Ana Frango Elétrico e seu estonteante Little Eletric Chicken Heart, um disco que você precisa ouvir.
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Ana Frango Elétrico e seu estonteante Little Eletric Chicken Heart, um disco que você precisa ouvir.



Ana Faria Fainguelert nasceu no dia 7 de dezembro de 1997, no Rio de Janeiro. Filha de uma artista plástico e uma psicóloga, começou muito cedo seu caminho pelo mundo da música. Aos seis anos fazia aulas de experimentação sonora, aos sete anos já tocava piano clássico em recitais. Aos dezesseis anos começou a compor as canções do seu primeiro trabalho, Mormaço Queima (2018). O nome Ana Frango Elétrico surgiu de uma história de família. Seu avô, na época de faculdade, foi apelidado de Frango Elétrico pelos colegas, devido à dificuldade de pronunciarem o sobrenome Fainguelert, de origem russa.


Uma jovem artista carioca de 22 anos em plena ascensão artística, Ana mostra amadurecimento artístico, delineando os caminhos da sua música embasada em influências evidentes. É impossível ouvir o álbum e não lembrar dos Novos Baianos, Mutantes e Clube da Esquina. O que soa atraente no disco é a maneira como ela consegue canalizar suas raízes e criar um som autêntico, diferente e inovador. Por que não dizer? Um tanto ousado. O resultado é uma sonoridade meio que Bossa Pop Rock decadente com várias pitadas de Punk e versos melodiosos e provocativos.


Ana entrega uma musicalidade espontânea e original em seu segundo trabalho 'Little Electric Chicken Heart'. Apesar do título em inglês, as canções são todas cantadas em português, o que traz a obra ainda mais para perto do calor e alvoroço brasileiro. O álbum foi muito bem produzido e arranjado. Contou com um conjunto de excelentes músicos adeptos da cena contemporânea como: Antônio Neves (sopros, bateria, piano e Rhodes), Guilherme Lírio (bateria, guitarra e Drum Machine) e Vovô Bebê (baixo).


O álbum abre com a bela “Saudade”, introduzindo um piano/teclado melódico que logo vai se entregando à musicalidade brasileira. A guitarra chorada, com os arranjos de metais, nos faz viajar por essa onda psicodélica de memórias que surgem. Sentimentos que só esse espírito chamado saudade pode causar. Letra e melodia deixam indícios de uma homenagem ao Samba e Bossa Nova, partindo do ponto de que Saudade é um tema muito enfatizado na música brasileira.


Promessa e Previsões” é um vício frenético e pode ser considerada uma das grandes canções do disco. Lembra muito o Pop de Rita Lee, com uma mistura Bossa Rock que pode impregnar por horas e horas a cabeça. A letra tem uma pegada forte e um tanto caótica: “Cê pode não gostar, não vou mais falar palavra. Escrita numa roupa velha. Céu azul, longe na estrada”. Ana satiriza a ideia de construção harmoniosa tradicional. Não se preocupa com a rima nos versos e deixa fluir os próprios pensamentos. "Se no Cinema" entrega uma levada Pop anos 60, ritmada nos embalos do Jazz Pop, com uma letra provocativa e ousada: “Ah, se no cinema. Se sentisse a temperatura do amor. Do casal da tela, do sexo dela. O cheiro da cor. Ah, se sentisse”.

Mostra uma compositora lírica e um tanto cínica que denúncia a superficialidade dos relacionamentos modernos em tempos de redes sociais e aplicativos de relacionamentos como Tinder e outros, onde a presença, o contato físico vão se perdendo entre likes e compartilhamentos.

Na faixa “Tem certeza?” há a invocação a sonoridade dos Mutantes. Mostra o talento de Ana como guitarrista, com um belo solo harmonioso. Mais uma vez, os acordes de guitarra, com metais e sopros se encaixam muito bem. Uma letra sarcástica que cai perfeitamente para os “nãos” da vida, que estamos acostumados a levar diariamente: “Você tem certeza que não vai me aproveitar. Você tem certeza? Que não vai me aproveitar? Posso morrer cedo ou até me matar. Taquicardia no sofá”. Uma canção doce que expõe o melhor da MPB.


Chocolate” se apresenta grudenta e mexe com as lembranças e saudades de tempos que não voltam mais. Encontrar pessoas em bancas de jornais é algo cada vez mais raro, os avanços tecnológicos vêm colocando cada vez mais em extinção. Algo perigoso, tendo em vista que a maioria dos brasileiros são avessos e não possuem o habito da leitura. A tecnologia vai tornando as pessoas cada vez mais apáticas a leitura. Junte a isso, os ataques a Cultura e a Educação, difundidos por esse (des) governo. Nosso futuro chega a ser incerto.


Em “Vinheta”, uma passagem instrumental ligeira que dá ênfase ao instrumento principal de Ana, a guitarra. E fica claro que a moça tem talento de sobra. “Torturadores” é a radiografia do Brasil, talvez a canção mais politizada do disco. Traz a reflexão sobre a propagação do ódio e violência: “Pesquisando o nome e o endereço de torturadores. Só pra contar pros netos e porteiros. Que têm todo o direito de saber”.


O encerramento é com a ótima “Caspa”, um verdadeiro Samba raiz, conduzido por uma guitarra envolvente que lembra muito Clara Nunes, e Elis Regina. 'Little Electric Chicken Heart' é uma obra autentica, original. Um disco com muito a dizer sobre o nosso Brasil. E coloca em destaque uma jovem artista, compositora com muito talento e sede em cantar e cantar, sobre as proezas e mazelas desse nosso Brasil. E pode ser considerada uma das melhores descobertas de sua geração. E você, tem certeza que não vai aproveitar esse momento para ouvir 'Little Electric Checker Heart'?


Texto originalmente publicado no site Urge! Em 12 de março de 2020. Para quem não sabe foi no Urge! Onde comecei a rabiscar minhas primeiras linhas como redator. E sou muito grato ao Luciano pelo espaço e por manter meus textos nesse grande portal da Cultura Pop. Resolvi resgatar essa resenha sobre a Ana Frango porque 'Little Electric Chicken Heart' continua bem atual para o nosso Brasil nesse final de 2021.

 

Ficha Técnica:

'Little Electric Chicken Heart'

Data de lançamento: 12 de setembro de 2019

Gênero: Rock, MPB, Bossa Nova e Jazz

Gravadora: Tratore

Ouça: "Saudade", "Tem Certeza" e "Promessas" e "Previsões"

Para quem gosta de: Antônio Neves e Amaro Freitas


 

Ouça no Spotify:


 

Veja o vídeo caseiro e psicodélico da faixa "Saudade" abaixo:


 

Sobre Marcello

É editor e criador do Teoria Cultural.

Pai da Gabriela, Técnico em Radiologia, flamenguista, amante de filmes de terror. Adora bandas como: Radiohead, Teenage Fanclub e Jesus And Mary Chain. Nas horas vagas, gosta de divagar histórias sobre: música, cinema e literatura. marce.almeidasilvaa@gmail.com

 

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