'A Metamorfose' de Franz Kafka ressoa como um espelho da nossa atualidade, um mundo doente e hostil
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'A Metamorfose' de Franz Kafka ressoa como um espelho da nossa atualidade, um mundo doente e hostil

Atualizado: 14 de jun. de 2023

O retrato socioeconômico do Brasil pelas lentes de Franz Kafka



"Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama, metamorfoseado num inseto monstruoso". Essa é a emblemática e impactante frase que dá início a narrativa de 'A Metamorfose' de Franz Kafka que teve sua primeira publicação em 1915. A tal frase enigmática que logo de cara explode sua cabeça, levou o saudoso Gabriel García Márquez a se tornar escritor.


Portanto, essa é uma das características que nos levam direto na direção da importância dessa obra com destino a humanidade e para literatura. Não é preciso ser um estudioso ou conhecedor da vida de Kafka, ou até mesmo ter lido outras obras dele para entendê-lo. Ao começar a profética leitura de 'A Metamorfose' o leitor já é automaticamente direcionado para o universo Kafkiano.



Partindo desse ponto, a narrativa esbanja e enche de porrada o leitor com o realismo impactante e perverso de cada página deste livro, ao mesmo tempo, tão inesperado, culposo, associado a um senso de humor ácido, tenebroso e jocoso da crueldade nua e crua da condição humana; não se assuste se você for lê-lo pela primeira vez em 2022, e encontrar muitos traços condizentes com nossa atualidade, a escrita de Kafka é soberba e intemporal. Cai como luva para o atual cenário em que se encontra o Brasil.


Kafka traduziu de forma fria e formal os pesadelos de uma sociedade doente (não generalizando), onde o egoísmo, individualidade e dinheiro falam mais alto.


O evento descrito na primeira frase da narrativa é a chave e o combustível para conduzir uma série de acontecimentos, comportamentos e pensamentos. Kafka não criou rodeios em sua escrita, ele já entrega momentos aterrorizantes logo na primeira linha e te joga em um universo asqueroso, onde o verdadeiro monstro se alimenta da arrogância, ganancia, preconceitos, dinheiro e individualismo, tudo articulado pelas manhas do capitalismo refletido nas ações egocêntricas da família de Gregor.


A narrativa não dá explicações exatas sobre as reais condições físicas de Gregor, o que sabemos é o que está sendo narrado. Sejamos sinceros, não há necessidade de tais explicações, 'A Metamorfose' é uma obra soberba e genial da ficção universal, concentrando toda sua discussão em reflexões filosóficas e questionamentos da existência humana. Contextualizando isso nos dias atuais do nosso país, seria como se a classe trabalhadora fosse o espelho de Gregor: assustado, confuso e sem esperança perdido em sua solidão, e sua família contando às horas para se livrar de vez dele, fosse as ações do governo te pisoteando, cortando seus direitos, zombando dos enfermos e ridicularizando a fome que se alastra pelas cidades brasileiras.


O que está aí é perigoso, ameaça a sobrevivência, a saúde, o meio ambiente e compactua com milícias.



O que temos aqui, é uma série de acontecimentos banais e insubmissos. Gregor mora com seus pais e sua irmã. A família praticamente depende dele para o sustento da casa. Quando ele se vê nessa situação de certa maneira começa a desenvolver conflitos internos e culposo, ao contrário de sua família que com o passar dos dias começam a tratá-lo com indiferença, frieza e abandono. Por sinal, abandono é a palavra que melhor se encaixa na narrativa dessas ligeiras páginas que continuam tão impactantes e próximas de nós.


A dor, a amargura e melancolia dos escritos de Kafka devem muito a essa indiferença.

 

A Metamorfose

Franz Kafka


Editora: Companhia das Letras (1ª edição 7 agosto de 97)

Idioma: Português

Páginas: 104

Capa: Comum

Onde encontrar: Amazon

Publicado pela primeira vez em: 1915


 

NOTA DO LEITOR: 10

 

Sobre o autor

Franz Kafka foi um escritor boêmio de língua alemã, filósofo, autor de romances e contos, considerado pelos críticos como um dos escritores mais influentes do século XX. Nasceu em 3 de julho de 1883, em Praga, Tchéquia, faleceu em 3 de junho de 1924, em Kierling, Klosterneuburg, Áustria.

 


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