Com ritmo ágil, temporada 3 de Alice In Borderland reverencia o maior espetáculo que temos: a vida
- Eduardo Salvalaio
- há 4 dias
- 3 min de leitura
A terceira temporada já está disponível na Netflix

Atenção: breve análise da temporada, cuidado pois contém SPOILERS!
Em Cidade dos Anjos (1998), um remake livre do filme Asas do Desejo (1987) de Win Wenders, o personagem Seth (Nicolas Cage) escolhe não ser mais um anjo, abre mão da imortalidade para ficar ao lado da Doutora Maggie (Meg Ryan) por quem estava apaixonado. Claro que tal ação teria suas consequências, sentidas por Seth tão logo ele assume sua humanidade e mortalidade.
Apesar de produções diferentes, pensei um pouco no filme citado anteriormente durante o último episódio da terceira temporada de Alice In Borderland. Num momento crucial, Arisu (Kento Yamazaki) é questionado se preferiria cair num enorme vórtice aquático que se formava diante dele, ou então, seguir na direção contrária e escapar do vórtice.
A primeira opção, claro, mitigaria todos seus sofrimentos de uma só vez, a segunda, pelo contrário, lhe concederia uma vida apesar de trazer dor, sofrimento e angústia. Os dois caminhos contrários para o personagem escolher: a morte que chega facilmente ou a vida com todas suas provações.
O cinema sempre nos cercou com dilemas morais, volta e meia nos perturba (no melhor dos sentidos) com filosofias e questões do existencialismo como a angústia da escolha, a finitude e o sentido da vida. Faz de personagens da ficção um espelho de como regemos nossas vidas e muitas vezes de como agimos perante o livre arbítrio.
Mesmo com alguns exageros como 100 milhões de flechas caindo sobre os pobres participantes, a série japonesa não esqueceu seu intuito maior que foi o de mostrar como podemos ser agraciados pela vida. Destacou a humanidade mesmo entre explosões, sangue e pessoas com os nervos a flor da pele por não cumprirem os objetivos do jogo em tempo.
Tanto pelo lado de Arisu como de Usagi, os jogos foram sangrentos, decisivos e impiedosos. Essa perspectiva mostrando o casal enfrentando os jogos em grupos distintos até se encontrarem nos momentos mais decisivos foi um diferencial que deu ritmo ágil sem tempo para criar fôlego e sequer abrir brechas para o descanso dos participantes. E nem para o nosso.
Não apenas o casal principal, o elenco também merece destaque e trouxe muitos personagens que retratam aspectos da nossa sociedade. O drogado que deseja largar seu vício, a mulher espancada pelo marido violento, o jovem que deseja iniciar uma faculdade para agradar a mãe, uma garota que deseja ser uma produtora de animes, o professor numa cadeira de rodas que se culpa pela morte de uma aluna. Difícil não sentir carisma e aproximação com esses personagens.
A série conseguiu manter a expectativa em relação aos jogos. O quê esperar de um pote com vários palitinhos numerados que precisam ser retirados? O primeiro jogo que envolvia sorte, conhecimento e até orientação dos pontos cardeais foi muito tenso. E nem eu consegui acertar as respostas.

E o que dizer de um trem em alta velocidade com vagões que podem emitir veneno? Tenso. Em contrapartida, o jogo que usava cartas com zumbis, escopetas e vacinas foi monótono e longo demais. Um jogo onde a habilidade e estratégia dos personagens foi trocada por uma violência gratuita (não faria questão se não tivesse sido exibido).
Entretanto, o jogo maior era o último. Assim como foi na segunda temporada, um jogo para testar o estado psicológico dos participantes. E o nosso. Um labirinto de salas onde rolar os dados indicava possíveis caminhos. Trabalhar em grupo seria essencial para encontrar a saída. Seria não tão difícil, certo? Isso se não pesasse as imagens do futuro dos competidores passando diante dos olhos deles.
A linha tênue entre a vida e a morte. Os 2 minutos que Arisu tem para tentar trazer de volta sua amada Usagi (Tao Tsuchiya). Arrumar forças para sobreviver e para provar nosso amor. Os sacrifícios que realizamos para ajudar o próximo. O poder de não desistir para ver a felicidade de alguém da nossa família ou mesmo de ver o nascimento de nosso(a) filho(a).
Tanto que os produtores reforçam essa necessidade quando vemos os personagens sobreviventes da segunda temporada sendo entrevistados e respondendo a uma simples pergunta, que poderia resultar em inúmeras respostas: 'Por que a vida vale a pena para você?' Não poderia ter um desfecho melhor para quem passou por tudo.
Mesmo que deixe espaços para uma versão americana (como também deu a entender a terceira temporada de Round 6), acredito que Alice In Borderland passou sua boa mensagem. Não abriu mão das características do cinema asiático, trazendo ainda toda uma reflexão e uma abordagem sobre esse maior espetáculo que temos diante de nós: a vida.
Clique aqui para ler sobre a segunda temporada

Trailer:
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