Bela é um conto de fadas islandês moderno que enfatiza o poder do amor
- Eduardo Salvalaio

- 8 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 8 de jul.
O amor que tem o mesmo poder de curar e de transformar, que exige alguns sacrifícios, que nunca cai em desuso e que sempre tem seu lugar no cinema

ATENÇÃO: o texto contém alguns SPOILERS.
O início de Bela (Fanga, 2023) é muito contemplativo. Tendo como cenário a belíssima região costeira da Islândia, escutamos uma história sobre um príncipe que se apaixonou, mas que ao trair sua amada, recebeu uma maldição. Sendo assim, ele passou a viver recluso numa caverna, tornou-se um ser carnívoro mortal e também é obrigado a proteger uma rosa mágica.
Adiante, conhecemos Belle (Berta Andrea Snædal), uma linda camponesa que vive junto do pai que se encontra adoentado. Infelizmente, para Belle, só existe uma alternativa: ir atrás da rosa mágica, cujas pétalas podem fornecer o ingrediente necessário para curar seu pai.
Ela então resolve sair sozinha em busca da flor, mas para isso precisa desafiar o temível homem amaldiçoado. Após obter êxito, é alertada por uma feiticeira que seu pai só ficaria completamente curado caso ela decidisse passar sua vida ao lado do protetor da flor.
Com o objetivo de manter seu pai vivo, Belle precisa vencer seu medo, voltar para a gruta e ganhar a confiança do homem. Então, é a hora que o espectador se vê diante de um conto de fadas sombrio, até possível pensar numa versão islandesa de A Bela e a Fera, aqui de uma forma amadurecida e moderna.
O diretor e roteirista Max Gold (A Negociação, 2012) traz um narrativa que se encaixa em diversos gêneros: Drama, Fantasia, Terror e Romance. Logo, espere um filme que pode surpreender e que nunca entrega prontamente seu verdadeiro intuito. O filme passa a explorar mais a relação entre a mulher e o príncipe amaldiçoado.
Belle tenta encontrar uma forma de quebrar a maldição do homem, mas para isso ela precisa saber qual o feitiço que o transforma numa insaciável criatura sedenta de carne e sangue. E esse momento do filme ganha até um contorno bem humorado com a moça testando descobrir as fraquezas do nosso infeliz amaldiçoado de todas as formas (desde pedradas até queimaduras).
A paisagem islandesa, muita vezes carregada de neblina, adiciona uma atmosfera sombria. As florestas parecem ter vida, sobretudo quando a sombra das árvores tomam formas e assustam nossa protagonista (recurso que o diretor poderia ter usado mais).

Apesar de ser um filme escuro e pálido, a bela e oportunista fotografia de Nico Navia (Quatro Amigas e um Casamento, 2012) convence e cria a ambientação necessária para a jornada que envolve ambos os personagens. Interessante ver como o uso de cores e tonalidades (mesmo que de forma contraditória) em certas cenas funciona, exemplo é o vermelho vivo da rosa que se sobressai dentro da escuridão da caverna.
Mesclado de aspectos folclóricos, sobrenaturais, realistas e fantásticos, Bela foca nos dois personagens principais que, apesar de parecerem cada vez mais próximos, estão distantes de encontrar uma solução para que possam viver em paz e sem a maldição. Então, cada momento da jornada pode ser um perigo ou uma nova descoberta.
Belle voltará para seu pai? A besta conseguirá escapar da maldição? De qualquer forma, essa é mais uma produção a citar o amor como forma de superar contradições, diferenças e preconceitos. O amor que tem o mesmo poder de curar e de transformar, que exige alguns sacrifícios, que nunca cai em desuso e que sempre tem seu lugar no Cinema.
Curiosidade: Fanga é uma palavra islandesa que significa prisioneiro.
















Comentários