Oito discos nacionais para ouvir antes do ano acabar.
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Oito discos nacionais para ouvir antes do ano acabar.



Apesar de todos os contratempos impostos durante esse difícil ano de 2021, eu fiz algumas conexões com músicos, artistas brasileiros que produziram grandes álbuns mesmo diante de uma devastadora pandemia e os afrontosos deboches políticos que menosprezam a cultura e minimizam a ciência, um cenário caótico e sombrio. Mas como diz aquele velho ditado "a arte sobressai e vive acesa".

Diante disso, resolvi separar 8 discos que ouvi esse ano e achei muito criativos e interessantes. Como vocês já sabem, aqui no (Teoria), resolvemos que cada um dos colaboradores trariam seus melhores discos tanto nacionais como internacionais, certo? Nossas listas de melhores álbuns internacionais já se encontram no site e na página do Instagram, quanto a lista dos discos nacionais, soltamos duas até agora, diante disso e olhando para essas listas resolvi mudar um pouco minhas escolhas, tirando trabalhos que já foram listados e dando espaço para outras obras que são excelentes e precisam ser conhecidas. A ideia é dar ênfase a discos que ainda não foram comentados e falados, sendo verdadeiros achados (preciosos) nesse Brasil de 2021.

A música teve sua relevância e suma importância em nossas vidas esse ano, ajudou a mim e com certeza a vocês também, a passarem por esse árido e tosco ano repleto de injustiças e perdas incomparáveis. A cultura, a arte e a música, tornam a vida mais leve e inspiradora, nos fazem acreditar em dias melhores e buscar nossa verdadeira essência e paz.

Apreciem a lista sem moderação, consumam arte, literatura e música em abundância, e que todos nós tenhamos um ótimo 2022. (Lembrando que a lista não tem ordem de preferência).

 

Jonathan Ferr- 'Cura'

Um dos melhores sons que ouvi esse ano, ao lado de Amaro Freitas e Juçara Marçal. 'Cura' de Jonathan Ferr simplesmente consegue transformar um dia cinzento em um verdadeiro dia de sorrisos contagiantes e de abraços aconchegantes. É assim que você se sente ao embarcar por essa atmosfera jazzística proporcionada por Ferr, onde ele propõe esperança na música brasileira. Jonathan Ferr faz do piano sua voz mais potente e verdadeira para contar em notas harmoniosas todas as histórias que precisam ser ditas e conhecidas através da nossa fábula chamada vida. O disco possui fortes pegadas da música contemporânea e do Jazz. Conexões que conectam o ouvinte com o seu eu pessoal, fazendo um convite para viajar em pensamentos. Um balsamo para renovar a força e a esperança de dias melhores. A magistralidade dessa obra exótica, generosa, se inicia a partir da escolha do músico de abrir seu disco com a faixa "Sinos da Igrejinha", uma escolha pontual, considerando que a composição de domínio público funciona muito bem para se fazer uma introdução do que vem pela frente. Um disco exuberante do começo ao fim.



 

Fernando Mascarenhas- 'Dizperto'

Uma grande surpresa esse ano foi conhecer o som de Fernando Mascarenhas e seu 'Dizperto', disco que diz muito sobre os sentimentos acumulados durante essa pandemia. Mais gratificante ainda foi me tornar amigo desse músico extraordinário, onde pude fazer uma entrevista sensacional com ele (disponível aqui no site).Fernando, simplesmente dissolve a distância com seu álbum de estreia solo. Com influências que vão de Lô Borges, Milton Nascimento e o estupendo Clube da Esquina, o disco navega por ondas sonoras da Bossa Nova, MBP, Jazz e Blues, Fernando sabe muito bem como usar isso tudo ao seu favor para criar canções que concebem um elo entre o velho e o novo, em um momento você pode se sentir no meio urbano de Minas Gerais relembrando o icônico Clube da Esquina, em outros você pode se sentir dentro de uma camada cósmica entre o 'Rubber Soul' dos Beatles e o 'Smile' do Beach Boys. Um disco produzido de forma tradicional, sem grandes estúdios por perto. Algo que intensificou a atmosfera caseira e intimista do álbum. Trazendo a obra para mais perto ainda do lado pessoal, refletindo o sentimento de inúmeros brasileiros.



 

Linn da Quebrada- 'Trava Línguas'

A multiartista Linn da Quebrada lançou esse ano o seu segundo disco 'Trava Línguas' (2021), o trabalho chega quatro anos depois do disco 'Pajubá' (2017), álbum que marcou a estreia da cantora e compositora. 'Trava Línguas' se comporta como um berço de ondas sonoras movidas pelo frescor da MPB, pelo ritmo da música eletrônica e experimental, com uma boa pegada no Rap. Um disco ousado e marcado pelo processo artístico, inventivo e criativo. Algo que enaltece o charme da obra e a torna convidativa para audição. Totalmente diferente de tudo que a cantora já fez, um trabalho inovador, belo e conciso, feito de processos performáticos, como se Linn estivesse imersa totalmente em outro mundo.

Trava Línguas da voz e poder para os sons das palavras, e realmente trava a língua, uma experiência musical difícil de colocar em palavras. “Amor, Amor” faixa que abre o disco cria uma conexão com toda a obra. Uma letra escrita pela amiga Castiel Vitorino Brasileiro: psicóloga e artista visual. A canção fala sobre o amor e suas reviravoltas, suas ações e contradições. Uma música com uma levada latina, moderna e brasileira.



