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Barbie, filme de Greta Gerwig, aborda narrativa inteligente e cômica sobre quebrar estereótipos

Um longa que transita coloridamente por vários gêneros, como drama, comédia e musical. Afinal de contas, no mundo de Barbie, você pode ser o que quiser ser.

Crédito: Warner Bros. Pictures


Uma coisa é certa no mundo encantado, mágico, rosa e alegre de Barbie: você pode amá-la ou odiá-la completamente. Desde seu lançamento em 1959, a boneca da corporação Mattel introduziu vários estereótipos sobre padrões de beleza feminina, ao mesmo tempo em que também destacou em seu marketing o slogan de que todas as meninas podem ser tudo aquilo que elas quiserem ser. Um bom exemplo disso está figurado nas inúmeras versões da boneca. Hoje, no mundo, talvez seja impossível encontrar uma pessoa que não conheça ou tenha ouvido o nome Barbie por aí.


Uma das curiosidades que surgiram com o anúncio do filme dirigido pela talentosíssima Greta Gerwig, diretora responsável por filmes como Lady Bird (2017) e Adoráveis Mulheres (2019), era o que um filme sobre uma famosa boneca poderia acrescentar ou dizer sobre nossa realidade? Seria esse um alto orçamento para um comercial de duas horas? Que mensagem um filme sobre um brinquedo com tanta bagagem - metafórica, é claro - transmitiria? Como transformar um mundo colorido, alegre e fantasioso em algo comovente e profundo? Para satisfação e insatisfação de alguns, o filme sobre a visão de Greta do mundo perfeito de Barbie vai muito além dos sonhos mais extravagantes, ao alinhar e destacar que a vida da boneca por si só pode não ser fantástica, mas é subversiva, perspicaz, engraçada e inspiradora - com a dose certa de energia criativa.



Greta nos leva direto para o mundo encantado de Barbieland, por meio de uma reconfortante narração de Helen Mirren, uma utopia onde tudo é possível, e somos apresentados à Barbie estereotipada, muito bem interpretada pela bela e encantadora Margot Robbie. Tudo vai muito bem nesse universo paralelo. Conhecemos as diferentes versões da boneca, a 'Barbie presidente' de Issa Rae e até mesmo a 'Barbie Sereia' de Dua Lipa. É um mundo mágico governado pelas mulheres, onde os homens, caracterizados pelo Ken (Ryan Gosling) e suas versões, disputam pela atenção de Barbie. Porém, em um belo dia, ela começa a ter uma crise existencial, onde tudo começa a dar errado em seu mundo encantado. Para resolver sua crise de identidade, Barbie com a ajuda de Ken, embarca em uma viagem fantástica e colorida para o mundo real em busca de respostas para sua própria existência.




A partir daí, o filme de Greta sobre sua visão de Barbie ganha vida entre humor, comédia, drama, tons de rosa e muita sátira e deboche sobre a própria Mattel e temas um tanto obscuros e presentes em nossa realidade. O roteiro, muito bem afiado, escrito por Gerwig e Noah Baumbach, traça linhas muito inteligentes para criticar a sociedade com seu sexismo, padrões duplos, machismo e grandes corporações. Até mesmo alguns clássicos do cinema e da cultura pop, como Matrix, Liga da Justiça, O Mágico de Oz e 2001: Uma Odisseia no Espaço, não escapam da sátira divertida e sagaz de Greta. Barbie está recheada de diversas sacadas pop que garantem boas risadas no cinema.


Outro ponto positivo e certeiro é sua trilha sonora, que vai de Billie Eilish a Lizzo, e de alguma maneira, isso faz jus a todo o hype criado em torno de Barbie. Greta teve o cuidado de implementar tudo, desde roupas, acessórios, carros, chapéus, casa com escorregador para piscina. Está tudo lá, encaixado nos mínimos detalhes. Mas toda essa viagem louca e sonhadora não seria possível sem as excepcionais atuações de Ryan Gosling e Margot Robbie. Os dois brilham e formam um par fenomenal na telona. E se existir justiça nesse mundo, entregue um Oscar a Gosling. Isso também não quer dizer que a Barbie de Robbie fique para trás. Ela é uma criação artística deslumbrante. De certo modo, Robbie consegue trazer camadas silenciosas para uma personagem exagerada. America Ferrera também entrega uma performance fantástica como Gloria, uma funcionária comum da Mattel, que tem um dos discursos mais importantes e impactantes do filme. Pode parecer que não, mas Barbie está recheada com ótimos diálogos.


