Evan Dando encontra silêncio, sombras e redenção em “The Key of Victory”
- Marcello Almeida

- 5 de ago.
- 2 min de leitura
Terceiro single do novo álbum do Lemonheads é uma confissão sussurrada em meio a guitarras modais e ecos de Street Hassle

Depois de anos vagando entre cidades e histórias, Evan Dando parece ter encontrado um lugar para respirar — e talvez seja isso que se ouve em The Key of Victory, terceiro single do aguardado Love Chant, primeiro álbum do The Lemonheads em quase vinte anos. Se os dois lançamentos anteriores, Deep End e In The Margin, soavam como uma afirmação elétrica, aqui o tempo desacelera. É uma faixa feita de sombras suaves e movimentos em câmera lenta, ancorada na guitarra sinuosa de Apollo Nove e nas harmonias quase espectrais de Erin Rae.
Escrita em parceria com David Ashby (Rum Shebeen), a canção nasceu como um exercício de honestidade — consigo mesmo, antes de tudo. O vocal, gravado nos míticos Abbey Road Studios, carrega a serenidade de quem finalmente aceitou as próprias rachaduras. Dando resume em poucas palavras: “É quieta, é foda. É bonita e modal. Eu estava tentando fazer algo na vibe de Street Hassle, sabe?”
Love Chant: um disco de recomeço
Previsto para 24 de outubro pela Fire Records, o álbum é mais do que um retorno: soa como um renascimento. Um projeto amadurecido em deslocamentos, nas mudanças silenciosas de perspectiva e na rede de colaboradores fiéis que orbitam Dando desde os anos 90. Agora vivendo no Brasil — onde grande parte do disco foi gravada —, Evan parece ter encontrado o equilíbrio entre nostalgia e reinvenção. O resultado? Um trabalho que soa familiar, mas expandido por anos de experiência.
Produzido pelo multi-instrumentista Apollo Nove, Love Chant reúne velhos amigos e novas vozes: J Mascis (Dinosaur Jr.), Juliana Hatfield, Tom Morgan (coautor de Deep End), Erin Rae e John Strohm (Blake Babies), além do produtor Bryce Goggin (Pavement, Antony and the Johnsons). Há espaço para surpresas: Nick Saloman (The Bevis Frond) empresta sua assinatura psicodélica em Roky, e Adam Green (The Moldy Peaches) assina a country Wild Thing.
Fragmentos de um álbum vivo
Se In The Margin é puro caos melódico — riffs por toda parte, como Dando queria —, Cell Phone Blues traz uma fúria contida, quase irônica, enquanto 58 Second Song mistura swing western com melancolia de bar. Deep End, escrita com Tom Morgan, é propulsão pura, com um solo incendiário de J Mascis. A faixa-título, Love Chant, pulsa com a insistência hipnótica dos Modern Lovers, enquanto Togetherness Is All I’m After começa em explosão e termina em súplica: “Baby, don’t blow it.”
Nos últimos anos, a influência dos Lemonheads só cresceu. Artistas como MJ Lenderman, Courtney Barnett e Waxahatchee têm regravado Dando, exaltando sua clareza emocional, seu instinto melódico e a ironia íntima que sempre o definiram. Essa ressonância entre gerações faz de Love Chant mais do que um disco novo. É uma lembrança viva do que sempre fez os Lemonheads importarem — e de por que Evan Dando ainda escreve como quem não aprendeu a desistir.















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