top of page

Por que o Oasis ainda movimenta multidões no Brasil

Às vezes, uma banda não volta, mas o sentimento volta como se nunca tivesse ido

Oasis
Imagem: Divulgação

Tem algo profundo na relação entre o Brasil e o Oasis que não cabe apenas em datas, turnês ou nostalgia. Não é só saudade do britpop nem romantização dos anos 90. É outra coisa. Uma temperatura emocional. Um pulso. Uma espécie de reconhecimento imediato entre duas realidades que, no fundo, se enxergam: a periferia inglesa de Manchester e o caos fervente de qualquer cidade brasileira que tenta sobreviver ao próprio dia.



O Brasil enxerga o Oasis como quem olha no espelho, mas um espelho que devolve coragem. Porque, enquanto o mundo nos cobra suavidade, o Oasis sempre veio com verdade crua, vozes rasgadas, guitarras que não pedem desculpa e letras que falam sobre se agarrar a um sonho como quem se agarra à borda do abismo. E isso aqui sempre fez sentido. Ainda faz.


E tem também quem viveu tudo isso no tempo certo. A galera que descobriu o Oasis nos anos 90 e hoje passa dos 40. Gente que cresceu, trabalhou, perdeu, ganhou, criou família, se reinventou. Gente que carrega na memória um tempo em que um CD bastava para salvar um dia e a vida parecia caber inteira dentro de um refrão. O tempo passou, a vida pesou, o mundo ficou mais rápido, mas aquelas canções ficaram como uma casa interna onde o tempo não vence nada.


Ver a banda, ou parte dela, subindo nos palcos pelo mundo reacende essa chama. É como se um pedaço dos anos 90 voltasse, mas agora iluminado pela maturidade de quem já entendeu o que custa estar aqui. É aquele choque bonito entre frescor e experiência: você revive quem foi, mas sem trair quem se tornou.


E tem também o outro lado dessa história: as novas gerações. A molecada que não viu a febre noventista, que não acompanhou a explosão do britpop, que não sentiu o impacto de ver dois irmãos insolentes tomando o mundo de assalto. Para essa galera, o retorno do Oasis não é nostalgia, é revelação. É a chance de viver, ao vivo, algo que até então só existia em vídeos, relatos e imaginação. É quase um rito de passagem.


E talvez o mais bonito seja isso: pelo menos uma canção do Oasis diz algo sobre cada um de nós em algum momento da vida. Não importa se você tem 16 ou 40, sempre existe uma frase, um verso ou um refrão que encaixa no seu caos interno, na sua alegria, na sua dor, na sua esperança ou na sua vontade de romper o mundo. É por isso que essas músicas atravessam gerações inteiras sem perder força, porque falam com diferentes versões da mesma pessoa.



Existe algo de profundamente brasileiro naquela sensação de que a vida te derruba, mas você fecha a porta, coloca “Rock ’n’ Roll Star” e acredita, por alguns minutos, que pode ser maior que tudo. Essa esperança torta, imperfeita e real sempre nos guiou, e talvez seja por isso que o Oasis nunca saiu de circulação por aqui. O mito permanece vivo porque a energia permanece viva. A catarse permanece viva. A vontade de cantar junto permanece viva. E nenhuma separação consegue matar isso.


Nos últimos anos, o Oasis foi redescoberto. TikTok, multidões em uníssono, trechos de “Don’t Look Back in Anger” virando mantra emocional, tudo isso reacendeu algo que o Brasil nunca deixou apagar. A banda virou herança sentimental, um idioma que qualquer brasileiro entende, mesmo que tenha descoberto ontem.



E agora estamos aqui: 22 e 23 de novembro, Morumbi. Dois dias em que a cidade vai sentir um arrepio antigo e novo ao mesmo tempo. Não é só um show. É memória, é desejo, é reconexão. É a chance de sentir de novo o que parecia perdido — e de permitir que quem nunca viveu aquilo possa, enfim, viver.



O Brasil não ama o Oasis por saudosismo. Ama porque precisa. Ama porque entende. Ama porque, de algum jeito estranho e bonito, é visto por eles. E é por isso que, tantos anos depois, quando os acordes começam, algo dentro da gente ainda se move. Se move com força, com verdade, com fome, como se fosse a primeira vez. Como se fosse Slide Away no talo.

Comentários


bottom of page