Um longa que transita coloridamente por vários gêneros, como drama, comédia e musical. Afinal de contas, no mundo de Barbie, você pode ser o que quiser ser.




Sobre a fotografia, ela é colorida, brilhante e vibrante. Com certeza, vai encantar os olhos da moçada e pode agraciar essa nova geração. Greta não economizou no uso das cores, especialmente o rosa. Se a ideia era transportar com autenticidade e leveza o mundo de Barbie para o cinema, ela conseguiu. Por outro lado, nessas nuances, conseguimos enxergar as pontas dos dedos da Mattel sobre a imagem da Barbie vendida no cinema. Não será espanto e nem novidade para ninguém que tanto a Warner Bros. quanto a Mattel irão trabalhar em uma franquia de Barbie, e a gigante corporação não vai perder a oportunidade de vender e introduzir novos produtos da boneca em cima do sucesso e de todo o hype que se criou com o filme.


Mas é aí que entra a cereja do bolo. Greta e Baumbach utilizam essas mesmas circunstâncias para fazer críticas em seu roteiro. Porém, elas são distribuídas de maneira sutil, engraçada, cômica e divertida durante o filme. Até mesmo em algumas falas de Mirren agradecendo à Barbie por acabar com a misoginia no mundo. A realidade e a ficção nunca perdem o equilíbrio no filme.



Com uma Barbie um tanto ingênua descobrindo a dura realidade de uma sociedade patriarcal, o longa retrata as dificuldades que as mulheres enfrentam ao ocupar espaços profissionais, o esgotamento de ser uma mulher líder em ambientes machistas, a síndrome da impostora e a pressão pela perfeição feminina, entre outras críticas e assuntos tão atuais em nosso cotidiano. Com tantas piadas e sátiras sobre ser feminista, sociedade machista e crises existenciais, em certos momentos Barbie pode ser direcionada para um público adulto e não somente para aqueles que ainda brincam com bonecas. As mensagens estão todas ali embutidas em um lindo e maravilhoso mundo rosa.



Porém, nem tudo funciona direito em Barbie, assim como a própria protagonista da narrativa, o longa tem suas falhas. A introdução dos magnatas da Mattel soa desnecessária, apesar de ser uma porta de entrada para alguns detalhes importantes da trama. Destaque para Will Ferrell como CEO da corporação. Há também um pouco de subdesenvolvimento dos personagens humanos. Embora America Ferrera e Ariana Greenblatt entreguem ótimas atuações como Gloria e sua filha, Sasha, seus personagens parecem um pouco vazios em comparação com as Barbies e Kens. Mas nada que chegue a atrapalhar a gostosa experiência com o filme.


Contudo, Barbie é aquele filme que vai ascender inúmeros sentimentos, vai proporcionar bons momentos entre pais e filhos no cinema, boas risadas e divertimento. Sem falar na carga nostálgica que a produção carrega no colo. Para um filme que foi produzido com a intenção de promover uma boneca, a forma como ele foi entregue é louvável. De longe, pode ser o melhor filme de Greta Gerwig, a cineasta transformou um filme sobre celebração de uma marca em uma jornada sobre a cultura pop, que fornece ao público um incentivo e inspiração para questionar não somente tudo aquilo que você pensa sobre a Barbie, mas o que o mundo pede e exige de nós, meros humanos tentando fugir das nossas caixas.

 

Barbie

Barbie


Ano: 2023

País: EUA

Direção: Greta Gerwig

Roteiro: Greta Gerwig, Noah Baumbach

Elenco: Margot Robbie, Ryan Gosling, Will Ferrell, America Ferrera, Emma Mackey, Issa Rae, Simu Liu

Duração: 1h 54 min


 

NOTA DO CRÍTICO: 8,5

 

Trailer do filme:






















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