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'Errante' de Adriana Calcanhotto poderia ser ótimo se definisse harmonia entre letra e música

Atualizado: 6 de abr. de 2023

'Errante' foi lançado em 31 de março de 2023.

Foto: Leo Aversa / Divulgação


Adriana Calcanhotto é um dos maiores nomes da música popular brasileira. A artista gaúcha, vem apresentado desde seu disco de estreia um repertório que mistura bem a música brasileira em camadas que soam ecléticas (em especial a MPB) com canções bem compostas inspiradas em poesia e literatura que faz do seu lírico ser rico em citações e palavras e o seu som ser algo admirável, palatável, acessível e especial.


Após 3 anos do lançamento do disco 'Só' de 2020, a musicista lança em 2023 'Errante' que exalta bem o seu lado forte que é de compor músicas excelentes com suas influências, só que aqui, a produção deixou uma sonoridade não orgânica que apresenta uma distorção bem estranha entre as letras e os sons.



Das 11 faixas, apenas algumas se destacam pelo conjunto harmônico de letra e música. “Horário de Verão” retrata incertezas do amor e das ilusões afetivas em uma sonoridade calma e poética em uma compatibilidade com o horário de verão que possui elementos do jazz, da bossa nova e samba canção de forma bem expressiva. “Pra Lhe Dizer” apresenta um Xote delicioso de ouvir com violões e triângulo enquanto traz uma letra que se torna uma verdadeira carta aberta de adeus a uma pessoa que amou ao demonstrar seus sentimentos e pensamentos de forma contundente que coloca a faixa como um dos pontos altos desse disco.


Em “Reticências” temos uma bossa nova que se bem mistura com música industrial numa forma bem frenética ao promover encantos, seja pela voz suave da artista, um instrumental envolvente ou por uma letra que é impactante.


“Era Isso o Amor?” apresenta timbres de guitarra que faz jus às canções com pegada no Rock do repertório da artista ao trazer uma letra reflexiva sobre o que é sentir o amor sem medo de sofrer. “Levou o Samba a Minha Fantasia” possui um som que poderia se encaixar bem nos excelentes álbuns 'O Micróbio do Samba' de 2011 e 'Multishow ao Vivo: Micróbio Vivo' onde a cantora fez bonitas homenagens ao samba misturando bem clássicos do gênero com canções autorais ideais para sambar, dançar e se emocionar.


É bom lembrar que esse trabalho foi produzido pela Modern Recordings, um selo alemão da BMG International. E é através disso, que vemos a grande falha dele: uma produção desorganizada. As letras são legais e o instrumental dele é legal, contudo, demonstra em sua falta de sincronia que poderia ter sido mais rítmica e harmoniosa invés de uma confusão sonora. Já a parte letrista mostra a qualidade poética de compor de Adriana Calcanhotto bem elevada. Por essa razão, há uma forte distorção em letra e música. O que não, significa algo ruim, mas, que poderia soar grandioso se a conexão entre artista e produção fluísse melhor.


O que se pode dizer com tudo isso é que 'Errante' é um bom disco. Não é melhor que 'Senhas', 'Marítimo', 'Maré' e 'Público' cujos álbuns são considerados alguns dos melhores trabalhos da discografia da cantora, entretanto, ela conseguiu manter em todos uma qualidade lírica e sonora excelente capaz de reunir uma criatividade coesa, interessante, sentimental e reflexiva. Uma prova disso são respectivamente o antepenúltimo e o penúltimo disco, lançados pela artista até o momento, que são 'Margem' e 'Só'.

Adriana Calcanhotto mostra uma maturidade forte ao destacar com elegância as influências da tropicália e da bossa nova, porém, se deixa ser conduzida por um som monótono quebrado apenas em algumas faixas e isso aconteceu por conta da produção, que se cuidasse melhor, o seu resultado poderia ter sido algo maravilhoso. Não que seja ruim, o disco se estabelece na média ok.

 

Errante

Adriana Calcahotto


Gênero: MPB

Lançamento: 31 de março de 2023

Ouça: “Horário de Verão”, "Pra Lhe Dizer", "Reticências".



 

Nota do crítico: 7,5

 

Veja o videoclipe de "Pra Lhe Dizer":


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