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Quando o cinema denuncia a violĂȘncia: cinco filmes brasileiros contra o feminicĂ­dio, o machismo e a homofobia

Cinco obras fundamentais do cinema brasileiro que expĂ”em o feminicĂ­dio, o machismo, o racismo e a homofobia como estruturas de violĂȘncia, nĂŁo como exceçÔes

Cena do filme, Que Horas Ela Volta? 
Imagem: Reprodução

A violĂȘncia nĂŁo começa no ato final. Ela se constrĂłi no silĂȘncio, na naturalização do controle, na piada que humilha, no olhar que julga, na estrutura que ensina quem pode existir e quem deve ser contido. O feminicĂ­dio Ă© o desfecho mais brutal de uma lĂłgica antiga, histĂłrica e ainda profundamente enraizada na sociedade brasileira. NĂŁo Ă© um desvio. É um sintoma.



O cinema brasileiro, quando encara essa ferida de frente, cumpre um papel que vai alĂ©m da arte. Ele denuncia, registra e confronta. ExpĂ”e o machismo como sistema, o sexismo como regra, o racismo como herança e a homofobia como ferramenta de exclusĂŁo e violĂȘncia. Mostra que essas opressĂ”es nĂŁo atuam separadamente: elas se cruzam, se reforçam e atingem, sobretudo, corpos femininos, negros, perifĂ©ricos e dissidentes.


Mas esta nĂŁo Ă© uma lista sobre a morte. É uma lista sobre a vida. Sobre mulheres que resistem, que enfrentam, que seguem existindo mesmo quando tudo ao redor tenta apagĂĄ-las. O cinema, aqui, se recusa a reduzir essas mulheres Ă  condição de vĂ­timas. Pelo contrĂĄrio: revela sua força, sua inteligĂȘncia emocional, sua capacidade de ruptura e sua centralidade na construção do mundo. Onde o poder tenta impor silĂȘncio, esses filmes oferecem voz.


Falar de feminicĂ­dio, sexismo, racismo e homofobia Ă© falar de urgĂȘncia. Mas tambĂ©m Ă© afirmar, com clareza, que a mulher nĂŁo Ă© margem, coadjuvante ou exceção. Ela Ă© o centro da vida, da criação e da transformação social. Esses filmes nĂŁo pedem empatia, exigem consciĂȘncia. E lembram que nĂŁo existe cultura, futuro ou humanidade possĂ­vel enquanto a violĂȘncia contra mulheres e corpos dissidentes continuar sendo tratada como normalidade.


1) A Vida Invisível (2019), de Karim Aïnouz

 A Vida Invisível (2019), de Karim Aïnouz
Imagem: Reprodução

Talvez o retrato mais cruel e silencioso do feminicĂ­dio estrutural no cinema brasileiro. Aqui, a violĂȘncia nĂŁo vem apenas do soco ou da morte fĂ­sica, mas do apagamento sistemĂĄtico das mulheres, do controle do corpo, da maternidade compulsĂłria e do silenciamento emocional.


O patriarcado aparece como måquina: educada, doméstica, letal. Um filme que dói justamente por ser cotidiano.


2) O Céu de Suely (2006), de Karim Aïnouz

 O Céu de Suely (2006), de Karim Aïnouz
Imagem: Reprodução

Antes de o termo “autonomia feminina” virar slogan, esse filme jĂĄ mostrava o custo real de uma mulher tentar existir fora das expectativas impostas. Hermila nĂŁo Ă© sĂ­mbolo nem heroĂ­na: Ă© uma mulher tentando escapar de um ciclo de abandono, julgamento moral e violĂȘncia social.


O machismo aqui nĂŁo grita. Ele sufoca.


3) Que Horas Ela Volta? (2015), de Anna Muylaert

Que Horas Ela Volta? (2015), de Anna Muylaert
Imagem: Reprodução

Um filme que desmonta o machismo de classe, aquele que se disfarça de cordialidade. O corpo feminino como força de trabalho, afeto terceirizado e limite invisĂ­vel. A violĂȘncia aqui nĂŁo Ă© explĂ­cita, mas estĂĄ em cada regra nĂŁo dita, em cada “isso nĂŁo Ă© pra vocĂȘ”.


Um retrato cirĂșrgico da herança colonial brasileira.



4) Madame Satã (2002), de Karim Aïnouz

 Madame Satã (2002), de Karim Aïnouz
Imagem: Reprodução

ViolĂȘncia contra corpos dissidentes, homofobia, racismo e marginalização atravessam cada plano. JoĂŁo Francisco dos Santos existe em permanente estado de confronto com um mundo que tenta destruĂ­-lo.


O filme nĂŁo romantiza a dor, mas tambĂ©m nĂŁo pede desculpa por ela. É cinema como ato de resistĂȘncia.


5) Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014), de Daniel Ribeiro

Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014), de Daniel Ribeiro
Imagem: Reprodução

A escolha mais silenciosa da lista — e talvez por isso uma das mais necessárias. Em um país onde a homofobia mata, esse filme afirma o direito ao afeto, ao desejo e à descoberta sem punição.


É polĂ­tico justamente por ser delicado. Um manifesto contra a violĂȘncia normalizada.

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