O problema maior de Fronteira Sombria é não conseguir ligar todos os aspectos técnicos em prol de um filme mais coeso e audacioso
Interessante observar como temos a disposição hoje em dia um cinema asiático fortalecido. Para quem deseja fugir um pouco das produções feitas nos EUA e na Europa, várias são as opções disponíveis realizadas na Ásia. Em contrapartida, muito pouco se comenta sobre o cinema indonésio, inclusive, parece ainda existir certo ostracismo quando o assunto é a Sétima Arte do país.
Fronteira Sombria (Kabut Berduri, 2024) é um filme indonésio do diretor Edwin (A Vingança É Minha, Todos os Outros Pagam em Dinheiro, 2021). Envolvendo suspense, drama e thriller policial, a produção tem muita inspiração nos filmes europeus envolvendo crimes cercados de mistérios e enigmas, difíceis de solucionar.
Sanja (Putri Marino) é uma detetive chamada para investigar um crime que ocorre na fronteira entre a Indonésia e a Malásia. Ela precisa lidar com um misterioso assassino perspicaz que decapita sem piedade suas vítimas. Problema que ela tem poucas pistas e não recebe tanta ajuda das autoridades locais que a lhe trata com descaso e preconceito.
Para contribuir com a situação da detetive, existe toda uma história de lendas e de superstições que circulam pela região. Sendo assim, o diretor elabora os assassinatos em meio a um panorama que engloba o místico e o sobrenatural. A névoa da densa floresta que ronda os personagens antes dos crimes também acrescenta uma atmosfera mais tensa e cercada de mistérios.
Mas claro que não poderia falta o principal: uma personagem com um passado traumático. Comum em narrativas com essas características, Sanja ainda precisa enfrentar os fantasmas que a assombram. Aqui, o diretor prefere não revelar logo os motivos, apesar de ficar dando pistas por meio de flashs e de alguns objetos que perseguem a memória de Sanja.
Sanja passar a ser cada vez mais pressionada para resolver os crimes que não param de acontecer. Neste tipo de filme, é praxe a trama criar vários suspeitos e propiciar a dúvida no espectador até o final. Aqui não é diferente. Entretanto, alguns personagens acabam enfraquecidos dentro da história e, dessa forma, o espectador ficará mais curioso em saber do passado da detetive do que propriamente em conhecer o autor das mortes.
Algumas cenas de ação tentam manter um ritmo menos vagaroso para a história, porém elas acabam não entregando tudo que poderiam. Um dos momentos mais apreensivos envolve uma luta cheia de coreografias numa cabana abandonada na floresta, entretanto, o desfecho soa forçado e sem impacto tirando o brilho por completo de uma cena memorável que o o filme poderia ter deixado como forte lembrança.
Por outro lado, a parte dramática do filme é bem explorada. Sanja está num ambiente que lhe sufoca em meio ao machismo, conservadorismo e poder. Apesar de não se equiparar a outras personagens marcantes como foi Sarah Linden (Mireille Enos) na série The Killing, a detetive está longe de ser um desastre.
O problema maior de Fronteira Sombria é não conseguir ligar todos os aspectos técnicos em prol de um filme mais coeso e audacioso. Tem uma atmosfera aditiva para isso, uma personagem forte em meio ao terreno íngreme que precisa enfrentar, mas a soma geral se perde.
Se o intuito era ser um filme modelado no estilo ‘mindfuck’, o diretor até consegue, mesmo que o resultado não agrade a todos. O filme não peca por exageros, aqui o humano prevalece e muitas cenas farão pensar nas dificuldades da vida real. O final, certamente não incompreensível e ambíguo para a maioria, não deixa de entregar aquilo que já sabemos: o mal está em vários segmentos de nossa sociedade e nunca dá tréguas.
Fronteira Sombria
Kabut Berduri
Ano: 2024
Gênero: Drama, Mistério, Thriller
Direção: Edwin
Roteiro: Edwin, Ifan Ismail
Elenco: Dhafi Yunan, Endrayatno, Kiki Narendra, Lukman Sardi, Nicholas Saputra, Putri Marino
País: Indonésia
Duração: 110 min
NOTA DO CRÍTICO: 6,0
Trailer:
Kommentare