terraplana se reinventa em “Natural” sem perder a essência
- Marcello Almeida
- 20 de mar.
- 2 min de leitura
Banda curitibana expande o shoegaze brasileiro em novo disco.

Falar de shoegaze no Brasil pode soar, à primeira vista, como uma ideia exótica, mas a verdade é que há uma cena ruidosa e apaixonada se formando por aqui há anos. A terraplana, banda curitibana que vem lapidando sua identidade desde 2017, é um dos principais nomes desse movimento.
Com Natural (2025, Balaclava Records), seu segundo álbum de estúdio, o quarteto não apenas reafirma sua posição como uma das bandas mais interessantes do país, mas também dá um passo adiante na construção de um som que é ao mesmo tempo abrasivo e grandioso.
Se Olhar Pra Trás (2023) mergulhava em atmosferas soturnas e enevoadas, Natural abre janelas e deixa o ar circular. O peso e a distorção continuam ali, mas há uma busca por maior clareza, como se a banda quisesse emergir do subterrâneo sem perder a essência. O single Charlie já dava indícios dessa mudança: guitarras carregadas de efeitos seguem como marca registrada, mas agora equilibradas por melodias mais cristalinas e batidas vibrantes.
A produção de Joo-Joo Ashworth (Dummy, SASAMI, Automatic) também joga a favor desse amadurecimento. A sonoridade do disco transita entre a delicadeza etérea do Slowdive e a crueza explosiva do Sonic Youth, sempre com uma assinatura própria. O álbum se constrói em camadas que ora abraçam o caos, ora flutuam em paisagens sonoras expansivas, mantendo o ouvinte imerso do início ao fim.
Os vocais, alternando entre Stephani Heuczuk e os guitarristas Vinícius Lourenço e Cassiano Kruchelski, criam dinâmicas que vão do sussurrado ao desespero melódico, reforçando a atmosfera hipnótica do álbum. Em Salto no Escuro, que abre o disco com um mergulho vertiginoso em distorções, a banda entrega uma das suas melhores composições. Já Morro Azul, que encerra o álbum com uma explosão de melancolia e tensão acumulada, é daquelas faixas que deixam marcas.
Já Hear a Whisper, parceria com Winter, adiciona um frescor ao disco. Com uma abordagem mais etérea e envolvente, a faixa equilibra ruído e suavidade de maneira quase cinematográfica. É uma música que parece levitar, guiada por harmonias etéreas e um instrumental que oscila entre a contemplação e o deslumbramento.
Todo Dia, por sua vez, surge como um dos momentos mais emocionais do disco. A melodia hipnótica e os vocais introspectivos criam uma atmosfera de repetição quase ritualística, como se a banda traduzisse em som a sensação de estar preso em um ciclo infinito de pensamentos e sensações. O instrumental vai crescendo aos poucos, adicionando camadas até explodir em um turbilhão de guitarras que ressoam como uma catarse.
O shoegaze da terraplana não é um revival de fórmulas desgastadas, mas sim uma reinvenção do gênero com identidade própria. Natural prova que a banda não está interessada em seguir caminhos fáceis. Pelo contrário: é um disco que desafia, experimenta e, acima de tudo, emociona.

Natural
terraplana
Ano: 2025
Gênero: Shoegaze, Dream Pop
Ouça: "Morro Azul", "Charlie", Salto no Escuro
Pra quem curte: Adorável Clichê
Humor: Agridoce, Atmosférico, Melancólico
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