O reverso do tempo, a reinvenção da raiz: Fernanda Teka estreia em voo solo com força e identidade
- Marcello Almeida
- há 5 dias
- 3 min de leitura
Nada mais revolucionário do que voltar para onde tudo começou — com mais consciência, mais ritmo e mais coragem

Com lançamento marcado para está sexta-feira, 8 de agosto, “Reverso”, primeiro álbum solo de Fernanda Teka, não é um ponto de partida, mas um ponto de virada. Com 12 anos de trajetória na música, a artista sorocabana estreia em nome próprio com um disco que reverbera sua essência e seu pertencimento — não só ao Rap, mas ao território simbólico da arte como expressão política, coletiva e visceral.
O título já antecipa o espírito do projeto: “Reverso” é retorno, mas não retrocesso. É sobre girar o espelho da vida e encarar a imagem refletida — a menina que rimava nos palcos de Sorocaba agora aparece lado a lado com a mulher que carrega no peito a pluralidade de vozes e sons que cruzaram seu caminho.
Misturando Hip Hop, MPB e música latina, o álbum carrega um DNA próprio, resultado de uma construção cuidadosa, afetiva e engajada. Teka não apenas canta — ela assina as letras, está presente na concepção estética, dirige a própria narrativa e reúne um time de peso para amplificar sua mensagem.
A produção musical é de Mendz, com quem Teka já havia trabalhado nos singles “Babalu” e “O brinde é nosso”. E é justamente essa continuidade — criativa e afetiva — que sustenta a coerência sonora do disco. Entre os músicos, nomes como Manu Neto (percussão), Menian (baixo), Samir (guitarra), Augusto Martins (piano) e Fábio Baddini (trompete) ajudam a construir uma atmosfera viva, com camadas que vão do groove à introspecção, passando por beats marcantes e arranjos orgânicos.
As participações especiais elevam o jogo. O consagrado DJ Erick Jay assina os scratches da potente “Muito Mais”. Já a faixa “Meu Mundo” tem produção de DJ Duh — conhecido por colaborações com Emicida, Rashid e até Ivete Sangalo — e ainda reúne Menian e a cantora mexicana Anaís Belloso. Em “Entre Mil e Outras Coisas”, o beat é de Skeeter (nome frequente nas discografias de Haikaiss, CorujaBC1, Emicida), e a rima vem com Carlo Rappaz, do grupo X da Questão.
No entanto, “Reverso” vai além do som.

O disco se transforma em álbum visual no YouTube, com cada faixa acompanhada de visualizers coreografados, conectando dança, luz e narrativa. B-boys e bailarinos protagonizam a estética, reafirmando o lugar da dança de rua como parte orgânica da cultura Hip Hop — não como ornamento, mas como linguagem. A direção audiovisual é de Lu Bortoline, artista multimídia que assina a identidade visual do projeto com a sensibilidade de quem já trabalhou com MV Bill, Tássia Reis e Rashid.
Produzido com o apoio da LINC (Lei de Incentivo à Cultura), e da Secretaria de Cultura da Prefeitura de Sorocaba, o álbum não é apenas um lançamento musical: é também manifesto, celebração e reinvenção.
Fernanda Teka chega com um trabalho maduro, vibrante e esteticamente afiado. Mas o que mais impressiona é sua entrega — a coragem de ocupar o próprio nome, sem medo da exposição, nem das camadas que carrega. “Reverso” soa como um reencontro com a juventude, mas também como um recado claro: ela está pronta para tudo que ainda está por vir.
Porque o tempo não anda só pra frente. O tempo gira. E Teka, agora, gira com ele — de volta às origens, rumo ao centro de si.
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