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Coringa: Delírio a Dois – Um musical poético e provocativo que desnuda a sociedade moderna

Coringa 2 é o resultado de quando a dupla personalidade de Fleck tropeça no amor e encontra a música que sempre esteve dentro dele

Lady Gaga e Joaquin Phoenix em 'Coringa: Folie à Deux'.
CRÉDITO: Warner Bros. Entertainment


A sequência de Todd Phillips para a saga de Arthur Fleck, com Coringa: Delírio a Dois, é linda e potente, como se, diante da tela, surgissem fragmentos puramente conscientes de que a violência faz brotar, dessa obra cinematográfica, uma lírica e estranha poesia que acaba convergindo em uma série de acertos de contas, desencontros, cenas abruptas, que, de certo modo, evocam tristeza, quando não uma bela e nauseante, incômoda empatia.


Não é novidade que, desde os eventos do primeiro filme, Todd embasou sua narrativa com um alto teor crítico sociopolítico. Coringa nada mais é do que uma personificação do niilismo. Os traços e a rotina de Fleck escancaram a rejeição dos valores tradicionais, desmistificando aquela crença de que a vida pode ser desprovida de sentido. Através de um musical, Delírio a Dois converge todos esses questionamentos ao se desprender de todas essas convenções sociais e morais.


Arthur Fleck, novamente muito bem vivido por Joaquim Phoenix, é um personagem caótico, complexo e imprevisível. A forma como ele vai transformando sua personalidade, entregando os podres da alta sociedade, expõe, de forma crua e honesta, a hipocrisia e a fragilidade dos valores da sociedade.


Coringa: Delírio a Dois pode ser enxergado como uma visão questionadora do que acontece quando uma pessoa resolve romper com as regras impostas pelo sistema. O longa não foge da filosofia do existencialismo; você já parou para pensar que a existência precede nossa essência? Fleck, ao lado de Arlequina, extraordinariamente representada por Lady Gaga, buscam um sentido para a vida em meio a todo o caos que os cerca. A trajetória da dupla romântica, que explode na tela juntos, é marcada pela construção da própria identidade, mesmo que ela seja trágica e violenta, em um mundo corrosivo que constantemente nega seus valores como seres humanos.




O longa embarca por um estilo diferente do primeiro filme; não é tão eletrizante, mas é audacioso, atrevido e brilhante ao mesmo tempo. É aquela obra cinematográfica que você sente que, a qualquer momento, pode incendiar tudo ao seu redor, e Phillips soube usar o gênero musical de uma forma inspiradora. A química entre Joaquim e Gaga é fogo e brasa, até mesmo porque o longa fornece menos atenção para coreografias e foca nas canções em si (principalmente aquelas dos anos 40 e 50). Essa é a magia de Delírio a Dois, usar a beleza da música para desmistificar o caos do mundo.


Coringa nada mais é do que um potente exemplo da exploração do trabalho e da luta de classes. Pode ser o espelho de todos aqueles indivíduos marginalizados que sofrem sob o peso cruel das estruturas capitalistas, onde a riqueza e o poder estão concentrados nas mãos de poucos. Se pararmos para analisar bem a narrativa do filme, a sociedade retratada na trama ilustra muito bem a divisão entre a elite, que exerce o controle e a opressão, e a classe trabalhadora, que é levada ao ápice do desespero e, eventualmente, à revolta.


A tal frase impactante que marcou o primeiro filme também está de volta por aqui: "dê ao público o que eles querem". Uma sociedade seduzida pelo espetáculo da destruição e desordem, enfatizando como a era das redes sociais inflamadas e a cultura de massa exploram e exacerbam a dor e o sofrimento, transformando-os em puro entretenimento.


O realismo do roteiro escrito por Phillips e Scott Silver nos leva por uma atmosfera gótica que mostra toda a liberdade ficcional dos costumes da urbanidade, configurando seu enredo como um reduto de barbárie e até mesmo um certo primitivismo que alcança dimensões gigantescas em nossa atual realidade. Coringa, talvez, de certo modo, busque por algo parecido com a redenção. Portanto, cabe saber o que, de fato, ela realmente irá significar nesse desfecho arrebatador diante da velocidade brutal e sobre-humana dos tempos que vivemos.



Joaquim Phoenix está simplesmente fantástico como Arthur, entregando uma performance primorosa que dança e canta à beira da insanidade, daquelas atuações arrepiantes e inesperadamente comoventes. Lady Gaga, como Arlequina, está exuberante, despertando toda a sensualidade e química nessa atmosfera insana ao lado de Phoenix. Delírio a Dois é um musical extravagante, provocativo, comovente e psicologicamente complexo.


No ponto em que as cortinas se abrem e se fecham diante do espetáculo, Coringa:Delírio a Dois vai muito além de um filme sobre um vilão; Todd Phillips nos apresenta um conto lírico e poético com uma visão crítica profunda e multifacetada sobre a sociedade moderna. A marginalização, a violência estrutural e aquela busca desesperada por identidade e um sentido em um mundo que parece cada vez mais indiferente ao sofrimento humano.


Além do mais, Joker ainda aponta uma lente para essa condição social, onde as normas e valores tradicionais são enfraquecidos ou ausentes, levando Arthur diretamente para essa sensação de desconexão e desorientação. Um produto de uma sociedade que falha em proporcionar uma rede de apoio, deixando-o à margem e desamparado. Um homem que se tornou uma figura pública e icônica, alimentado pelo caos e pela violência que ele gera como uma forma de expressão.

 

Coringa: Delírio a Dois

Joker: Folie à Deux


Ano: 2024

Direção: Todd Phillips

Roteiro: Todd Phillips, Scott Silver

Elenco: Joaquim Phoenix, Lady Gaga

País: Estados Unidos


 

NOTA DO CRÍTICO: 8,0

 

Trailer:


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