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Wry se reinventa com o esperançoso 'Aurora', uma luz no fim do túnel

Um disco otimista e lírico, cantado todo em português. Canções que ganham vida própria, sem medo de ousar e experimentar novas sonoridades

Foto: João Antunes

 


 

O primeiro sentimento que surge na cabeça ouvindo ‘Aurora’, novo álbum de estúdio da banda sorocabana Wry, é de expectativa de dias melhores. O oitavo disco do grupo chegou pela Before Sunrise Records, e com todas as letras em português, o que ressalta ainda mais a conexão do ouvinte com as canções que retratam temas do cotidiano recorrentes em um Brasil em total desalento. Entretanto, ‘Aurora’, retrata essas temáticas jogando gotas de positividade e esperança em dias melhores. O título do álbum é preciso e oportuno para esse Brasil de final de 2022, onde a luz começa a brilhar depois de quatro anos em total escuridão e abandono.


Formado atualmente por Mario Bros (voz, sintetizador e guitarra), Lu Marcello (guitarra), William Leonotti (baixo e vozes) e Italo Ribeiro (bateria), a banda acumula no currículo importantes obras do cenário alternativo independente brasileiro, que surgem ressaltando a cena Indie e do underground do nosso país desde os anos 90. Trabalhos recentes que ganharam notoriedade e relevância diante desse período caótico vivido pelo brasileiro, destacam -se os discos ‘Noites Infinitas’ de 2020, e o ainda recente ‘Reviver’ de 2021, álbum que retratou com a potência necessária a euforia e angústia desses dias insólitos e áridos, com canções que acabaram ficando de fora dos trabalhos anteriores do grupo.

 


 

‘Aurora’ foi produzido por Bros e João Antunes, este último responsável pela mixagem e masterização. Um trabalho que não teve medo de expor seu contexto, que por hora, pode remar contra a própria trajetória da banda. Ousado e experimental. Novas sonoridades, elementos e um certo desafio perante todas as diversidades do mundo lá fora. Detalhes que reafirmam o entrosamento de um grupo conectado com a atualidade e traçando um olhar cauteloso para o futuro. São vivências de anos de estrada, tocando juntos e construindo um elo de amizade que se encaixa perfeitamente quando se juntam para fazer aquilo que mais gostam nesse mundo. E o melhor de tudo isso, estão em casa.


Com o novo trabalho, o Wry reafirma sua relevância na perspectiva do rock independente. O quarteto paulista que já morou em Londres, onde tocou com bandas relevantes como The Subways, The Cribs e Ash, se tornou um nome de suma importância para o rock independente brasileiro, ajudando a contar a história de um movimento de pura resistência, paixão e amor profundo pela música. O disco, que chegou no dia 11 de novembro, foi antecedido pela faixa “Contramão” e a introdutória “Sem Medo de Mudar”. Duas canções urgentes, que conversam entre si, e falam de maneira singela sobre as fragilidades da humanidade, dos anseios que surgem pelas noites estranhas que costumamos viver em momentos de insônia. Porém, existe uma contrapartida nesse conjunto de 11 faixas que se entrelaçam poeticamente visando sempre deixar uma luz na escuridão que realça ainda mais a pontualidade do título do álbum.


Aurora indica um novo amanhecer, um certo otimismo jogado no ar sem revelar o que pode acontecer futuramente. Uma confiança moderada, dosada com cautela. Um dia de cada vez. Não precisamos correr demais para descobrir esse sentimento indeciso que surge no peito nesse instante, ele vai se revelar conforme o tempo passar.
 


 

“Quero Dizer Adeus” abre com versos líricos e nostálgicos. Com ritmo envolvente e agridoce, a canção toca lá, no fundo da alma. Com um “letrão” bonito e honesto. “Sei que posso te dizer/Que a vida é mais que viver/Que as dores fazem parte de nós/Que as pessoas partem/Às vezes correm/Pra muito longe”, diz a parte introdutória da canção que já é uma das favoritas desse que vos escreve. Experimente ouvir isso sozinho, com fones de ouvido no silêncio do seu quarto a noite. Vais ter uma ideia do que essas tortas palavras querem dizer.


‘Aurora’ é sobre um Wry atento aos acontecimentos não somente do Brasil, mas também do mundo. Canções que vão do post-punk ao reggae e ao dub, sem nenhum receio e pudor de se revelar melancólico, poético e enlutado (“Cartas às Moscas”), francamente politizado (“Temos Um Inimigo”). Um disco sobre enfrentar e encarar as mudanças com o peito aberto e a cabeça erguida. É sobre reafirmar suas convicções e seguir firme pela estrada que deseja caminhar.


Um trabalho que escreve uma nova história. Um novo recomeço, destacando uma paleta de cores e mostrando uma faceta mais acessível em relação à sonoridade da banda. Canções que se aproximam do pós-punk para prosear com temas atuais do Brasil. Exemplo da ótima e atmosférica “Universo Jogador”. Se em ‘Reviver’ a banda trouxe hits enérgicos, ‘Aurora’ assume um papel independente, distinto e focado no futuro, trazendo alento e conforto para alma. São onze faixas aconchegantes e revigorantes que imprimem honestamente aquilo que sentimos e pensamos.


Wry acerta novamente a mão e entrega um álbum sucinto, harmonioso e contagiante. Como se fosse um espelho refletindo a paisagem desse final de 2022. Trazendo frescor e esperança para o próximo ano. A gente quer esperar, sim, até porque ‘Aurora’ fomenta nossos anseios mais imensuráveis. Assim como Mario canta em “Labirinto Mental”, vamos esperar que aconteça. “Nada dura para sempre/Eu sinto a calma chegando/Eu vejo a luz no final/Brilhar pra qualquer pessoa”.

 

Aurora

Wry


Lançamento: 11 de novembro de 2022

Gênero: Rock Alternativo, Indie Rock

Ouça: "Quero Dizer Adeus", "Sem Medo de Mudar", "Temos Um Inimigo"

Humor: esperançoso, aconchegante, atmosférico

Selo: Before Sunrise Records



 

NOTA DO CRÍTICO: 8,5

 

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