Bilionário e herdeiro de banqueiros, Walter Salles defende taxação dos super-ricos em cerimônia no Rio
- Marcello Almeida
- 10 de jul.
- 2 min de leitura
Discurso do cineasta durante o Prêmio Faz Diferença movimenta o debate sobre justiça tributária e expõe o contraste entre poder político e vontade popular

Na última terça-feira (8), o cineasta Walter Salles usou o palco do Teatro Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, para fazer mais do que agradecer uma homenagem. Ao ser reconhecido como Personalidade do Ano no Prêmio Faz Diferença, ao lado de Fernanda Torres, o diretor de Ainda Estou Aqui — vencedor do Oscar — defendeu abertamente a reforma tributária em tramitação no Congresso Nacional, que visa taxar os super-ricos, bancos e plataformas de apostas.
O posicionamento causou impacto imediato. Não apenas pelo conteúdo, mas por quem falou. Salles é herdeiro direto do clã fundado por Olavo Setúbal — ou seja, neto do fundador do que hoje é o Itaú Unibanco — e figura na lista da Forbes 2025 como o 12º homem mais rico do Brasil, com uma fortuna estimada em US$ 4,5 bilhões (R$ 25,97 bilhões).
Mesmo assim — ou talvez por isso — o diretor usou o momento para fazer um contraponto direto ao sistema:
“É importante, hoje, na construção de um país mais justo e igualitário, corrigir as distorções de um sistema que, como a gente sabe, cobra mais de quem tem menos. Então, eu queria deixar aqui todo o meu apoio à tributação progressiva, todo o meu apoio à taxação das grandes fortunas e à democracia com justiça tributária.”
A fala viralizou nas redes sociais e acendeu ainda mais os ânimos em meio à tensão política entre Executivo e Legislativo. No mesmo dia, o Congresso vetou o aumento do IOF — medida defendida por Lula para ampliar a arrecadação em 2025 — ao mesmo tempo em que aprovou o aumento do número de cadeiras na Câmara dos Deputados: de 513 para 531.
A contradição não passou despercebida pelo público. A hashtag #CongressoInimigoDoPovo voltou aos trending topics, com milhares de brasileiros expressando frustração diante de decisões que parecem favorecer interesses internos, enquanto pautas populares — como a justiça fiscal — seguem travadas.
Lula já anunciou que deve vetar o projeto que amplia a Câmara. Mas o impasse revela um racha evidente: de um lado, a tentativa do Executivo de ajustar a balança tributária; do outro, um Congresso que resiste, mesmo diante da pressão popular.
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