8 discos lançados nesta década que provam: o rock não morreu — ele só trocou de pele
- Caue Almeida
- há 1 dia
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Do barulho cru às melodias introspectivas, o rock segue encontrando novas formas de existir — e artistas que mantêm sua chama acesa

No dia seguinte ao Dia Internacional do Rock, ainda ecoa a velha pergunta: "O rock morreu?" — como se fosse possível enterrar de vez um gênero que nasceu da inquietação, sobreviveu à censura, moldou gerações e continua, discretamente, reinventando a si mesmo. A verdade é que o rock talvez tenha morrido sim… mas apenas na forma em que o conhecíamos.
Nesta década, uma nova geração de artistas tem carregado suas guitarras com outras angústias, outras visões de mundo. O grito segue o mesmo — cru, urgente —, mas agora ele encontra diferentes ritmos, sonoridades e estéticas. E, principalmente, novas formas de dizer o indizível.
Por isso, neste pós-13 de julho, escolhemos oito discos lançados nesta década que provam que o rock está longe de seu último suspiro. Eles não estão presos ao passado, mas também não rejeitam suas raízes — apenas seguem buscando novas formas de fazer barulho.
Fontaines D.C - Romance

No quarto álbum da carreira, o Fontaines D.C. dá um passo ousado sem perder a identidade. Saindo do pós-punk mais sombrio dos trabalhos anteriores, Romance aposta em nuances de dream pop, guitarras ruidosas e até elementos de pop rock, mas com a melancolia característica ainda latente.
O disco soa mais ensolarado e acessível — tanto visual quanto musicalmente — sem abrir mão da densidade emocional e das letras afiadas que marcaram a trajetória da banda irlandesa. "Favourite", "In The Modern World" e "Starburster" são destaques imediatos em um álbum que reafirma o Fontaines D.C. como um dos grupos mais consistentes e relevantes do rock alternativo contemporâneo.
The Last Dinner Party - Prelude To Ectsasy

Se você ainda não ouviu o álbum de estreia do The Last Dinner Party, essa é a sua deixa. O quinteto londrino mistura teatralidade, cabaré e rock de forma irresistível, entregando um disco que soa como a trilha sonora de um drama barroco ou um musical dos sonhos. Prelude to Ecstasy é um convite à intensidade: letras provocativas, arranjos grandiosos e uma sonoridade que evoca ABBA, Florence + The Machine e até algo de glam rock.
O mais impressionante é a coesão e maturidade de uma banda tão jovem — as faixas não vivem só de hits, mas mantêm um altíssimo nível do início ao fim. É rock com brilho nos olhos, feito com entrega, energia e estilo. Se você gosta de álbuns que têm cara de espetáculo e alma de confissão, não deixe esse passar batido.
Black Country, New Road - Ants From Up There

Entre 2021 e 2022, a cena de Brixton viveu um momento raro: bandas como black midi e Black Country, New Road disputavam, com genialidade, o título de disco do ano entre os fãs de rock experimental. E muita gente concorda que Ants From Up There levou a melhor. Menos caótico e mais melódico que o aclamado debut, o álbum é pura catarse emocional: arranjos grandiosos, letras frágeis e composições que crescem como uma onda que lembram o Arcade Fire no auge — e depois quebram sobre o ouvinte. É também um disco de despedida: lançado dias antes da saída do vocalista Isaac Wood, ele marca o fim de uma fase intensa da banda. Se você ainda não mergulhou nessa obra, talvez agora seja a hora.
Geordie Greep - The New Sound

E por falar em black midi, o fim da banda poderia ter deixado um vazio difícil de preencher, mas The New Sound, estreia solo de Geordie Greep, faz exatamente o contrário: expande ainda mais as possibilidades que o vocalista e guitarrista já sugeria na antiga banda. Misturando jazz rock, prog, latinidade, noise e lirismo teatral, o disco é caótico, engraçado, arrogante e virtuoso — tudo ao mesmo tempo.
Greep canta melhor do que nunca, alternando momentos cômicos e dolorosos com a mesma confiança de quem está criando algo novo de verdade. Se você gostava do black midi, este é o passo seguinte. Se nunca ouviu, esse é um ótimo lugar para começar.
Black Pantera - Ascenção

O trio mineiro Black Pantera retorna ainda mais afiado em Ascenção, um disco que honra a tradição do hardcore de protesto com peso, urgência e muita consciência. Com letras diretas e combativas, o álbum mistura agressividade crua com momentos de groove que lembram a força de um Rage Against the Machine.
A produção valoriza cada detalhe: a bateria é explosiva, o baixo estala com presença e a guitarra vem cortante, sem freios. Um disco necessário, com a cara e a coragem de quem não tem medo de gritar contra o sistema. Uma pedrada — e das bem miradas.
Code Orange - Underneath

Um disco que soa como um soco na cara com luva de ferro oxidada. Em Underneath, o Code Orange encontra um equilíbrio brutal entre o metalcore e o industrial, adicionando glitches, distorções e uma produção quase caótica — mas sempre controlada. As músicas são pesadas, violentas, viciantes, e exploram uma paisagem sonora quase cyberpunk, onde riffs dilacerantes convivem com batidas digitais e atmosferas sufocantes.
É um disco feio, no melhor dos sentidos: agressivo, distorcido, urgente. Ideal pra quem quer sentir a música rasgar por dentro.
Jeff Rosenstock - HELLMODE

A fúria continua viva no punk de Jeff Rosenstock, mas agora ela convive com o peso da dúvida. Em HELLMODE, o cantor canaliza uma crise existencial com letras cada vez mais íntimas e reflexivas — e um instrumental que desacelera quando necessário, só pra te atingir com mais força nos momentos de explosão.
É um disco sobre envelhecer, questionar o valor do tempo, das decisões e até da própria carreira. Mesmo assim, Jeff ainda soa esperançoso em meio ao caos: canções como “DOUBT” e “I WANNA BE WRONG” mostram como o medo pode ser combustível criativo. Um disco honesto, catártico e necessário.
Sophia Chablau e Uma Enorme Perda De Tempo - Música do Esquecimento

O segundo álbum da banda paulista Sophia Chablau e Uma Enorme Perda De Tempo, é um daqueles lançamentos raros que parecem revigorar todo um cenário. Música do Esquecimento é um disco que se inscreve no rock alternativo com fluidez e segurança, mas que se destaca pela forma como escapa do óbvio — mesmo quando parece seguir por ele.
A produção minuciosa dá brilho ao minimalismo: arranjos orquestrais, sopros calculados e atmosferas sombrias se alternam com naturalidade. Faixas como “Segredo” e “Último Sexo” mostram uma banda que prefere os desvios às trilhas batidas. Um disco que prova como o simples pode soar novo quando feito com propósito.

Esses oito álbuns são mais do que uma prova de que o rock está vivo — são lembretes de que ele nunca deixou de pulsar, se reinventar e emocionar. Cada um deles carrega em si uma força própria, seja pelo som, pela mensagem ou pela ousadia criativa. Escute com os ouvidos abertos e o coração disposto. Compartilhe, celebre e deixe que cada música seja também um grito de resistência, renovação e paixão. O rock segue aqui — firme, inquieto e necessário.