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Coldplay e a geração que cresceu debaixo de 'Parachutes': lá se vão 25 anos

A luz amarela que nunca se apaga

Imagem: Reprodução
Imagem: Reprodução

Existem discos que nunca envelhecem, que continuam dialogando com o ouvinte, acompanhando você pelas lacunas de espaço e tempo. E ainda soam tão atuais, verdadeiros e honestos. Sim, todo esse blá-blá-blá aqui é pra chegar em uma obra específica.



Era o ano de 2000. O mundo ainda respirava, tentando entender o que vinha pela frente — os escombros do fim do milênio. Foi nesse emaranhado de acontecimentos que o Coldplay lançou Parachutes — um disco que, sem saber, já carregava dentro de si o peso de um novo século. Não foi apenas a estreia de uma banda. Foi o nascimento de um sentimento, um brilho, uma chama que ainda permanece acesa quando olho para esse álbum.


Naquela virada de época, o cenário da música alternativa vivia entre os ruídos do britpop, que já começava a murchar, e o estouro do new metal, que soava como uma catarse. Em meio a isso tudo, surgem quatro jovens britânicos, até então desconhecidos do mundo: Chris Martin (voz e piano), Jonny Buckland (guitarra), Guy Berryman (baixo) e Will Champion (bateria), com seu tímido álbum de estreia, Parachutes. Tímido como Chris cantando “Look at the stars, look how they shine for you” com um tremor na voz que não parecia pose. Era verdadeiro. Era vulnerável. Era… diferente.


Uma herença do Radiohead e a sede de algo novo


Simplesmente não tem como olhar para essa obra melancólica sem olhar para trás. O Coldplay não surgiu do nada. Eles beberam dos copos fundos de The Bends e OK Computer, da angústia sofisticada de Thom Yorke e sua trupe, mas escolheram um caminho menos distópico. Parachutes é filho do pós-britpop, mas neto bastardo da MPB do coração — se a gente prestar atenção, o violão de “Shiver” quase lembra um Milton Nascimento anglófilo em crise existencial.


E, ainda assim, ali havia algo genuinamente deles: um desejo de conexão. Um chamado silencioso àqueles que estavam crescendo, amadurecendo, descobrindo o amor, o medo, o vazio. Parachutes entregava isso tudo — sentimentos à flor da pele, dúvidas, incertezas e toda aquela ansiedade pelo mundo que batia à porta.



"Yellow" como farol, "Trouble" como espelho, talvez


“Yellow” virou hino não porque era genialmente composta (embora seja), mas porque era pura. Simples como um bilhete escrito à mão. Era a música que tocava em festas de escola enquanto adolescentes se olhavam de longe, inventando histórias de amor em silêncio. Aquela guitarra em loop, a batida seca, o vocal que implodia aos poucos… era como se alguém dissesse: “Eu tô aqui, também sinto isso.”


E então veio “Trouble”: piano e silêncio. Uma canção de culpa, de remorso, de amor partido — cantada como quem pede desculpas de joelhos. É quase um mantra para quem ama errado, mas ama com tudo. Assim como “Shiver” deixa, nas entrelinhas, um personagem que ama mais do que deveria, ansioso e afoito para viver tudo que há para viver. A pressa pelo amanhã, hoje querendo voltar para a lentidão do ontem.


Falar o que de “Don’t Panic”, que abre o disco parecendo aquela carta esquecida em uma mesa, nunca enviada? Soa frágil, mas com um frescor otimista inspirador. “Sparks” é feita de luz baixa, como se fosse tocada no canto de um quarto às 3h da manhã. E “Everything’s Not Lost” fecha o disco como um sussurro de esperança num mundo que ainda vai doer muito. É como se essa canção já soubesse dos rumos desenfreados da modernidade e dos avanços acelerados, da falta de tempo, das bolhas se criando… E agora, só queremos voltar, nem que seja por alguns instantes, para dentro dessa melodia, dessa batida, desses versos cantados sem pressa.



O tempo como aliado


O mais impressionante de Parachutes é que ele não envelhece. Ele amadurece. O que antes era trilha de amores adolescentes vira, depois dos 30, companhia em divórcios, despedidas, noites em claro. Aquelas letras simples, quase banais, ganham novas camadas com o tempo. Como vinho barato que, sem querer, virou clássico.


Coldplay seria engolido pelo próprio sucesso nos anos seguintes — os estádios, os lasers, os duetos pop, os looks coloridos. Mas ali, em 2000, eles eram só quatro garotos tentando se entender no mundo. E Parachutes era seu diário mais íntimo.


Esse disco foi, pra muita gente, o primeiro contato com uma nova ideia de tristeza — não a tristeza autodestrutiva do grunge, nem a frieza intelectualizada do indie. Era uma tristeza leve, cotidiana, quase bonita. O tipo de melancolia que cabia num ônibus escolar, num fim de tarde chuvoso, num primeiro fora.


Foi o início de uma conversa mundial sobre sentimentos em voz baixa. Uma ponte entre o fim da geração X e o início da geração Y. Entre o analógico e o digital. Entre a carta escrita à mão e o SMS.


E mesmo que o Coldplay de hoje tenha virado outra coisa — e tudo bem que tenha virado — Parachutes permanece como um relicário. Um disco feito de alma, violões, silêncio e luz amarela. Uma cápsula de emoção que continua pulsando, vinte e cinco anos depois.


Porque, no fim, o que mais queremos é isso:

Que alguém olhe pra nós como Chris Martin olhou pro céu e disse — “they were all yellow”.

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Uma estrela lá no céu
Apr 23

Quantas histórias e momentos. Aquela risada gostosa…

Lembro de um dia na faculdade, eu sempre com meu walkman, inseparável. Não tinha toda essa tecnologia de hoje.


Mas, naquele dia, quando abro meu caderno… lá estava. Um CD.

Músicas gravadas. Uma careta desenhada.

“Yellow” era a primeira faixa.


Tenho ele até hoje.💓💓

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