Jim Morrison, 54 anos sem o xamã do rock: a chama ainda arde no Père-Lachaise
- Marcello Almeida
- há 7 dias
- 2 min de leitura
Atualizado: há 6 dias
54 anos depois, ele ainda é necessário. Talvez hoje mais do que nunca

Em 3 de julho de 1971, Paris amanheceu silenciosa e sombria. Dentro de um apartamento no bairro do Marais, o corpo de Jim Morrison jazia sem vida, aos 27 anos, selando para sempre seu nome entre as almas do “Clube dos 27”. O vocalista do The Doors deixava o mundo terreno, mas não abandonava o palco. Morria o homem, nascia o mito. A rebeldia, o caos, o erotismo, a poesia — tudo o que ele cantou com fúria e febre — ganhava contornos eternos ali mesmo, na banheira fria de um exílio voluntário.
Jim Morrison era muito mais que um frontman. Era um ritualista, um provocador, um poeta devoto do abismo. Suas performances não eram apenas shows, mas experiências místicas, como se cada apresentação fosse uma sessão de exorcismo coletivo. Com os Doors, fundiu o rock ao delírio, o blues à loucura, a psicodelia ao desejo de transcendência. “Light My Fire”, “Riders on the Storm”, “The End” — faixas que ainda hoje vibram como trovões dentro de quem ousa escutar com a alma.
Filho bastardo de Rimbaud, Nietzsche e Elvis Presley, Morrison abriu as portas da percepção para além do palco. Suas letras carregavam símbolos, referências esotéricas, ecos da geração beat, e um niilismo quase profético. Bebia de tudo: da filosofia à garrafa. Era culto, carnal, perigoso. Um dândi sujo com a alma em chamas. Onde passava, deixava rastros de desordem, fascínio e medo — como os verdadeiros artistas devem deixar.
Cinco décadas se passaram e seu túmulo no cemitério Père-Lachaise virou altar. Peregrinos do mundo inteiro deixam flores, bilhetes e cigarros naquele pedaço de terra, como quem agradece não a um morto, mas a um despertar. Morrison segue vivo em cada jovem que se recusa a ser domado, em cada banda que decide fazer arte como risco, em cada grito que rompe o silêncio da mesmice.
O legado de Jim Morrison é um grito que ainda ecoa. Ele escancarou portas que não se fecharam. Fez do rock uma experiência sensorial, suja, mágica, quase sagrada. Ainda é ouvido nos bares, nos quartos, nos fones de ouvido de quem sente demais e entende de menos. Ele foi o arauto da dúvida, o profeta do excesso, o amante do caos. E enquanto houver poesia nas trevas, Morrison seguirá acendendo fogueiras.
54 anos depois, ele ainda é necessário. Talvez hoje mais do que nunca.
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