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Hayley Williams e o mergulho sem volta de Ego Death at a Bachelorette Party

Ela morreu e renasceu diante de nós

Hayley Williams
Hayley Williams, 2025. Crédito: Zachary Gray

Hayley Williams sempre foi um corpo em combustão. Desde os 15 anos à frente do Paramore, ela se tornou a voz de uma geração que cresceu entre guitarras afiadas e inseguranças. Por duas décadas, carregou o peso de ser a “frontwoman perfeita”, sempre no limite entre vulnerabilidade e performance. Mas 2025 não pede mais perfeição — pede verdade. E Ego Death at a Bachelorette Party, seu terceiro álbum solo, é exatamente isso: um disco de confrontação, ruína e libertação.



O lançamento já nasceu como ruptura. Primeiro, vieram 17 singles soltos, quase como recados lançados ao vento; depois, a reunião em forma de álbum, com a inédita “Parachute” como fecho. Não houve estratégia convencional: foi um gesto de autonomia, reforçado pela criação do selo independente Post Atlantic, após o fim do contrato de duas décadas com a Atlantic Records. Hayley não apenas lançou novas músicas; ela inaugurou uma nova fase de si mesma.


O disco é um território movediço. Há sinais de indie pop, trip-hop, alt-rock noventista. Mas, acima de tudo, há um diário em carne viva pulsando constantemente. Em “Mirtazapine” e “Kill Me”, ela encara traumas e a exaustão de estar sempre disponível; em “Ice in My OJ”, faixa que abre o trabalho, ela transforma um simples gesto considerado banal, como colocar gelo no suco, em uma lírica metáfora para anestesiar a dor. Nada é casual: cada faixa soa como um retrato íntimo, uma tentativa de sobrevivência emocional.


Se Petals for Armor (2020) era o florescer doloroso e Flowers for Vases / Descansos (2021) soava como elegia, Ego Death at a Bachelorette Party é a implosão. Um disco irregular, fragmentado, por vezes caótico — mas justamente nesse caos encontra sua força. Hayley não está mais interessada em entregar narrativas lineares. Ela prefere abrir mão do controle, lançar as canções separadamente e deixar que os ouvintes montem suas próprias histórias.



Em meio ao caos confessional do disco, há respiros de beleza quase etérea. “Whim” é um deles. A canção parece suspensa no ar, construída sobre camadas suaves que lembram um sonho lúcido. Diferente das faixas mais densas, ela se revela como um instante de rendição serena — não menos dolorosa, mas luminosa em sua fragilidade. É como se Hayley, depois de tanto confronto interno, aceitasse que também existe delicadeza na dúvida, que nem toda resposta precisa vir marcada pelo peso do sofrimento.


A crítica especializada já aponta este como seu trabalho mais ousado. A AP News falou em um álbum feroz; a Pitchfork destacou o peso emocional de “Parachute”. E, de fato, é difícil ouvir o disco sem sentir que cada música é uma página arrancada de um diário íntimo, exposta sem retoques. É a confissão de alguém que não teme mais a falha, que transformou vulnerabilidade em gesto de força.



No fim, Ego Death at a Bachelorette Party não soa como um “disco de transição”. É antes um rito de passagem: o momento em que Williams deixa de ser apenas a líder carismática do Paramore para se afirmar como artista de corpo inteiro. Não há triunfo em cada verso, mas há coragem — a coragem de se despir dos papéis, morrer algumas vezes e continuar viva.


A festa de despedida é dela, mas o luto e a celebração são nossos.

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⭐⭐⭐⭐

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