Um Brasil que dá orgulho em 7 discos de 2021
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Um Brasil que dá orgulho em 7 discos de 2021



(Ordem aleatória. Criar é resistir. A arte respira e inspira nessa terra arrasada.)


Céu - Um Gosto de Sol:

Álbum novo dessa cantora paulista maravilhosa é sempre sinal de bom gosto, qualidade e fineza. Aqui ela resolveu homenagear, com toda a graciosidade de sua voz, ídolos e canções que marcaram sua vida. Tem de Rita Lee a Beastie Boys, passando por Jimi Hendrix, Grupo Revelação, Fiona Apple e Antonio Carlos & Jocafi. Despretensioso, leve, suave e bonito. A faixa-título (Milton Nascimento) já mostra o quanto Céu tem classe e elegância, com o tratamento que dá a um extraordinário clássico da MPB setentista.




 

Plastique Noir - Iskurus:

Após o ótimo 24 Hours Awake de 2015, o experiente trio gótico de Fortaleza lançou mais um petardo sonoro fiel às suas boas raízes, do melhor pós-punk oitentista e, como sempre, conectado com a prolífica cena darkwave global. Destaque para a sensacional 'Kafé', que eu classificaria como uma espécie de 'marchinha gótica' (!), das poucas deles com letra cantada (pelo excelente vocalista Airton S.) em português, provando que a morcegada se diverte com estilo. Os versos "Quero cafeína/Não quero cloroquina" grudam na orelha e, com tão pouco, dizem tanto de um país mergulhado nas sombras (estas, aqui mencionadas, sem qualquer relação com as características componentes do referido universo musical do qual o Plastique Noir faz parte).




 

Juçara Marçal - Delta Estácio Blues:

O segundo álbum solo da inquieta e ousada cantora carioca faz ecoar o grito inconformista dos nossos tempos, aquele que jamais se abafa sob os escombros deixados com as ruínas de tantos dias incertos e em meio às cicatrizes que ainda tomam forma numa agonizante nação em frangalhos. A parceria de sempre com Kiko Dinucci (companheiro dela na banda Metá Metá) mais uma vez é algo crucial para determinar a genial explosão de sons que chega aqui ao ouvinte. A voz de Juçara se impõe desafiadora, denota certa presença subversiva e marca terreno com o canto que dita os rumos em uma complexa densidade na construção de cada uma das faixas - e na consequente "destruição" promovida pelas mesmas. Delta Estácio Blues chega metendo o pé na porta e não pede licença, afinal trata-se do bem-vindo clamor de uma urgência imprescindível para dar sopro vital nessa caminhada toda aí que insiste em nos deixar no chão. Juçara Marçal tem a força inspiradora do desassossego e aquela verve insistente para que a gente se levante.




 

Wry - Reviver:

O veterano e incansável grupo de Sorocaba é, indiscutivelmente, um verdadeiro e respeitável ícone do rock alternativo nacional. No terrível ano passado, os amantes dos bons sons foram contemplados com o belo 'Noites Infinitas' e agora, neste não menos catastrófico 2021, a banda veio com Reviver, trabalho no qual fazem um resgate de pérolas da carreira que, de certa forma, ficaram pelo caminho, mas que não foram esquecidas ou ignoradas por eles (ainda bem). 'Where I Stand' é uma das delícias guitar do ano, ganhou um bonito e alegre clipe, no qual eles genuinamente se divertem. Como o tempo passou rápido e hoje pode-se dizer que os caras são jovens senhores do nosso indie. Porém, a banda ainda mantém a pegada de "garotos querendo quebrar tudo na garagem". Que bom ver (e ouvir) que o Wry não perdeu essa veia. As grandes influências que ajudaram a definir o som do grupo estão nitidamente presentes aqui em Reviver, são percebidas através das diretrizes sonoras com matizes que podem ser relacionadas a fontes mágicas de inspiração como Smashing Pumpkins, R.E.M., Big Star, Ride e The Jesus and Mary Chain, sendo que esta última, lendária e seminal banda escocesa, é claramente homenageada com a belíssima versão de 'You Trip Me Up'.




