Após um período de nove anos sem lançar um disco de inéditas, Caetano Veloso decidiu quebrar o hiato em grande estilo com o disco 'Meu Coco' sucessor do excelente 'Abraçaço' de 2012.
O disco é composto por uma seleção de doze canções, entre o repertório estão as faixas "Noite de Cristal" e "Pardo" Respectivamente interpretadas por Maria Bethânia e Céu. Sem mencionar "Autoacalanto" que foi apresentada pelo próprio Caetano Veloso em uma live realizada em dezembro de 2020. "Anjos Tronchos" nos foi apresentada como single em setembro, antecedendo o lançamento do álbum.
'Meu Coco' é o primeiro disco do músico gravado pela Sony Music, após ter gravado por muitos anos pela Universal Music. Um álbum Acolhedor, com camadas de ecletismo musical, dotado de um viés político e poético. 'Meu Coco' soa visceral e sensacional. Se me permitem as divagações são apenas alguns dos adjetivos que senti ao ouvir o álbum. Enquanto me maravilho com as faixas do disco penso nas inúmeras sensações e sentimentos aguçados por essa obra sinfônica da MPB. São detalhes interessantes que fazem de 'Meu Coco' um disco emblemático e marcante na carreira de Caetano.
Com várias referências culturais, e citações de Duda Beat, Anavitória, Marília Mendonça, Simone e Simaria, Baco Exu do Blues e outros músicos da nova geração da música brasileira. Caetano reserva um espaço para referenciar artistas do seu meio cultural como uma bela fonte inspiradora para exalar o eu lírico como Chico Buarque, João Gilberto, Noel Rosa e Tom Jobim. Sem se esquecer dos saudosos, Milton Nascimento, Pixinguinha e Jorge Ben Jor. São referências emanadas em cada verso e melodia em "Meu Coco".
Cada faixa do disco nos apresenta um gênero musical, onde podemos citar o samba dançante na faixa "Samba Não Dá" que conta com a participação especial do irreverente músico Pretinho da Serrinha, em "Você-Você" me deparei com belo fado(música folclórica portuguesa) cercada por lindos acordes de violões e uma ilustre participação da belíssima cantora portuguesa Carminha. Em "Enzo Gabriel" temos um forró politizado, e de cara o disco te direciona para um axé pop em "Meu Coco", uma pitada de rap em "Não Vou Deixar", e um som estrondoso de percussões como se fosse afrobeat em "GilGal" , "Anjos Tronchos" desagua de vez em um rock potente e estonteante.
Caetano Veloso pode não ter mais a banda Cê do seu lado como foi feito nas gravações dos ótimos álbuns "Cê" de 2006, "Zii e Zie" de 2009 e "Abraçaço" de 2012, (a banda Cê era um conjunto de músicos que acompanhava Caetano nesse período). Mas, ele está muito bem acompanhado em 'Meu Coco' por lendários musicos como Márcio Vitor, Vinicius Cantuária, Marcelo Costa e uma participação mais do que especial dos filhos.
Em relação ao contexto das letras, a riqueza cultural é aumentada e explorada em temas bem relevantes e atuais como redes sociais, críticas ao autoritarismo e ao fascismo, isso tudo diluido ao amor de avô e neto, e aquele amor carnal que move pitacos nos corações apaixonados.
"Meu Coco" de Caetano Veloso é um disco que está à altura da excelente discografia do músico e ele entra para uma novena a qual eu chamo de "reverência virtual contemporânea da MPB", em outras palavras, são discos recentes que mostraram para os tempos de redes sociais que a MPB ainda é extremamente relevante. Isso se iniciou em 2014, quando Luiz Melodia lançou o elogiado álbum musical 'Zerima', e passou depois pelos álbuns musicais "O Grande Encontro 20 Anos" de Elba Ramalho, Geraldo Azevedo e Alceu Valença; "Caravanas" de Chico Buarque; "OK OK OK" de Gilberto Gil; "Pele do Futuro" de Gal Costa; "Planeta Fome" de Elza Soares e "Margem" de Adriana Calcanhotto. E se encerrou em 2021 com "Portas" de Marisa Monte e "Meu Coco" de Caetano Veloso. Será?
Ambos os álbuns musicais citados possuem um som moderno com linguagem atual que caracteriza e demonstra que os "medalhões" da MPB estão firmes e fortes propagando sua poesia e música com a sutil mensagem de que a MPB mesmo que esteja consagrada em um gênero, ela se renova, se reinventa e se atualiza, sem deixar suas referências de lado e "Meu Coco" faz tudo isso e muito mais com sua sonoridade e seu rico conteúdo, embasado no eu lírico. "Meu Coco" escancara um Caetano intelectual vivenciando os degraus de uma mente inquieta que vem conquistando fãs ao longo dos anos sem perder as estribeiras em um mundo denominado tecnológico e de redes sociais.
"Meu Coco" me fez lembrar o álbum "Tropicália 2" de 1993 que é um ótimo disco em parceria com Gilberto Gil. Ele foi o primeiro álbum musical que eu ouvi do Caetano Veloso e eu fiquei impactado sonoramente por ele, da mesma forma que fiquei agora com "Meu Coco" pelo seu conteúdo eclético e politizado.
Artista: Caetano Veloso
Álbum: Meu Coco.
Gênero musical: MPB(Música Popular Brasileira).
Ano de lançamento: 2021.
Ouça: "Anjos Tronchos", "Você Você" e "Meu Coco"
Comments