Rebeldia que não envelhece: o triunfo do Green Day no The Town
- Marcello Almeida
- há 21 horas
- 3 min de leitura
Um festival só se eterniza quando há entrega, suor e uma faísca capaz de incendiar a multidão

Na noite de 7 de setembro, o Green Day transformou o The Town em palco de catarse coletiva. Foram quase duas horas em que o trio californiano reafirmou, mais uma vez, sua identidade: energia crua, irreverência política e um carisma que não se fabrica. O espetáculo começou antes mesmo de Billie Joe, Mike Dirnt e Tré Cool surgirem. Queen e Ramones ecoaram como prenúncio, enquanto um coelho excêntrico com gravata vermelha rodopiava pelo palco, aquecendo o público para a tempestade que viria.
Quando os primeiros acordes de “American Idiot” soaram, o choque elétrico percorreu o público. A crítica ao sonho americano ganhou novo peso ao ser adaptada para o contexto atual: o alvo foi Donald Trump e sua retórica inflamada. Billie Joe não poupou provocações. No dia da Independência do Brasil, fez questão de lembrar que a música punk é também trincheira política — um espaço para gritar contra a mediocridade e o fascismo.
Esse diálogo direto com o público brasileiro foi além. Em “Holiday”, a palavra “Califórnia” deu lugar a “São Paulo”, em uma troca simbólica que arrancou aplausos e mostrou o quanto a banda sabe moldar suas mensagens sem perder a essência. O punk, afinal, é movimento vivo, e o Green Day continua a praticá-lo como quem respira.
O show alternou fúria e emoção. “Know Your Enemy” incendiou rodas de bate-cabeça, enquanto hinos de vulnerabilidade como “Boulevard of Broken Dreams” e “Wake Me Up When September Ends” arrancaram lágrimas e abraços. Entre um riff e outro, havia sempre espaço para gestos de afeto — como quando uma fã subiu ao palco, cantou lado a lado com Billie e saiu de lá com um beijo e um abraço que carregará para sempre.
O cenário, inspirado na capa de American Idiot, reforçava o clima de resistência. Uma mão erguendo um coração — metáfora perfeita para uma banda que equilibra raiva e ternura, denúncia e esperança. Nos telões, a história da banda se confundia com a da própria juventude que cresceu ao som deles. E não era apenas nostalgia: as músicas de Saviors mostraram que a chama não se apagou. “Bobby Sox”, tratada como hino de liberdade afetiva, foi recebida com entusiasmo, provando que a banda ainda dialoga com novas gerações.
O Green Day não é feito apenas de canções. É a performance, o sarcasmo, o humor ácido e a entrega de três músicos que nunca aprenderam a ser mornos. Billie Joe dança, ri, grita, sopra a gaita como quem convoca uma rebelião. Mike Dirnt e Tré Cool, com seus gestos exagerados e caretas debochadas, completam a engrenagem. Juntos, constroem não só um show, mas uma experiência de pertencimento.
No fim, “Good Riddance (Time of Your Life)” encerrou a noite com um coro emocionado. Havia a sensação de que algo maior que a música acontecia ali: uma comunhão de vozes que celebravam não apenas o passado da banda, mas a força do punk em atravessar gerações.
O Green Day pode já não estar em seu auge comercial, mas continua sendo o reflexo de uma atitude que não se curva ao tempo. Eles seguem como a personificação de um estilo que nunca foi apenas estética ou som distorcido, mas sim crítica, contestação e vitalidade.
O dia foi verde, e o verde segue vivo.