Boas atuações, mistérios e com muitas brechas para teorias, Yellowjackets merece uma conferida.
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Boas atuações, mistérios e com muitas brechas para teorias, Yellowjackets merece uma conferida.



ATENÇÃO: O texto cita a primeira temporada da série e é livre de spoilers.


O Senhor Das Moscas (Lord Of The Flies) é um importante romance de William Golding escrito em 1954. No livro, acompanhamos a história de garotos britânicos que, ao ficarem perdidos numa ilha desabitada, tentam criar uma espécie de autogoverno, porém nem tudo sai conforme planejado. Yellowjackets, série da rede de canais Showtime, é bem inspirada pelo clássico livro de Golding, conforme os próprios criadores Ashley Lyle e Bart Nickerson deixaram bem claro em algumas entrevistas.


Nos anos 90, um time de jogadoras de futebol vai participar de um campeonato nacional, entretanto o avião em que estavam sofre um acidente e cai numa floresta canadense desabitada. Com perdas, destroços do avião e sem esperança de socorro, os sobreviventes precisam se reunir, dividir tarefas e encontrar recursos para se alimentarem ou abrigarem.


Acontece que Yellowjackets vai se dividir em dois períodos: o do acidente com o time de futebol e o tempo atual, quase 30 anos depois, com alguns sobreviventes que conseguiram fugir da floresta e que hoje seguem com suas vidas tentando se desligar desse fato trágico do passado. Se intercalando entre esses dois cenários temporais, a série apresenta uma narrativa convidativa e repleta de mistérios que, de uma forma criativa e nunca repetitiva, não se resolve tão facilmente. Como uma espécie de jogo, faz o espectador especular diversas teorias.


É fácil se identificar com as personagens. Desvendar cada episódio e ser tomado de surpresa, ao mesmo tempo cair num processo de decifrar qual o destino que os sobreviventes tiveram deixa o espectador absorto e curioso. Sem ideia definida de heroísmo ou de vilania, assistir cada episódio sustenta argumentações que podem até mesmo nos enganar ou então, que servem apenas para puxar cliffhangers e deixar tudo mais curioso e enigmático.

A escolha do elenco se encaixa muito bem para o propósito da série e é um dos motivos da narrativa receber cada vez mais atenção. É muito bom quando os personagens, tanto em suas versões juvenis como adultas, se aproximam e garantem um magnetismo entre o passado e o presente. O espectador se aproxima e vai sendo um cúmplice do sofrimento das garotas e entendendo ações que trazem o trauma, a dor e a desilusão de um sonho perdido.


Outro bônus da série é trazer atrizes que até então estavam um pouco fora dos holofotes do cinema. Christina Ricci (Mysty adulta) e Juliette Lewis (Natalie adulta) que fizeram muito sucesso nos 90’s com filmes inesquecíveis, novamente brilham em boas atuações representando personagens bem construídas para a série. E por falar nos 90’s, existe todo um carinho e capricho ao retratar essa década no seriado (no tempo da queda do avião). Figurino, costumes, o próprio jeito de fazer cinema da época, tudo vai ganhando representação na narrativa. A trilha sonora também trazem músicas de sucesso daquela década como ‘Down By The Water’ (Pj Harvey), ‘Glory Box’ (Portishead), ‘Ready To Go’ (Republica), ‘Munick’ (Editors), ‘Today’ (Smashing Pumpkins), entre outras.


Yellowjackets também tem a digna característica de não ter um gênero único ou pré-definido. Tudo se entrecruza. Ao pegar o cenário da floresta, a série toma emprestada desde elementos do gore (com o impacto de algumas mortes após o acidente) até elementos sobrenaturais do terror (quando podemos pensar na possibilidade de algo escondido na floresta, á espreita da fragilidade da equipe de futebol).

Além disso, o drama, a questão da sobrevivência, o despertar da sexualidade, relacionamentos familiares e suas complicações garantem a carga dramática necessária e bem aplicada conforme o desenrolar dos episódios e o conhecimento maior sobre cada personagem.

A narrativa flui em equilíbrio e consegue sintonizar as duas épocas. A curiosidade fica por conta dos eventos que ocorrem na floresta com o passar dos dias e a fome minando os personagens. Como se salvaram? Quais outros personagens que se salvaram? Realmente existia um espírito ou força maior naquela floresta? Da mesma forma e também cercada de enigmas, a fase adulta dos personagens, além de contar com o trauma que sofreram na adolescência, também será protagonizada por chantagens, assassinatos, traições, pessoas misteriosas e repórteres atrás das sobreviventes.


Muitos internautas pensaram numa série padronizada ou bem influenciada em LOST. Sim, Yellowjackets traz muitas reminiscências da série de J.J. Abrams e Damon Lindelof. Sobreviver depois de um impacto da queda de um avião. O cuidado para explicar a história e o passado de cada personagem. Inúmeros flashbacks. Alguns mistérios que surgem conforme o lugar é desbravado.


Todavia, a série da Showtime merece ocupar seu espaço e receber seu valor. Deve ser lembrada como uma série dentro de suas características próprias. Sobretudo porque tem algo mais para mostrar nas próximas temporadas e nem tudo está respondido. Cada episódio traz mais reflexão sobre o que aconteceu e quem realmente conseguiu escapar da floresta, a peça do quebra-cabeça pode se juntar ou então, outra pergunta pode surgir. E parece que Yellowjackets segue por um lado mais realista, um viés mais humano, seu toque sensível de abraçar o presente em prol de um passado conturbado. Assim o espectador faz suas apostas para a série.

 

Ficha Técnica:

YELLOWJACKETS

Temporada: 1

Ano de produção: 2021

Direção: Ashley Lyle e Bart Nickerson

Gênero: Drama, Suspense, Thriller e Terror

País de Origem: EUA

Elenco: Juliette Lewis, Tawny Cypress e Melanie Lynskey

onde ver: Paramount Plus

Nota: 8,5

 

Veja o trailer abaixo:



 

Ouça a trilha sonora no Spotify:





















 

Sobre Eduardo Salvalaio

Um cara da área Civil mas que nos momentos de folga tem um tempo para a escrita. Fã da arte de um modo geral, acha que com ela podemos tirar um pouco os dissabores da vida. Livros, discos, filmes, jogos: um arsenal do qual não abre mão.

 

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