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Dois Verões coloca personagens em conflito emocional e sob pressão, numa trama situada entre passado e presente

Trabalhando bastante com a psicologia de seus personagens, a ideia aqui é aumentar a tensão dos episódios.

Imagem: Netflix


Tratar de temas como o estupro e o abuso sexual no Cinema nem sempre é algo fácil e que consegue representar um problema tão gigantesco e de proporções traumáticas. Embora muitas vezes isso alavanque polêmicas e controvérsias e não chegue tão bem recepcionado pelo espectador, é um tema sim que deve ser discutido, precisa servir para dar uma cutucada em nossa sociedade.

 

Alguns filmes conseguiram passar isso bem com uma trama sólida e por um bom tempo repercutiram na época de seus lançamentos. Poderíamos citar alguns exemplos como ‘Os Acusados’ (1988) e ‘Sleepers – A Vingança Adormecida’ (1996). Muitas vezes mostrando os efeitos violentos que um próprio estupro pode causar, alguns chegam de forma contundente, não sendo indicado para algumas pessoas sensíveis como é o caso de ‘Irreversível’ (2003).

 

Dois Verões (Twee Zomers, 2022) é uma série belga que explora essa temática. Presente no catálogo da Netflix, a produção tem 6 episódios e, por enquanto, conta apenas com 1 temporada.

 


Um grupo de amigos resolve se reunir após 30 anos. Para isso, são convidados a passar alguns dias de férias numa paradisíaca e isolada ilha em Cote D’Azur, na França. Na ilha, o grupo é recebido pelo casal Peter Van Gael (Tom Vermeir) e por sua esposa Romée Tanesy (An Miller) que aproveita a reunião para comemorar seu aniversário de 50 anos.




 

Entretanto, um evento ocorrido com os amigos em 1992 retorna para assombrá-los durante a reunião. Peter é chantageado a pagar uma quantia considerável, pois uma filmagem das festas de sua juventude com os amigos surge em seu celular. Esse vídeo entrega um acontecimento catastrófico do qual Peter não desejava querer lembrar.

 

A princípio, ele guarda segredos, mas em seguida resolve contar a alguns dos amigos sobre o vídeo. Também começa a cogitar que o chantageador pode ser alguém que está na ilha. Claro que a partir desse vídeo, a situação entre os convidados muda com verdades nuas e cruas que passam a ser reveladas e pelo atrito entre os amigos que ganha forças.

 

A trama se intercala entre dois planos espaço-temporais. No passado, vemos um grupo descontraído de jovens cujas reuniões são feitas numa mansão luxuosa com abundância de festas, bebedeiras, brincadeiras e flertes. No presente, o grupo agora se reúne e os problemas são outros: a crise da meia-idade, manter as aparências e os status financeiro, ter estabilidade no casamento.

 

Claro que com o vídeo circulando, as coisas se complicam mais. Cenas do passado vão se juntando explicando a sucessão de fatos que levaram aos acontecimentos e que agora chegam mais dolorosos e cruéis para os amigos.



 

Trabalhando bastante com a psicologia de seus personagens, a ideia aqui é aumentar a tensão dos episódios com traumas, remorsos, culpas e dilemas morais que aumentam conforme o tempo de Peter vai se esgotando.



Sem apelar para a violência extrema ou para a banalização do trágico evento, importante é destacar como cada integrante do grupo assimila as mudanças que o vídeo pode ocasionar. Os diretores conseguiram passar um equilíbrio em todos os personagens da série, muitos deles ganhando mais construção e detalhes conforme o final se aproxima.

 

Embora exista uma bronca a respeito da caracterização de alguns personagens no presente (que parecem ter mais de 60 anos, e não 50), é preciso ressaltar a importância da ambientação. Cercada pela natureza e por uma arquitetura imponente, a ilha confere uma ideia de isolamento, distanciamento e sensação de sufocamento, sobretudo com os eventos do passado voltando à memória dos personagens.

Ao mostrar outros lugares da ilha, existe sempre uma ideia de que a harmonia do local está prestes a ruir (exemplo é quando um dos convidados encontra um rifle para atirar em pratos de barro). Mesmo num tranquilo café da manhã ou num refrescante banho de piscina, o espectador sente que algo está para explodir, mas não sabe o momento certo e como isso acontecerá.  



Dois Verões por vezes pode apresentar uma narrativa meio lenta, mas é uma série ideal para quem presta atenção nos diálogos e nas transições da narrativa que se molda entre passado e presente. Problema que ao se aproximar do final, a série perde um pouco seu impacto, talvez depois que os segredos e verdades são revelados. Apesar disso, a trama ainda esconde seus trunfos e deixa aquela brecha para uma segunda temporada.


 

Dois verões


Gênero: Suspense, drama, psicológico

Criação: Paul Baeten Gronda, Tom Lenaerts

Direção: Tom Lenaerts, Brecht Vanhoenacker

Elenco: An Miller, Marieke Anthoni, Tom Vermeir, Lukas Bulteel, Herwing Ilegems

Onde Assistir: Netflix


 

Nota do crítico: 7,0

 

Trailer:



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