Os novaiorquinos da Nada Surf lançaram no início de 2020, o seu mais novo álbum Never Not Together, que mostra a banda de Rock Alternativo bebendo cada vez mais da água do Power-Pop e Brit-Pop, algo que trouxe resultados maravilhosos para o som da banda. Pop sem perder o brilho do movimento alternativo. Um som recheado de guitarras grudentas e melodias que lembram Big Star, Teenage Fanclub e em outras as canções do The Cars.
Para os fãs de Indie-Rock, o Nada Surf é um velho amigo. Mas o som da banda não se parece mais com o início dos anos noventa. As canções aqui são influenciadas pelo Pop, e o som pode ser considerado edificante.
O álbum abre com uma das melhores músicas deles. “So Much Love” é uma música que tem o espírito de celebrar as coisas boas entre as pessoas, faz lembrar que sempre podemos gerar um pouco de tolerância e aceitação, pois pequenos gestos vão se somando, que podemos ser bons em amar e ser gentis. É uma faixa propícia para os tempos de intolerância atuais, onde o ódio se manifesta das piores maneiras possíveis: “Qualquer dia, qualquer hora eu estou me sentindo bem/o peso do mundo deve ter lido minha mente”. Mathew Caws mostra-se muito eficaz em composições emocionais, o que vem se destacando desde Let Go (2002) e músicas como “ Inside of Love”.
“Come Get Me” possui arranjos e harmonias terapêuticos. A música e a letra passam a ideia de deixar o medo ir e baixar a guarda para idas e vindas do amor. Em alguns momentos, é como se explorasse traumas de infância e muros que a gente constrói para proteger-se de algo: “Não tenho pressa/quero que essa viagem dure/se eu começar realmente a pensar/meu coração vai começar a bater mais rápido/os dias, eles estão encolhendo/o horizonte está próximo/eu sei que quero alguém/mas não tem ninguém aqui”, diz a letra.
Never Not Together é um disco que puxa para cima em pouco mais de quarenta e dois minutos e nove músicas pop daquelas que a gente adora ouvir. As canções podem até ser mais do mesmo, mas o mais do mesmo da Nada Surf funciona muito bem.
A banda vem sobrevivendo aos efeitos e transformações do tempo, criando um álbum de fortes canções, abordando temas como persistência, tolerância e reflexão, dando ênfase para o amor como um vínculo íntimo e comunitário. Tudo isso associado aos vocais eternamente jovens de Mathew Caws, e um banquete de melodias convidativas. Entretanto, pode muito bem ser um disco de uma banda que está envelhecendo e colhendo os frutos de longas experiências, lindando com as questões mais profundas da vida. As canções são verdadeiros hinos pop, líricos regados por um Power Pop inspirador e enérgico ao estilo, anos 90. Isso aconteceu com o Teenage Fanclub com seu último disco 'Endless Arcade' de 2021.
O álbum faz uma combinação de abertura com “So Munch Love”, “Come Get Me” e “Live Learn and Forget”, viajando por bases sólidas, com canções e melodias que estabelecem sentimentos como arrependimentos ou desejo por um relacionamento, algo que todo mundo já viveu um dia. No meio disso tudo, encontramos a bela “Something I Should Do”, uma canção que passeia por sons de sintetizadores e guitarras deliciosas de deixar sabor de quero mais. São músicas sobre a vida no século XXI, conexões, empatia, alienação virtual na palma da mão, tudo se conecta levando a coisa para o pessoal em um nível sentimental impressionante e satisfatório. De qualquer forma, é uma confluência de sentimentos que podem muito bem te pegar desprevenido.
Interessante sobre Never Not Together é que ele foi produzido com Ian Laughton (Supergrass, Ash) e gravado no Rockfields Studios, no país de Gales. Esse é o nono álbum da banda, dedicado à memória de Ric Ocasek (The Cars), que produziu High/Low (1996), álbum de estreia da banda.
O álbum pode soar um pouco repetitivo ou deixar aquela impressão: 'eu já ouvi isso em tempos passados' . Mas traz ótimas canções pop, muito bem construídas e arranjadas, e que passam uma mensagem de positividade em tempos tão sombrios e esquisitos… o amor ainda prevalece: “Agora as luzes estão apagadas/encontre sua paz e descanse um pouco/eu serei seu vigia/ quando for minha vez, você será isso para mim/e você vai acalmar toda a minha dúvida”. São os versos que encerram com a magnífica “Ride In The Unknown”, e deixa uma lição para um mundo que acelera demais, para um mundo onde ansiedade, depressão e suicídios se tornaram recorrentes. Um mundo onde o autocuidado e o amor-próprio são uma luta diária. Em um universo de relações cada vez mais supérfluas, o amor pode não salvar ninguém, mas pelo menos serve como algum afago.
Ficha Técnica:
NEVER NOT TOGETHER
Artista: Nada Surf
Data de Lançamento: 7 de fevereiro de 2020
Gênero: Indie Rock, Power Pop
Para quem gosta de: Big Star e Teenage Fanclub
Ouça: "So Much Love", "Live Learn and Forget" e "Ride in the Unknown"
Ouça no Spotify:
Veja o clipe de "So Much Love" abaixo:
Sobre Marcello Almeida
É editor e criador do Teoria Cultural.
Pai da Gabriela, Técnico em Radiologia, flamenguista, amante de filmes de terror. Adora bandas como: Radiohead, Teenage Fanclub e Jesus And Mary Chain. Nas horas vagas, gosta de divagar histórias sobre: música, cinema e literatura. marce.almeidasilvaa@gmail.com
Texto publicado originalmente no site Urge!
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