Em Tudo Passará: A Vida de Nelson Ned, o Pequeno Gigante da Canção, André Barcinski narra a história sem dramalhão e sensacionalismo
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Em Tudo Passará: A Vida de Nelson Ned, o Pequeno Gigante da Canção, André Barcinski narra a história sem dramalhão e sensacionalismo

A sacada é apenas contar a história de alguém que amou a vida, a família, os amigos e a arte que fazia.

Nelson Ned
Imagem: Reprodução.


Poucas pessoas exploraram tanto os dois lados da moeda quanto Nelson Ned. Era um romântico incorrigível e um mulherengo imperdoável. Amava seus filhos, porém muitas vezes foi violento com eles. Foi ídolo incontestável na américa latina e Estados Unidos, mas rechaçado pela imprensa de seu próprio país. Possuía uma estrutura física muito pequena, com uma capacidade pulmonar espetacular. Foi muito crente a Deus e fez coisas que o próprio diabo duvida.


E são essas polaridades que o jornalista André Barcinski retrata em seu último livro: Tudo Passará – A vida de Nelson Ned, o Pequeno Gigante da Canção. A biografia narra a história de Nelson antes mesmo dele nascer, até a sua morte em janeiro de 2014.


O autor já merece muitos créditos, pois a missão de Barcinski é resgatar nossa memória cultural. Ele já biografou José Mojica Marins, o Zé do Caixão, ajudou a trazer o Ritchie para as casas de show e programas de TV do Brasil, contou histórias e ressaltou heróis anônimos da música brasileira em seu documentário A história secreta do pop brasileiro. E o que ele agora faz é uma verdadeira reparação histórica à memória de Nelson.



Talvez muita gente que ouça falar de Nelson Ned não sabe quem ele foi. Nelson simplesmente vendeu 45 milhões de discos no mundo todo. Gravou em inglês, espanhol, italiano e até em japonês, de acordo com Verônica, sua filha. Lotou por quatro vezes o Carnegie Hall, era idolatrado por fãs no México, EUA, Cuba, Chile, etc. Fez o temido General mexicano Arturo Durazo Moreno, o El Negro, romper em lágrimas durante seu show. Era idolatrado por todos: desde os moradores dos bairros mais pobres da América Latina até líderes de cartéis, passando pelo Menudo.


O que não se entendia é como ele morreu praticamente na miséria e doente, depois de tanto sucesso e de uma carreira linda, pelo menos lá fora. E o livro explica como tudo isso aconteceu, em capítulos rápidos e, apesar da história triste, escrito de uma forma leve e objetiva. Não tem dramalhão nem sensacionalismo, isso a imprensa brasileira já fez bastante quando Nelson Ned era vivo.


Tudo passará é uma biografia especial, pois, para ser realizado, contou com a ajuda das filhas de Nelson, Monalisa e Verônica Ned. Contou também com o depoimento de outros familiares e amigos próximos do cantor, como o baterista Raymundo Vigna, Claudio Fontana e Moacyr Franco. O livro conta com um acervo de imagens incríveis, como a foto que Nelson tirou com o Menudo, imagens de shows lotados e as icônicas imagens de El Negro carregando Nelson para dentro de um helicóptero, para um passeio por sua propriedade.


Ao ler o livro, a gente se conecta com uma parte da história da música brasileira e com o cenário social da época que reverbera até hoje. Alguns artistas brasileiros que são usados pela imprensa apenas para vender sensacionalismo e fofoca, enquanto são duramente criticados pelo público que baba aquele ovo pra música elitizada. O resultado é aquele tão conhecido complexo de vira-lata estampado na nossa testa, e o artista brasileiro sendo premiado e aclamado lá fora. Vai entender...



Implicâncias à parte, o livro não se trata disso, mas faz a gente pensar sobre. Na verdade, a biografia de Nelson é exatamente como ele foi, livre da missão de problematizar, polemizar, militar ou escandalizar. A sacada é apenas contar a história de alguém que amou a vida, a família, os amigos e a arte que fazia. Assim, Nelson quis ser lembrado, e assim o livro realiza o que talvez foi a última vontade do nosso Pequeno Gigante da Canção.

 

Tudo Passará: A vida de Nelson Ned, O Pequeno Gigante da Canção

André Bacinski


Ano: 2023

Editora: Companhia das Letras; 1ª edição

Capa Comum: 256 páginas


 

NOTA DO CRÍTICO: 10

 



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