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South Park volta com tudo e ataca Trump com seu episódio mais direto em anos

Quando todo mundo recua, Parker e Stone apertam o gatilho — e o alvo é o presidente dos EUA

South Park ironiza Donald Trump
South Park ironiza Donald Trump (Foto: Reprodução)

Este texto contém spoiler de South Park.


A estreia da 27ª temporada de South Park veio carregada de contexto e pólvora. Uma semana após a CBS cancelar The Late Show With Stephen Colbert — num movimento visto por muitos como uma tentativa de acalmar o governo Trump e facilitar a fusão entre a Paramount e a Skydance Media —, Trey Parker e Matt Stone aproveitaram o palco mais iluminado possível para lançar uma das críticas mais diretas e ferozes ao atual presidente dos Estados Unidos.



O episódio de estreia, intitulado “Sermon on the ‘Mount”, chegou também na esteira de um contrato bilionário da dupla com a própria Paramount — um acordo de US$ 1,5 bilhão por cinco anos para conteúdos de streaming, o que tornou esse o primeiro episódio a ser lançado diretamente no Paramount+, rompendo com a HBO Max. E, como se não bastasse, a exibição antecedeu um painel dos criadores na Comic-Con de San Diego. Em outras palavras: holofotes máximos. E eles não desperdiçaram.


A trama começa com uma crítica à crescente presença de símbolos cristãos e valores ultraconservadores na pequena South Park. Cartman, revoltado com o fim da NPR (que ele ouvia apenas para rir das vozes “liberais”), entra em crise existencial ao perceber que, se ninguém mais estiver defendendo ideais progressistas, ele deixa de ser o rebelde transgressor que sempre foi. O diretor da escola, PC Principal, agora se autodenomina Diretor Power Christian e traz Jesus Cristo literal para as salas de aula. Enquanto isso, Randy Marsh tenta lembrar aos amigos que Jesus em escolas públicas é ilegal — e que talvez o presidente tenha ido longe demais.



Logo o episódio nos leva à Casa Branca, onde uma versão grotesca e fotorrealista de Donald Trump — com os traços caricatos que South Park reserva aos canadenses, como a boca mole — é retratada como um vigário fundamentalista, ganancioso e sem escrúpulos, que lucra ao explorar a fé cristã enquanto promove uma agenda autoritária. Satanás reaparece, num paralelo direto com o filme de 1999, e revela estar em um relacionamento tóxico com Trump, tão miserável quanto antes com Saddam Hussein.


A crítica vai até o fim. Trump é mostrado em nudez frontal animada, incluindo seu microp*nis falante, que se apresenta com voz estridente: “Eu sou Donald J. Trump e endosso esta mensagem.”


Mas Parker e Stone não poupam ninguém. A Paramount, empresa que os financia, é retratada como cúmplice silenciosa. Jornalistas da CBS News aparecem amedrontados, receosos de provocar o presidente com qualquer crítica que possa gerar processos — exatamente como o cancelamento de Colbert sugeriu. E até Jesus revela que só voltou a South Park porque foi processado.


O episódio, cujo título é um trocadilho com a Paramount, termina com Cartman tentando suicídio, frustrado por já não ser o vilão de um mundo “liberal”. Mas Butters o convence de que ainda há esperança — de que um dia os valores de compaixão, empatia e senso comum voltarão a ser maioria, e Cartman poderá voltar a ser a exceção cínica. É um final agridoce e inesperadamente humano.


Para uma série que por tanto tempo zombou de qualquer tentativa de seriedade ou ativismo — ajudando a moldar uma geração que via engajamento político como “coisa de idiota” —, South Park parece ter escolhido um lado. E o fez com estardalhaço. Em vez de fugir da briga, como tantos estão fazendo em 2025, a série mergulhou de cabeça.


A Casa Branca chegou a emitir um comunicado condenando o episódio. Trump, até o momento da publicação, não respondeu. Mas considerando seu histórico de impulsividade, é só uma questão de tempo. O litígio, se vier, só dará mais fôlego a um episódio que não só recupera a relevância de South Park, mas também demonstra que ainda há espaço — e necessidade — para sátiras afiadas.


Num momento em que tantos se calam, Parker e Stone gritam. E mesmo que o façam com piadas de pênis, o recado é brutalmente claro.

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