‘BENT – O Canto Preso’ retorna a SP com direção de Sandro Borelli
- Poliana Piteri
- 10 de out.
- 2 min de leitura
Há dores que o corpo não esquece, ele dança para continuar existindo

Mais de duas décadas depois de sua estreia, o espetáculo de dança BENT – O Canto Preso, da Cia. Carne Agonizante, volta a São Paulo para reabrir feridas históricas e discutir o que o silêncio tentou apagar.
Inspirada na peça teatral Bent, do dramaturgo britânico Martin Sherman, a obra dirigida por Sandro Borelli narra a história de um homossexual preso e enviado a um campo de concentração nazista, que se disfarça de judeu para tentar sobreviver.
Entre a brutalidade e o amor, BENT revela um dos capítulos menos explorados do horror nazista: o extermínio de pessoas LGBTQIA+, obrigadas a portar o triângulo rosa nas roupas e tratadas com ainda mais violência pelos guardas e pelos próprios prisioneiros.
É nesse cenário de escuridão que nasce um amor impossível — e uma dança que é, ao mesmo tempo, resistência e agonia.
Na montagem original de 1999, Borelli recebeu o prêmio da APCA como melhor intérprete, e o espetáculo se tornou uma referência na dança contemporânea brasileira pela intensidade física e pela visceralidade de sua abordagem.
Agora, o coreógrafo revisita sua criação com um olhar atualizado, inserindo os dois personagens masculinos em um contexto atual, e introduzindo duas figuras femininas que não existiam na trama original, presenças simbólicas que transcendem o masculino e ampliam a discussão sobre liberdade, território e opressão.
“As pessoas sabiam como o III Reich tratava os judeus, os ciganos e os presos políticos, mas muito pouco foi revelado sobre o tratamento dado aos homossexuais. Eles foram internados em campos de trabalho e continuaram a ser presos mesmo após a queda do Reich.
(…) Eu sei que Sandro Borelli tem um entendimento profundo e apaixonado pela minha peça e estou feliz que ele a recrie dentro do seu próprio vocabulário”, disse Martin Sherman, em entrevista de 1999.
Com intérpretes Renata Aspesi, Patricia Pina, Francisco Modesto Neto, Rafael Carrion e Pietro Morgado, trilha sonora de Sérgio Zurawski e iluminação do próprio Borelli, a obra retorna com a mesma força de seu tempo: física, política e emocionalmente devastadora.
Criada em 1997, a Cia. Carne Agonizante carrega no nome e na estética a própria essência de seu trabalho, um corpo contraditório, frágil e atormentado que se move entre o poder e a vulnerabilidade. Ao longo de 27 peças, o grupo consolidou uma linguagem cênica própria, marcada por gestos de denúncia, erotismo e poesia.
BENT – O Canto Preso volta para lembrar que o corpo é o último lugar onde a liberdade resiste, mesmo quando tudo ao redor tenta apagá-la.
Ficha Técnica
Direção Geral e Artística: Sandro Borelli.
Intérpretes: Renata Aspesi, Patricia Pina, Francisco
Modesto Neto, Rafael Carrion e Pietro Morgado.
Trilha Sonora: Sérgio Zurawski.
Figurino: Companhia.
Desenho de Luz: Sandro Borelli.
Direção de Produção: Solange Borelli – RADAR CULTURAL - Gestão e Projetos.
Apoio: Espaço de Arte Kasulo.















Comentários