As joias escondidas do Post-Punk Revival: cinco discos à margem
- Marcello Almeida
- há 2 dias
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A beleza que mora nos cantos esquecidos

A história do post-punk revival não foi feita apenas pelos álbuns que ganharam capas de revista e festivais lotados. Há uma galeria secreta de obras que arderam em silêncio, discos que não se encaixaram no estrelato mas guardaram uma energia incandescente, talvez até mais genuína. Olhar para esses álbuns é resgatar uma cena viva, contraditória e sempre pulsante. Aqui estão cinco discos que ficaram à margem — e talvez seja aí que mora a sua verdadeira força.
1. The Back Room — Editors (2005)

O subterrâneo britânico em forma de hino sombrio.
Enquanto o Interpol dominava a cena com suas guitarras frias e vocais soturnos, os britânicos do Editors entregavam um debut igualmente sombrio, mas com mais urgência e fúria visceral. The Back Room é uma coleção de faixas que sangram tensão — de “Munich” à devastadora “Bullets” —, atravessadas por guitarras metálicas e a voz cavernosa de Tom Smith. Não foi celebrado como um marco, mas é um disco que traduz em carne viva a angústia urbana e o desconforto dos anos 2000.
O tempo o relegou à sombra dos “grandes nomes”, mas talvez seja aí que resida sua glória. Um disco cru, direto, sem a estética polida que o mainstream buscava, e por isso mesmo mais verdadeiro.
2. Hearts and Unicorns — Giant Drag (2005)

Quando o sarcasmo encontra a melodia quebrada.
Em meio à enxurrada de bandas britânicas, esse duo californiano passou quase despercebido. Annie Hardy, com sua ironia debochada e guitarras distorcidas, construiu em Hearts and Unicorns um álbum que mistura vulnerabilidade e sarcasmo, como se juntasse a dor do shoegaze com o humor ácido do indie garageiro.
O disco nunca conquistou grandes espaços, talvez por ser “indomesticável” demais. Mas nele há faixas como “Kevin Is Gay” e “This Isn’t It” que antecipam o espírito das bandas que viriam depois, sempre oscilando entre caos e doçura. É o tipo de obra que você descobre por acaso — e nunca mais larga.
3. Plague Park — Handsome Furs (2007)

O silêncio eletrônico de um apocalipse íntimo.
Lado paralelo de Dan Boeckner, do Wolf Parade, o Handsome Furs lançou um dos álbuns mais subestimados da década. Plague Park é um disco estranho e melancólico, onde sintetizadores ásperos colidem com guitarras sujas e letras de alienação. A sensação é de estar sempre à beira de uma explosão que nunca vem, como se o disco fosse feito de tensão suspensa.
A crítica nunca soube bem onde encaixá-lo, e por isso passou batido. Mas revisitar Plague Park hoje é perceber como ele antecipou muito do pós-punk eletrônico e minimalista que se tornaria tendência anos depois. Um álbum de atmosfera, frio e íntimo ao mesmo tempo.
4. A Certain Trigger — Maxïmo Park (2005)

Ansiedade transformada em riffs e suor.
Enquanto Franz Ferdinand e Kaiser Chiefs ganhavam rádios e multidões, o Maxïmo Park surgia com um debut incendiário que não teve a mesma sorte. A Certain Trigger é puro nervo — riffs pontiagudos, bateria ansiosa, e o vocal peculiar de Paul Smith, que oscila entre declamação e desespero. É um disco feito para corpos inquietos, quase impossível de ouvir sentado.
Apesar de indicado ao Mercury Prize, nunca teve a reverência dos contemporâneos. Mas nele existe um frescor irresistível, o retrato perfeito da juventude britânica que buscava sentido entre pubs, cigarros e noites sem fim.
5. Someone to Drive You Home — The Long Blondes (2006)

Sedução e cinismo na noite inglesa.
Entre as bandas esquecidas daquela febre dos anos 2000, os Long Blondes talvez sejam os que mais merecem resgate. Someone to Drive You Home é um álbum de glamour decadente, carregado por riffs dançantes, estética retrô e a presença magnética de Kate Jackson nos vocais. Há nele uma mistura de sedução e cinismo, como se Blondie tivesse sido reinventada no subúrbio de Sheffield.
É um disco que poderia ter se tornado ícone, mas ficou encoberto. Hoje soa como um artefato precioso, capaz de mostrar que o revival não era só revival — mas reinvenção, insolência e desejo.
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