforma totalmente o filme, como se você se visse na tela, inserido totalmente na história de Paul Atreides (Timothée Chalamet, de Me Chame pelo Seu Nome), um jovem afortunado, dono de um destino além da sua compreensão. Ele vai precisar viajar para o planeta mais perigoso do universo para garantir a sobrevivência do seu povo, onde aventuras e traições o aguardam.
As atuações em Duna é outro aspecto relevante, reforça a carga emocional e aventureira da trama. Rebbeca Ferguson como Jessica Atreides, mãe de Paul e Oscar Isaac como Leto Atreides, o pai, estão muito bem. A falta de vulnerabilidade e estranheza da personagem de Rebbeca, funciona positivamente na obra, Issac se encaixa muito bem como Duque Leto e sua força de caráter que o torna crível e vulnerável. Jason Momoa como Duncan está muito bem no elenco. Ele é aquele, cara que você não pode deixar de gostar.
Sublime e sedutor. Duna se torna uma experiência cinematográfica sacudida por um elenco que funciona muito bem, efeitos especiais fascinantes e uma temática profunda e emocional.
Mas todo o deslumbramento de Duna talvez não atingisse o mesmo impacto sem a trilha sonora soberba, deliciosamente sombria e assustadora de Hans Zimmer. Para se ter um bom exemplo de como a trilha sonora é memorável, a faixa final vai ficar em sua cabeça por um bom tempo. Um trabalho audacioso, repleto de referência a música do Oriente Médio, coros femininos e masculinos, percussões estranhas e camadas psicodélicas. Definitivamente uma das suas trilhas sonoras mais experimentais. Vale a pena procurar em um streaming de sua preferência e ouvir independente da superabundante experiência que você teve em uma sala de cinema ou na TV da sua casa.
Quando disse que Denis Villeneuve mais mostra do que conta o que está acontecendo, a fotografia do filme é uma das responsáveis por esse acerto. Ela mostra a beleza e a feiura dos personagens em tela e destaca muito bem as areias dos desertos de Duna, com tomadas incrivelmente encantadoras e visuais. Outro detalhe curioso e notável é que ela muda e se adapta as emoções dos personagens: tristeza, raiva, arrependimento, maldade-tudo se entrelaça para realçar as emoções e torna a exposição reflexiva e discutível.
O filme pode muito bem ser definido como uma analise inspiradora e sensorial de Denis Villeneuve. Sempre existe uma grande expectativa em volta de uma produção que se torna febril, e muitas vezes ela é frustrante e decepcionante. Duna que foi tão esperado, acredito ter quebrado essa expectativa. O longa possui bem mais acertos do que erros. E no geral agrada, comove e emociona. Duna ganha cada minuto do seu tempo, cada cena, cada plano, cada linha de diálogo tem um propósito. Um filme de grande alcance e que inspira admiração.
Duna de Denis Villeneuve é um marco no cinema épico e de ficção cientifica. Um filme humano e miraculoso ao mesmo tempo que expande os processos criativos do diretor desde Blade Runner 2049 de 2017 e A Chegada de 2016. Uma obra notável, respeitável e luminosa de um diretor excepcional. Se de fato ele conseguir manter o nível de qualidade para a sequência, então podemos afirmar que teremos uma nova obra de ficção científica no universo cinematográfico e da cultura pop, será que seria pedir muito?
Ficha Técnica: Duna
Ano: 2021
País: EUA
Classificação: 14 anos
Duração: 155 min
Direção: Denis Villeneuve
Gênero: Ficção Científica, Aventura
Roteiro: Jon Spaihts, Eric Roth, Denis Villeneuve
Elenco: Zendaya, Javier Bardem, Oscar Isaac, Timothee Chalamet, Rebecca Ferguson, Josh Brolin
Onde ver: HBO Max
Assista o trailer do filme abaixo:
Sobre Marcello Almeida
É editor e criador do Teoria Cultural.
Pai da Gabriela, Técnico em Radiologia, flamenguista, amante de filmes de terror. Adora bandas como: Radiohead, Teenage Fanclub e Jesus And Mary Chain. Nas horas vagas, gosta de divagar histórias sobre: música, cinema e literatura. marce.almeidasilvaa@gmail.com
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