Preoccupations continua no seu Pós-Punk enérgico e propenso a mudanças em “Arrangements”

Eduardo Salvalaio
16 de set. de 2022
2 min de leitura

Um som para quem gosta de Joy Division, Bauhaus e David Bowie

Primeiro, vamos lançar um breve resumo aqui. Preoccupations é uma banda canadense que, no passado, adotava o nome Viet Cong. Isso até 2016. Mas, por questões legais, precisaram trocar o nome para o qual conhecemos na atualidade. Burocracias à parte, a troca não alterou o talento dos integrantes e assim, saíram dois grandes discos que são necessários para se entender a sonoridade e proposta da banda: “Preoccupations" (2016) e “New Material” (2018).

Os canadenses chegam ao terceiro álbum, “Arrangements”. A gravação do trabalho não foi tão fácil, novamente estamos diante de uma banda que precisou passar por um processo de reclusão devido a pandemia. Um tempo que modificou nossos pensamentos, hábitos e até a forma como encarávamos nossas profissões e ofícios.

Sempre preocupado com as letras, o grupo faz delas um lugar não somente para autoanálise, bem como para realizar uma reflexão amarga e realista sobre a humanidade. Muito do que o vocalista Matt Flegel proclama nas sete faixas dialoga sobre a condição egoísta e violenta do homem que o leva para sua própria destruição. É o que fica bem retratado na letra de ‘Fix Bayonets!’: ‘It’s alright, we can celebrate the evaporating / homo sapien race that’s racing to erase its brief / and glorious existence’.

Influências como Joy Division, Bauhaus e David Bowie continuam seguras e intactas. A década 80’s é uma boa fonte para os canadenses, prova é a vigorosa faixa ‘Ricochet’, um dos destaques do disco, que traz lembranças de uma canção que seria composta pelo The Chameleons UK.

‘Slowly’ se aproxima bastante das composições antigas do grupo. A faixa começa com uma distorção de guitarra para depois hipnotizar o ouvinte revelando uma bateria marcante e um riff poderoso, além de um refrão grudento. A pulsante ‘Death Of Melody’ apresenta um Flegel de vocais sombrios que combinam com a caótica estrutura guiada por guitarras dilacerantes. Certamente uma das faixas mais obscuras do álbum e que pode não conquistar o ouvinte logo na primeira audição.

Entretanto, a cada álbum, o grupo busca uma reformulação sonora, embora em doses graduais. Fugir do padrão típico do gênero e abrigar novos caminhos para a sonoridade que construíram. Trazer uma estrutura mais complexa e fora do habitual padrão de compor que estava inclusive no disco de quatro anos atrás. Duas músicas representam bastante isso: ‘Advisor’ e ‘Recalibrate’.

‘Advisor’, com mais de 7 minutos, é praticamente dividida em duas partes. Começa tímida, presa a um clima Ambient, ganha violinos e efeitos, com um Flegel menos raivoso nos vocais. Bateria, baixo e guitarra surgem após a metade criando um contorno mais denso, mesmo assim, acessível. ‘Recalibrate’ é obscura, embora tenha uma proposta interessante. Une sintetizador, guitarra e uma bateria num bloco maciço e claustrofóbico, mas certeiro e explosivo.