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Lendas vivas contra fantasmas digitais: artistas britânicos se levantam contra a ameaça da IA

Quando até os deuses da música temem pelo futuro de suas criações, é porque o algoritmo já bate à porta da memória cultural

Paul McCartney
Imagem: Reprodução

Mick Jagger, Paul McCartney, Elton John, Annie Lennox e Kate Bush. Não se trata de uma lista de reprodução nostálgica, mas de alguns dos mais de 70 nomes da cultura britânica que assinaram uma carta aberta ao primeiro-ministro Keir Starmer. O alvo é direto: a inteligência artificial e a forma como ela ameaça transformar décadas de arte em mera matéria-prima para máquinas.



No texto, obtido pelo The Guardian, os artistas alertam para a “indiferença chocante” do governo diante de políticas que, segundo eles, deixam a porta aberta para o “roubo em massa” das criações de uma vida inteira. O momento não é casual: o alerta chega às vésperas da visita de Estado de Donald Trump ao Reino Unido e do possível anúncio de um acordo tecnológico transatlântico.


O temor é que a parceria Reino Unido–EUA abra caminho para uma legislação que permita às empresas de IA treinar modelos a partir de obras já existentes, oferecendo aos criadores apenas um mecanismo de exclusão considerado ineficaz. Na prática, seria legitimar o plágio em escala industrial. “Isso atrapalha ativamente os direitos humanos dos artistas”, reforçam os signatários.



O governo respondeu com cautela, afirmando que “nenhuma decisão foi tomada” e que a prioridade é equilibrar os direitos dos criativos com o avanço tecnológico. Mas a resposta soa tímida diante do peso simbólico de ver McCartney, Jagger e Elton John — arquitetos de boa parte da identidade sonora do século XX — precisando clamar por proteção de algo tão básico quanto a autoria.


Mais do que uma disputa legal, está em jogo a essência da criação humana: o gesto único de transformar experiências em arte. Se até os gigantes do rock se veem vulneráveis diante de algoritmos, o que dirá o resto de nós?


O futuro da música talvez não dependa apenas de notas, mas da coragem de dizer que a alma não pode ser copiada.

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