Julia Holter - Something in the Room She Moves: Poesia com camadas de instrumentações que se entrelaçam de maneira sofisticada
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Julia Holter - Something in the Room She Moves: Poesia com camadas de instrumentações que se entrelaçam de maneira sofisticada

As letras muitas vezes exploram temas profundos e introspectivos, enquanto a atmosfera musical proporciona uma sensação de imersão e contemplação.

Julia Holter
Foto: Michael Clement


Julia Holter é conhecida por sua abordagem musical inovadora e experimental na música pop e alternativa. Começou a estudar música desde cedo, aprendendo piano, violão e canto. Ela frequentou a Alexander Hamilton High School e depois estudou composição musical no California Institute of the Arts, onde obteve seu BFA e MFA.


A música de Holter é frequentemente descrita como uma fusão única de diversos gêneros, incluindo música erudita, pop experimental e eletrônica ambiental. Essa fusão eclética resulta em um som original e cativante. O aspecto mais notável são suas letras poéticas e atmosféricas, que podem transportar os ouvintes para um universo emocionalmente rico e evocativo. As letras muitas vezes exploram temas profundos e introspectivos, enquanto a atmosfera musical proporciona uma sensação de imersão e contemplação.



Something in the Room She Moves é o mais novo álbum da artista, trazendo novamente suas principais características, como composições intrincadas e arranjos complexos. Cada faixa é cuidadosamente elaborada, com camadas de instrumentação que se entrelaçam de maneira sofisticada, criando uma experiência auditiva rica em detalhes e texturas sonoras.


Something in the Room She Moves possui uma carga emocional profunda, influenciada em parte pela experiência pessoal da artista Julia Holter durante a pandemia de COVID-19 e sua jornada na maternidade. A composição captura momentos íntimos e reflexivos, refletindo a complexidade dos sentimentos que surgem em tempos de incerteza e transformação. Holter infunde a música com uma sensação de reverência e maravilha diante da vida e do amor. Os arranjos sonoros evocam uma atmosfera de contemplação e introspecção, enquanto as letras poéticas exploram temas de conexão humana, esperança e resiliência.


Sun Girl parece explorar temas de mistério, fascínio e possivelmente até mesmo de transcendência utilizando de simbolismos como elementos centrais para transmitir a mensagem. É uma música que inicia por meio de uma boa vibração de indie pop e se mantem assim na maior parte do tempo. O final expansivo e atmosférico em uma frase repetida várias, pode significar uma narração cheios de ideias e visões criativas, onde a mente se liberta para explorar novas possibilidades.



These Morning é uma faixa melancólica que tem o saxofone como maior destaque, porém, no geral tudo soa de forma profunda provocando uma espécie de cruzamento entre as sensações conforme tudo vai se desenvolvendo. Tudo isso sob uma letra que parece explorar temas de esperança, arrependimento, vulnerabilidade e escapismo, onde a insistência por uma mentira pode refletir um desejo persistente de evadir-se da realidade dolorosa.


Something in the Room She Moves começa doce e serena, mas conforme vai se desenvolvendo, também cresce bastante em intensidade, chegando em um pico quase sinfônico antes de retornar para as suas batidas serenas e melodia melancólica.

Traz a busca como tema de sua narrativa, além da admiração e contemplação, com uma mistura de elementos mundanos e surreais, entregando uma sensação de descoberta, enquanto parece haver uma procura por significados em meio a complexidade da vida cotidiana.


Materia é bastante intimista e produzida basicamente por meio dos vocais e usos pontuais de teclados que adicionam uma atmosfera taciturna e melodia arrastada, enquanto Holter explora um amor idealizado, compartilhando experiências intensas, refletindo sobre a profundidade do amor, sua influência na percepção e na sua vida emocional. Meyou é bastante experimental e viajante, onde a sua letra se baseia apenas em repetir inúmeras vezes o nome da faixa. De vocal solo que vai se transformando aos poucos em uma improvisação heterofônica, liricamente pode indicar um equilíbrio ou uma dinâmica de reciprocidade na interação entre duas pessoas.


Spinning possui uma base mais pulsante, com o baixo nas alturas e sintetizadores que a permeiam por toda parte, além das batidas serem mais tempestuosas. Uma autorreflexão que sugerem uma aceitação diante de uma jornada pessoal, incluindo tanto os momentos de alegria quanto de tristeza. Há uma sensação de autenticidade e integridade emocional. Ocean é uma faixa instrumental. Composta principalmente por teclados espaciais e sintetizadores, a música é construída em camadas intricadas, criando uma paisagem sonora densa e envolvente.



Evening Mood possui uma atmosfera bastante liquida, enquanto as suas melodias se entrelaçam, sendo as linhas de baixo e as camadas de teclados seus maiores destaques. Uma verdadeira evocação de sentimentos nostálgicos, conexão e contemplação sobre a passagem do tempo e a natureza transitória da vida e do amor. Talking to the Whisper, uma desconexão e separação entre suas pessoas e que explora temas como a distância, comunicação, esperança e a natureza complicada do amor. É mais um momento do disco que contem boas doses de experimentações e pinceladas lisérgicas encaixadas brilhantemente.


Who Brings Me, a ideia do menos é mais que existe dentro do minimalismo pode ser aplicada facilmente aqui. O disco chega ao fim com uma peça encantadora, entregando novamente teclas em camadas, enquanto isso, Holter explora o sonho, natureza e o amor, evocando uma sensação de admiração e devoção pelo mundo ao nosso redor e pela pessoa amada.



Something in the Room She Moves é um disco que se comporta como uma montanha-russa de experiências musicais. É evidente que Holter se aventurou por uma variedade de estilos, sons e temas, buscando desafiar as expectativas e criar algo valioso, nos convidando para mergulharmos nas profundezas da nossa própria alma e explorar os mistérios do coração humano.

 

Something in the Room She Moves

Julia Holter


Ano: 2024

Gênero: Art Pop

Ouça: "Sun Girl", "Something in the Room She Moves", "Spinning", "Talking to the Whisper"

Humor: Introspectivo, Reflexivo

Para quem curte: Jenny Hval, Laurel Halo


 

NOTA DO CRÍTICO: 8,5

 

Ouça, "Talking to the Whisper"




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