Warner recusou oferta da Paramount por preocupação com financiamento estrangeiro, diz Bloomberg
- Marcello Almeida

- há 3 dias
- 2 min de leitura
Paramount Skydance chegou a acusar a Warner de favorecer a Netflix, pedindo a criação de um comitê independente para avaliar as propostas

Uma reportagem da Bloomberg trouxe à tona um dos bastidores decisivos da guerra de propostas pela Warner Bros. Discovery: a preocupação da empresa com as fontes de financiamento por trás da oferta da Paramount Skydance.
Nos últimos dias, a Variety detalhou que a proposta da Paramount não era sustentada apenas pelo Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita. Entravam no pacote também investimentos do Qatar e de Abu Dhabi, além do apoio da família Ellison, dona da Skydance, e dos grupos RedBird Capital, Apollo Global Management e outros players financeiros.
A composição desse consórcio acendeu um alerta no alto escalão da Warner. Como envolve capital estatal estrangeiro, especialmente de países do Golfo, o negócio teria de passar por uma rigorosa investigação dos órgãos de segurança dos Estados Unidos, que avaliariam eventuais riscos à segurança nacional. Esse obstáculo, segundo a Bloomberg, pesou bastante na decisão final, talvez mais do que qualquer outro fator.
É nesse ponto que a oferta da Netflix ganhou vantagem e foi finalmente aceita.
Por que a Netflix venceu a disputa?
A plataforma anunciou um acordo histórico para adquirir a Warner Bros. por um valor empresarial de quase US$ 83 bilhões, combinando dinheiro e ações e avaliando cada ação da WBD em US$ 27,75. Para os acionistas, o valor de mercado chega a US$ 72 bilhões.
A compra abre um novo capítulo na estratégia da Netflix:
incorpora ao seu domínio um dos maiores catálogos da história do audiovisual, incluindo HBO/HBO Max e franquias icônicas;
representa uma inflexão no modelo da empresa, que sempre priorizou produções próprias e licenciamento, mas agora integra um peso-pesado tradicional de Hollywood;
coloca o serviço à frente de uma expansão que inclui cinema, televisão e streaming sob um guarda-chuva híbrido.
Resistência, disputas e pressão política
A aquisição, no entanto, nasce cercada de tensão. Produtores e cineastas já solicitaram ao Congresso norte-americano uma análise antitruste rígida, apontando riscos de concentração de mercado. Legisladores pedem avaliações sobre competividade, impacto trabalhista e consequências para o ecossistema de distribuição.
De seu lado, a Paramount Skydance chegou a acusar a Warner de favorecer a Netflix, pedindo a criação de um comitê independente para avaliar as propostas. A empresa também enviou uma carta alertando que a negociação poderia não resistir às barreiras regulatórias.
Paralelamente, o governo dos EUA já observa o negócio de perto. A representante republicana Darrell Issa enviou cartas à Procuradoria-Geral e à FTC questionando os impactos da operação e pedindo atenção especial ao possível domínio da Netflix no mercado.
O que vem agora?
As negociações seguem em caráter exclusivo, mas ainda longe do fim. O acordo depende:
da cisão da divisão Discovery Global, prevista para o terceiro trimestre de 2026;
de aprovações de acionistas;
e, claro, do escrutínio regulatório, que deve se estender ao longo de 2026.
A Netflix reconhece o desafio, mas mantém discurso confiante, classificando a fusão como “pró-consumidor, pró-inovação, pró-criador e pró-crescimento”.
Independentemente do desfecho, a disputa expôs os novos contornos geopolíticos do entretenimento global, onde fundos soberanos, big techs e estúdios tradicionais dividem o mesmo tabuleiro. E onde cada movimento desperta tanto entusiasmo quanto apreensão.















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