Sly Stone morre aos 82 anos e deixa legado revolucionário na música negra norte-americana
- Marcello Almeida
- 9 de jun.
- 3 min de leitura
Atualizado: 9 de jun.
Gênio do funk psicodélico, criador da Sly and the Family Stone, morre após longa batalha contra doença pulmonar

O mundo perdeu nesta segunda-feira (09) um de seus gênios mais radicais e transformadores. Sly Stone, ícone da música negra norte-americana e cérebro da explosiva Sly and the Family Stone, morreu aos 82 anos, após anos enfrentando uma doença pulmonar obstrutiva crônica.
No comunicado oficial, a família confirmou a morte e destacou o impacto eterno do artista:
“Após uma longa batalha contra a DPOC [doença pulmonar obstrutiva crônica] e outros problemas de saúde subjacentes, Sly faleceu em paz, cercado por seus três filhos, seu amigo mais próximo e sua família. Embora lamentemos sua ausência, nos consolamos em saber que seu extraordinário legado musical continuará a ressoar e inspirar as gerações futuras.”
O texto ainda revelou que Stone havia finalizado recentemente o roteiro de sua autobiografia:
“Concluiu recentemente o roteiro de sua história de vida, um projeto que estamos ansiosos para compartilhar com o mundo no devido tempo.”
Sly Stone era mais do que um músico. Era uma revolução ambulante. Nascido Sylvester Stewart, no Texas, e criado na Califórnia, foi um prodígio desde cedo: autodidata, multi-instrumentista, produtor e DJ. Em 1966, fundou a Sly and the Family Stone, banda multirracial e mista de gêneros em pleno coração dos EUA segregados. Na sonoridade, misturou o groove do soul, o peso do funk e a força elétrica do rock com letras que falavam sobre igualdade, paz e transformação social.
Hits como “Dance to the Music”, “Everyday People” e “I Want to Take You Higher” ecoaram como hinos em um país em ebulição. Em 1969, a performance histórica em Woodstock sacramentou seu nome entre os imortais. Mas o sucesso estrondoso deu lugar ao caos: drogas, paranoia, reclusão e desintegração da banda marcaram a década seguinte. O álbum sombrio There’s a Riot Goin’ On (1971), que chegou ao topo das paradas, era um espelho direto do colapso pessoal e político ao seu redor.
Tentativas de retorno, como o álbum Fresh (1973), o casamento midiático com Kathy Silva (que terminou em denúncias de violência) e os discos solo lançados após o fim do contrato com a Epic não conseguiram reacender a chama. Nos anos 80 e 90, Sly desapareceu do mapa. Apareceu pontualmente nos anos 2000 — no Grammy de 2006, em festivais europeus, no Coachella — mas com uma presença errática e instável. Em 2011, a realidade chocou os fãs: ele vivia dentro de uma van em Los Angeles, sem dinheiro e sem contrato.
“Por favor, diga a todos, por favor, para me dar um emprego, para tocar minha música.”
O documentário Sly Lives! (aka The Burden of Black Genius), dirigido por Questlove, resgatou nos últimos anos a importância inquestionável de sua trajetória.
Induzido ao Rock and Roll Hall of Fame em 1993, Stone influenciou gerações inteiras de artistas — de Prince a OutKast, de Funkadelic a Kendrick Lamar. Seus filhos com Kathy Silva, a trompetista Cynthia Robinson e a artista Novena Carmel seguem como testemunhas vivas de sua herança. Sua voz pode ter silenciado, mas seu som, seu estilo, sua coragem artística seguem pulsando nas entranhas da música popular.
Sly Stone vive. No funk com distorção, no soul alucinado, no protesto que dança.
“Different strokes for different folks” — e ninguém fez tantos diferentes dançarem juntos quanto ele.
Comments