'Mercy' um disco divisor de águas na carreira do The Men
- Marcello Almeida
- 19 de nov. de 2021
- 3 min de leitura

Os nova-iorquinos do The Men seguem apostando em uma sonoridade mais tranquila, diferente de seus primeiros trabalhos, que eram mais focados no hardcore e indie rock. Álbuns como 'Immaculada' (2010), 'Leave Home' (2011) e 'Open Your Heart' (2012), possuem uma vibe mais barulhenta, com ruídos e guitarras, que podem ser descritos como uma espécie de Dinosaur Jr. com uma roupagem a lá Buzzcocks. Foram muito bem recebidos pela crítica e público. A mudança de sonoridade começou com 'Tomorrow`s Hits' (2014), onde a banda adotou um som mais limpo, engajado no country- rock que passeia por Neil Young, flertando com Velvet Underground. O vocalista e guitarrista Nick Chiericozzi, atribuiu a mudança à maturidade e aos novos sons que a banda estava ouvindo. De 2014 para cá, os lançamentos da banda têm se mostrado uma grande surpresa, sempre uma amostra dos caminhos que eles pretendiam seguir.
Com Drift (2018), o The Men embarcou por uma viagem climática de universos criativos. A obra possui fortes elementos do Pós-Punk. A banda vem captando suas influências e transitando por gêneros. Assim podemos descrever 'Mercy', que entrega uma sonoridade mais melódica – quem curte o som do Wilco e The War on Drugs pode simplesmente amar o disco.
A abertura é com a bela e calma “Cool Water”, que inicia com teclados e cordas, acompanhados por um vocal inspirado em Lou Reed. Em alguns momentos possui uma pegada que remete a David Bowie. A canção é bem construída e segue esse ritmo lento e calmo, até entregar solos de guitarras trabalhados e mergulhar no grudento refrão: “Cool water, cool water, cool water, wash over me. Wash over me”. “Walding in Dirty Water” é uma viagem sonora, psicodélica de mais de dez minutos, onde guitarras e teclados lembram The Doors; é a música mais experimental do disco.
As canções em Mercy são referenciais e não se distanciam tanto assim uma da outra.
Em “Fallin’ Thru” os teclados e vocais embalam a canção em uma levada mais calma, no estilo Kurt Vile e Nick Cave, ecoando versos como: “Você pode me ouvir, querida? Eu fiz tudo isso pela verdade. Agora estou caindo”. Uma faixa reflexiva que se dissipa na canção que pode ser o ponto alto do álbum “Children All Over the World”, com uma pegada nos ritmos dos anos 80, recheada por uma atmosfera emblemática inspirada em Tom Petty com Van Halen. A canção ganhou um clip noturno pela cidade de Nova York, com uma vibe bem anos setenta, oitenta, característica presente na música da banda.
“Breeze” chega estonteante e enérgica resgatando a sonoridade dos primeiros álbuns, uma faixa rápida e a mais barulhenta do disco. Como se fosse um mergulho ligeiro pelo Hardcore e Indie Rock dos primeiros trabalhos da banda. O álbum encerra com a canção que lhe dá título. “Mercy” em português quer dizer misericórdia. É uma canção pertinente, que cabe uma reflexão ao momento atual pelo qual o mundo passa. “Me dê paz na minha morte. Misericórdia respirando no meu último suspiro. Eu tenho medo, eu sou como todo o resto. Preciso de misericórdia na hora da minha morte”, diz a letra.
Em um contexto geral, o álbum não desagrada. Se mantém na média. Não é o melhor trabalho da banda, se comparado com obras anteriores. Mas é um álbum que transita por caminhos de uma construção sólida e mostra uma banda firme em suas ambições.
FICHA TÉCNICA:

Artista: The Men
Álbum: Mercy
Lançamento: 14 de fevereiro de 2020
Gênero: Rock Alternativo, Indie Rock e Rock Pop
Ouça: "Cool Water", "Children All Over the World
OUÇA O DISCO NO SPOTIFY:
VEJA O CLIPE DE CHILDREN ALL OVER THE WORLD ABAIXO:
Texto originalmente publicado no Urge!, quando colaborei com o site.

Marcello Almeida
É editor e criador do Teoria Cultural.
Pai da Gabriela, Técnico em Radiologia, flamenguista, amante de filmes de terror, adora bandas como: Radiohead, Teenage Fanclub e Jesus And Mary Chain. Nas horas vagas, gosta de divagar histórias sobre: música, cinema e literatura. marce.almeidasilvaa@gmail.com
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