Quatro músicas do Editors que você não pode deixar de ouvir
- Marcello Almeida

- 6 de set.
- 3 min de leitura
Entre a escuridão e a melodia, o Editors construiu um dos legados mais intensos do pós-punk revival

No início dos anos 2000, a música alternativa respirava um renascimento. O rock buscava se reinventar após a saturação do britpop e o declínio do grunge, e foi nesse espaço que floresceu o chamado post-punk revival — um movimento que não se contentava em ser apenas nostalgia, mas sim uma atualização do som sombrio e elegante que Joy Division, Echo & The Bunnymen e The Cure haviam deixado como legado.
Nessa nova cena, bandas como Interpol, Franz Ferdinand e Bloc Party marcaram territórios distintos: os primeiros com a frieza urbana de Nova York, os segundos com riffs dançantes que conquistaram as rádios, e os terceiros trazendo urgência política e rítmica. Mas o Editors, surgido em Birmingham em 2002, ocupou um lugar à parte.
A voz grave e visceral de Tom Smith imediatamente evocava comparações com Ian Curtis, mas o grupo não se limitou a ser sombra de um passado. Seus primeiros álbuns, como The Back Room (2005) e An End Has a Start (2007), revelaram uma capacidade rara de unir a escuridão pós-punk a refrões grandiosos, quase de estádio. Com o tempo, flertaram com a eletrônica em In This Light and On This Evening (2009) e buscaram atmosferas mais oníricas em In Dream (2015).
Enquanto muitos colegas de cena se perderam no caminho ou permaneceram presos a uma sonoridade específica, o Editors seguiu em movimento, reinventando-se sem abrir mão da identidade. Essa combinação de peso, melodia e mutação estética garantiu ao grupo uma longevidade rara no revival dos anos 2000.
Para mergulhar no universo da banda, quatro músicas são portas de entrada fundamentais — não apenas sucessos, mas momentos em que o Editors traduziu com mais intensidade sua alma sombria e luminosa ao mesmo tempo.
1. Munich (2005)

Do disco de estreia The Back Room, “Munich” é a síntese da tensão urbana e existencial que marcou o início do Editors. Guitarras cortantes, linhas de baixo pulsantes e a repetição quase obsessiva de versos transformam a canção em um hino da alienação moderna. É energia bruta, ainda carregada da estética sombria que consolidou o rótulo de “novo Joy Division” para a banda.
2. Smokers Outside the Hospital Doors (2007)

Primeiro single de An End Has a Start, é a canção que revelou um lado mais épico do grupo. Crescendo em camadas, conduzida pelo piano e pelo alcance emocional de Smith, fala sobre finitude, medo e esperança. É um daqueles momentos em que o Editors transcende o rótulo pós-punk revival para se tornar uma das grandes bandas de arena de sua geração.
3. Papillon (2009)

Com o álbum In This Light and On This Evening, a banda mergulhou em sintetizadores e sonoridades eletrônicas mais agressivas. “Papillon” é o ápice dessa fase: urgente, acelerada, feita para a pista. É como se o espírito dark dos anos 80 tivesse sido transportado para um cenário pós-industrial, criando um dos maiores sucessos da banda.
4. Ocean of Night (2015)

Do disco In Dream, “Ocean of Night” mostra um Editors amadurecido, capaz de criar atmosferas etéreas sem perder a densidade. É melancólica, mas também expansiva, como se abrisse espaço para respirar depois de anos mergulhados em sombras. Uma canção que revela a capacidade do grupo de se reinventar sem perder identidade.
Entre sombras e horizontes
O Editors nunca foi apenas mais uma banda do revival dos anos 2000. Sua trajetória é feita de riscos estéticos e de um equilíbrio raro entre intensidade e beleza. Escutar essas quatro músicas é entrar em contato com uma banda que soube traduzir, à sua maneira, a escuridão e o fascínio de estar vivo no mundo contemporâneo.














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