Ana Maria Gonçalves entra para a ABL e faz história como a primeira mulher negra imortal da Academia
- Marcello Almeida
- há 4 dias
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Autora do aclamado Um defeito de cor, Gonçalves teve sua obra exaltada como um marco literário e político

A Academia Brasileira de Letras ganhou um novo capítulo nesta quinta-feira (10), e ele é histórico. A escritora mineira Ana Maria Gonçalves, de 54 anos, foi eleita para a Cadeira 33 da ABL com 30 votos, tornando-se a primeira mulher negra a integrar a instituição desde sua fundação, em 1897. Ela sucede o gramático Evanildo Bechara e carrega agora o peso simbólico — e necessário — de representar novas vozes na Casa de Machado de Assis.
Autora do aclamado Um defeito de cor, Gonçalves teve sua obra exaltada como um marco literário e político. Gilberto Gil, imortal desde 2022, celebrou a vitória:
“Isso representa que estamos vivos, permanecendo ativos nesse contexto variado de diversidades muitas e de todos os tipos: étnicas, culturais, religiosas…”, disse, definindo a literatura da autora como “de fôlego e muita potência”. Já Lilia Schwarcz, empossada em 2024, afirmou que Ana Maria “pensa o passado, interfere no presente e faz toda a diferença no futuro”.
Nascida em Ibiá (MG), Ana abandonou a carreira publicitária no início dos anos 2000 para se dedicar à escrita na Bahia. Seu primeiro livro foi publicado de forma independente, mas foi com Um defeito de cor que ela transformou o cenário literário. A obra de 951 páginas, inspirada na trajetória de Luísa Mahin, é considerada um clássico contemporâneo. A própria autora declarou:
“Essa história eu não conhecia. Foi um livro que me fez entender quem eu era como mulher negra, num país escravocrata, racista e machista.”
Vencedor do prêmio Casa de las Américas em 2007, o romance vendeu 180 mil cópias, inspirou exposição no MAR, venceu o Estandarte de Ouro como enredo da Portela em 2024 e permanece como um dos livros mais celebrados da literatura brasileira recente. A resposta do desfile — segundo Ana — foi uma carta de Luiz Gama para sua mãe, Luísa Mahin, em um poderoso gesto de reconstrução de memória coletiva:
“Foi uma grande homenagem às mães negras do Brasil. E aos filhos dessas mulheres.”
A entrada de Ana Maria Gonçalves na ABL é um marco simbólico, mas também prático: representa o Brasil que a Academia precisa refletir. Com ela, o fardão ganha mais cor, mais voz, mais verdade. Como disse o presidente da ABL, Merval Pereira:
“Queremos ser reconhecidos como uma instituição cultural que represente o Brasil e a diversidade brasileira.”
Ana, que já foi residente em universidades como Tulane, Stanford e Middlebury College, agora faz residência eterna entre os grandes nomes da nossa literatura — com a coragem de quem escreveu a própria história em voz alta.
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