All Is Love and Pain in the Mouse Parade: o renascimento luminoso do Of Monsters and Men
- Marcello Almeida

- 17 de out.
- 3 min de leitura
Entre o amor e a dor, o Of Monsters and Men reencontra a própria alma

Seis anos separam o silêncio de Fever Dream (2019) do retorno arrebatador com All Is Love and Pain in the Mouse Parade (2025), um intervalo que não soa como ausência, mas como respiro. O hiato do Of Monsters and Men foi uma travessia necessária. Uma pausa para que cada integrante reencontrasse o seu próprio ritmo, longe das pressões, das turnês intermináveis e do automatismo criativo que costuma devorar bandas que nasceram sob o peso de grandes expectativas.
Em 2022, o grupo islandês ensaiou uma despedida sutil com o curta-documentário tíu e um EP homônimo, espécie de ritual de memória e gratidão. Depois, veio o silêncio. Um silêncio fértil. E é desse vazio criativo, dessa suspensão do tempo, que o novo álbum emerge, um disco de reconstrução, de feridas cicatrizadas e amores sobreviventes.
Entre luz e penumbra
Produzido pela própria banda, All Is Love and Pain in the Mouse Parade é um mergulho nas dualidades que sempre habitaram o som do OMAM: a doçura e o desamparo, o sonho e o chão frio da realidade. Há algo de confessional e maduro neste novo capítulo, como se Ragnar þórhallsson e Nanna Hilmarsdóttir tivessem aprendido a coexistir com as próprias contradições.
A abertura com “Television Love” traduz isso de imediato: uma conversa entre dois amantes que não se entendem, mas se escutam. Nanna domina a faixa com uma entrega quase hipnótica. Na sequência, “Dream Team” tenta preservar o otimismo, enquanto “Barefoot in Snow” expõe o colapso dessa tentativa, o desejo de ser feliz mesmo quando o mundo insiste em desabar. É o retrato perfeito do equilíbrio proposto no título: amor e dor, de mãos dadas no mesmo desfile emocional.
O ápice chega com “Fruit Bat”, o magnum opus do álbum. São oito minutos de transcendência — três deles puramente instrumentais, num crescendo que parece desenhar a paisagem sonora de um coração voltando a bater. Poucas bandas hoje ousam criar algo tão longo e, ao mesmo tempo, tão preciso na emoção.
O amadurecimento de um som que aprendeu a respirar
A sequência “Ordinary Creature”, primeiro single da nova fase — cumpre o papel de âncora emocional. É o som da banda reencontrando sua leveza, após anos de incerteza. Já “Styrofoam Cathedral” reafirma a densidade estética do grupo, com vocais etéreos e percussões que lembram um ritual em câmera lenta.
“The Block” traz o refrão mais contagiante do disco, um raro momento de soltura, daqueles que fazem o corpo reagir antes da razão. Mas é nas faixas finais que o álbum encontra seu destino. “Mouse Parade” desacelera o pulso, preparando o terreno para “The End”, que fecha a obra com uma serenidade quase espiritual. É sobre aceitar o fim, sem medo, reconhecendo que toda dor um dia se transforma em aprendizado.
Um recomeço sem pressa
All Is Love and Pain in the Mouse Parade não é um retorno triunfal no sentido pop, é algo mais bonito que isso: um renascimento humano. É o som de uma banda que não tem mais a necessidade de provar nada para ninguém, apenas de existir com autenticidade.
O hiato, por mais doloroso que tenha sido para os fãs, se revelou essencial. O Of Monsters and Men volta mais sereno, mais vulnerável e, paradoxalmente, mais forte. Talvez o segredo do amor — e da arte — esteja mesmo em aceitar a dor como parte do caminho.
















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