 

Amaro Freitas - Sankofa:

Da periferia da capital pernambucana para o mundo. Assim vai se firmando o jovem pianista recifense que, a cada álbum, ganha ainda mais respeito e reconhecimento em vários meios especializados, incluindo publicações importantes lá da gringa. Merecidíssimo para o garoto que teve a sua vida impactada e transformada ao ter contato com a obra do genial (falecido no ano passado) Chick Corea. Em Sankofa, o músico faz uma incursão apurada por elementos simbólicos e referências históricas que compõem o universo afro-brasileiro, como 'Vila Bela', criada para lembrar da luta contra a escravidão no estado de Mato Grosso. Esse é o álbum perfeito para uma audição relaxante, aquele momento reconfortante para esses tempos atuais, em que a luta - também - carece de serenidade e certo refresco. Ideal para ouvir antes ou após o celebrado Promises, que é outra obra-prima de 2021. O final sublime com 'Nascimento', homenagem ao ídolo e amigo Milton, deixa marcado em definitivo a dimensão criativa e especial que envolve esse trabalho, um título riquíssimo para a história da nossa música.




 

eliminadorzinho - Rock Jr.:

Grata surpresa que descobri com os amigos aqui da página do Teoria. Interessante estreia de 2021, o trio paulistano de nome curioso (com 'e' minúsculo mesmo) lançou um dos melhores registros de guitar band do ano por aqui. Uma grande sacada, já de cara, é o título do álbum, que traz o esperto trocadilho com o nome do famoso boleiro brazuca. Fica devidamente expresso o senso de humor que marca bastante a banda, isso, obviamente, sem apelar para aquele desgastado e tão explorado estilo de grupo do tipo "engraçadinho" que tenta se impor apenas pela piada musical apresentada. Longe disso. eliminadorzinho é outro patamar. São nove faixas em que os competentes rapazes abordam temas relacionados à vida jovem amparados por ótimas melodias, permeadas por aquela medida mágica de peso e ruído, em que são facilmente detectáveis as influências de notórios baluartes do noise/indie/guitar, como Dinosaur Jr., Eugenius, Pixies, incluindo algumas boas lembranças também de conterrâneos da melhor qualidade como PELVs, Terno Rei e Astromato.




 

Drowned Men - Abyssal:

Responsável por outro grande álbum proveniente do território pós-punk nacional, os mineiros do Drowned Men, admirável grupo gótico de Belo Horizonte, soltaram recentemente o seu segundo registro discográfico, agora no comecinho de dezembro, o que possibilitou minhas audições no Bandcamp da banda (ainda será lançado nas demais plataformas), justificando - a tempo! - a inserção do título nessa lista. Após a estreia mais do que digna em 2020 com o incrível Bats, este segundo trabalho segue a façanha destemida dos caras, capaz de atrair as atenções de vários afeitos ao gothic rock/darkwave espalhados por aí e despertar certa curiosidade, por ser uma banda expoente de tal segmento surgida na terra das alterosas, provando que nem só de metal, hard, classic rock, MPB se constitui a efervescente cena musical mineira. Além do instrumental caprichado e do ótimo vocal (por conta do carismático frontman Adriano Bê), o Drowned Men não descuida do visual de forma alguma, haja vista a arte dedicada às capas dos discos e a atenção voltada ao figurino. E pelo que já deu pra sacar em alguns vídeos de shows, a entrega ao vivo é hipnotizante. Enfim, uma banda bastante estilosa. Olhos (e ouvidos) neles. Destaque para a linda 'The Abyss' (lembra The Cure e Joy Division), o fascínio magnético de 'Something in the Waves of the Night', esta com uma agradável vibe bowieana, e o primeiro single 'On This Halloween', que ganhou um videoclipe bem bonito e interessante.





 

Sobre Marlons Silva


Sempre que pode ocupa seu tempo com o som de Jorge Ben Jor, Carole King e David Bowie, os livros do Irvine Welsh, os filmes do Ingmar Bergman e umas brincadeiras com a gatinha Lilly. Gosta muito também de pedalar. Acha que sem a música e a arte em geral, a vida seria um erro e também uma piada ruim muito sem graça. Enquanto aguarda ansiosamente uma temporada nova de Black Mirror, está sempre sendo apresentado a algo do universo dos animes pela filha Stella.

 














































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