Quando a era digital devolveu o Oasis ao centro do imaginário da geração Z
- Marcello Almeida
- há 19 horas
- 3 min de leitura
É só a música encontrando quem precisava dela, de novo

Há algo curioso sobre essa volta do Oasis ao centro da cultura: ela não nasceu só dos palcos, nasceu da internet. Nos últimos anos, enquanto os irmãos Gallagher brigavam, se cutucavam e fugiam das entrevistas um do outro, um fenômeno silencioso começou a crescer no TikTok, no Reels e nos espaços digitais que movem a imaginação da Gen Z. E foi ali, nesse lugar onde memória e algoritmo se encontram, que uma nova geração descobriu a banda como se fosse algo recente, urgente, recém-nascido.
Os números mostram isso, mas a emoção explica melhor. De repente, “Wonderwall” virou trilha de edits românticos, vídeos caseiros, memórias inventadas. “Don’t Look Back in Anger” apareceu em cortes de estádio, protestos, cerimônias, um hino de cura atravessando feed.
A Gen Z, que nem era nascida no auge da banda, começou a se apropriar do repertório como se tivesse vivido 1995 no corpo. E eu sempre achei fascinante ver isso acontecer: jovens que não conhecem o britpop original, mas reconhecem o sentimento. Porque Oasis é isso — sentimento. Uma intensidade que atravessa gerações porque não depende de contexto, só de vulnerabilidade.
E aí vem a parte jornalística: os dados não mentem. “Wonderwall” ultrapassou bilhões de streams, o catálogo inteiro ganhou fôlego, hashtags sobre o Oasis explodiram no TikTok, e as plataformas registraram crescimentos de 70%, 100%, às vezes até mais, sempre que algum vídeo viral, trend ou corte de show reacendia o nome da banda. A internet transformou aquilo que era memória coletiva dos anos 90 em combustível para 2024, 2025, e agora para a volta aos palcos.
Mas, no meio desse mar de tendências, eu percebi algo que os números não captam: há um tipo de nostalgia nova surgindo. Não a nostalgia de quem viveu, mas a nostalgia de quem não viveu e gostaria de ter vivido. Esse sentimento que eu vejo no olhar da galera mais nova, nos comentários, nos DMs, nos vídeos de fãs cantando como se tivessem crescido com o “Definitely Maybe” na mochila. É como se a banda tivesse ganhado duas juventudes: a deles e a de agora.

E eu acho isso bonito, porque a era digital não só reacendeu o Oasis — ela mudou o tipo de amor que existe por eles. Tornou esse amor mais aberto, mais coletivo, menos preso à década. A internet fez o Oasis existir ao mesmo tempo como memória e descoberta, como passado e futuro. Como lenda e como trend. E, nesse híbrido estranho entre algoritmo e emoção, a banda virou uma espécie de ponto de encontro entre gerações que raramente concordam em alguma coisa.
Eu fico com a sensação de que não foi a tecnologia que trouxe o Oasis de volta. Foi a emoção. O TikTok e o Reels só amplificaram o que já existia: essa necessidade humana de cantar algo maior que a gente, de segurar um refrão como se fosse um porto seguro. Oasis sempre foi sobre isso. A internet só propagou mais rápido.
E talvez seja por isso que, quando os acordes começam hoje, seja na timeline ou no Morumbi lotado, a reação é a mesma: um tipo de catarse que não cabe em categoria, geração ou tendência. É só a música encontrando quem precisava dela, de novo.











