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A trilha sonora da polarização: o que a música que você ouve revela sobre seu voto

A cultura sempre foi política — e a música, especialmente no Brasil, sempre foi reflexo de sua época

Show de rock
Imagem: Reprodução

Uma pesquisa recente da Quaest, em parceria com a Genial Investimentos, revelou algo que vai além das urnas e das redes sociais: o gosto musical dos brasileiros tem um elo direto com seus posicionamentos políticos. E se você acha que isso é só coincidência, talvez seja hora de rever a sua playlist.



Foram 2.004 entrevistados, entre os dias 27 e 31 de março. Margem de erro de 2 pontos. Nível de confiança de 95%. Um levantamento robusto, que não só dividiu o país entre lulistas, bolsonaristas, indecisos e os que se dizem “mais à esquerda” ou “mais à direita”, como mapeou o que essas pessoas ouvem. E os dados expõem mais do que simples gostos musicais — revelam identidade, território, memória afetiva e até o tipo de país que se deseja construir.


Não é nenhuma surpresa que o sertanejo esteja no topo da lista em todos os grupos. É o som que domina rádios, algoritmos e festas de rua. Mas é no segundo lugar que a coisa muda de tom — e de cor. Entre os bolsonaristas, 23% escutam música gospel. Já os eleitores de Lula e da esquerda colocam samba e forró no topo de suas preferências, somando 27%.



O mapa sonoro da polarização brasileira tem batidas distintas. De um lado, a exaltação religiosa como identidade política. Do outro, os ritmos populares que nasceram da resistência, da alegria e da mistura. O que antes era apenas uma questão de estilo, agora é também um sinal: o que você ouve pode dizer em quem você vota — ou pelo menos com quem você se identifica.



O rock, símbolo da rebeldia em outras gerações, hoje aparece diluído. O rock internacional tem 2% entre os lulistas, 5% na esquerda não petista, 4% nos sem posição, 6% na direita não bolsonarista e 4% entre os bolsonaristas. Já o rock nacional — talvez engessado entre a nostalgia e a apropriação indevida — aparece com 2% entre lulistas, 6% na esquerda não petista, 3% entre os sem posição e direita não bolsonarista, e 2% entre bolsonaristas.


Ou seja: o rock, que um dia foi trincheira e provocação, hoje é quase neutro. Uma presença tímida, deslocada num país onde a cultura virou campo de batalha ideológica e os artistas passaram a ser atacados ou idolatrados com base em suas convicções políticas — não em sua obra.


É preciso também considerar que a margem de erro para os grupos é de 6 pontos percentuais para lulistas, esquerda e bolsonaristas; 5 para os de direita não bolsonarista; e 4 para os sem posicionamento. Mesmo assim, os padrões são claros.


Essa pesquisa expõe um Brasil onde o gosto musical virou também um gesto político. Onde os fones de ouvido são usados como trincheira. Onde a trilha sonora do seu dia talvez diga mais sobre você do que seu discurso no grupo de WhatsApp.


A cultura sempre foi política — e a música, especialmente no Brasil, sempre foi reflexo de sua época. O que estamos ouvindo agora, portanto, não é só uma batida. É um sinal. É um código. É um grito. Mesmo que você nem perceba.


Você pode conferir a pesquisa na íntegra aqui.

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