 

Antônio Neves- 'A Pegada Agora É Essa (The Sway Now)'

O multi-instrumentista Antônio Neves, brinda o caos de um mundo banal canalizando sons experimentais com ondas psicodélicas juntando o Samba Raiz, Bossa Nova, Baião e camadas do Jazz, em nuances que convidam o ouvinte a adentrar nesse mundo de sonoridades viajantes. O eu lírico ganha asas para voar por uma conjuntura de canções que compõem um dos melhores álbuns nacionais desse fatídico ano de 2021. ‘A Pegada Agora É Essa’ cumpre muito bem sua proposta em pouco mais de trinta e cinco minutos. Com sons de piano, saxofone, vozes ecoando, batidas desconcertantes, ruídos e guitarras introspectivas. Abraçando esse contexto o álbum cria um clima atmosférico um tanto distinto e revolucionário. 'A Pegada Agora É Essa' pode ser chamado de 'Kid A', nacional. Além de tudo o álbum reúne convidados especiais como os instrumentistas, Hamilton de Holanda, Eduardo Neves e Leo Gandelman, além do percussionista Marco Esguleba e das cantoras Ana Frango Elétrico, Leda e Alice Caymmi. O disco foi lançado pelo selo britânico Far Out Recordings, e Neves optou pelo lançamento pela plataforma Bandcamp.



 

In Venus - 'Sintoma'

In Venus é uma banda paulista de Post-Punk feminista formada em 2015 por: Cint Murphy (voz e teclado), Duda Jiu (bateria), Rodrigo Lima (guitarra) e Patrícia Saltara (baixo). Em 2017, lançaram seu primeiro álbum de estúdio 'Ruina'. Três anos se passaram e a banda captou e absorveu experiências, vivências e, muitos sentimentos afloraram nesse mundo pandêmico e se abasteceram com o gás e inspiração para lançar o segundo e tão aguardado álbum. Em abril desse ano chegou o existencialista 'Sintoma'. A atmosfera do disco se afastou muito do primeiro trabalho da banda. O novo projeto chegou com uma carga explosiva desconcertante e delirante, abordando temas sobre o caos político e a existência humana. Um disco potente, denso e impactante. As canções apontam para um comportamento da sociedade que precisa rapidamente ser reavaliado, com uma linguagem ágil e ligeira, monta-se um retrato ácido e, ao mesmo tempo, cru do nosso país, jorrando toda essa carga de uma tal maneira que te leva a pensar em tudo que está acontecendo ao nosso redor. São camadas delirantes que narram a loucura que se desenvolveu no mundo real.



 

Bonifrate- 'Corisco'

Mais um belo disco lançado e produzido durante a pandemia em um estúdio improvisado em casa mesmo. Estou falando de Pedro Bonifrate, músico carioca que lançou em junho o seu mais novo álbum de estúdio chamado 'Corisco'. Uma obra que caminha por vários terrenos da moral e da existência humana. “O que seremos nós? /Imersas ilhas? /Máquinas de si mesmas? ” Assim abre o álbum com a faixa “Rei Lagarto”, o clima atmosférico presente na canção é algo que deságua em camadas introspectivas de pura psicodelia. Um disco que me lembrou muito Flaming Lips, algumas coisas de Tame Impala com o universo de Boogarins e Cidadão Instigado. A prova disso é a última canção que fecha o álbum “Corisco, Pt.2”, uma música linda e magistral. Possui uns elementos formidáveis e uma letra totalmente poética. Uma obra sensacional, eficaz, bela e livre para dizer tudo aquilo que precisa ser dito pelo menos uma vez na vida.



 

Matheus Godoy- 'Carta de Achamento'

O músico, compositor e produtor paraense Matheus Godoy embarca em uma linda viagem repleta de sutilezas por caminhos íntimos de descobertas em seu novo álbum de estúdio, 'Carta de Achamento'. Sucessor do elogiado álbum homônimo de 2016, que lhe rendeu algumas listas de melhores discos do ano e uma estreia onde dividiu o palco com O Terno. O disco foi totalmente produzido durante a quarentena pelo próprio Matheus que gravou todos os arranjos e registrou os diversos instrumentos em sua casa. São nove canções deliciosamente agradáveis de ouvir. As músicas refletem sobre perdas e desconexões sociais, existem um certo sentimentalismo e melancolia que lembram em muitos momentos o Radiohead, é o caso da canção “Terra Vermelha”. O disco consegue equilibrar muito bem os estilos musicais impregnados nas melodias. Gostei muito dessa mistura de elementos que vão desde a Bossa Nova, MPB, Samba Raiz e o Indie Rock.



 

Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo- Homônimo

O quarteto juvenil paulista, lançou esse ano seu primeiro álbum homônimo de estúdio. O disco contou com a produção da cantora e compositora Ana Frango Elétrico e saiu pelo selo Risco. A banda é formada por : Sophia Chablau (voz, guitarra), Téo Serson (baixo), Theo Cercado (bateria) e Vicente Tassara (guitarra, teclados). O álbum traz uma sonoridade jovial e criativa, em um conjunto de nove canções e um pouco mais de vinte minutos, o trabalho foge totalmente das camadas convencionais e explora com precisão, ousadia e luxúria, elementos que vão do Shoegaze a Bossa Nova. Apesar de serem jovens na casa de 20 a 23 anos, apresentam uma maturidade sonora incrível. As influências vão desde My Bloody Valentine, Sonic Youth e Dinosaur Jr. Um disco que evoca a paixão pela música e resgata a cena paulista com experimentações jazzísticas, guitarras profundas e camadas excêntricas que denotam a criatividade do quarteto paulista.



 

Sobre Marcello Almeida

É editor e criador do Teoria Cultural.

Pai da Gabriela, Técnico em Radiologia, flamenguista, amante de filmes de terror. Adora bandas como: Radiohead, Teenage Fanclub e Jesus And Mary Chain. Nas horas vagas, gosta de divagar histórias sobre: música, cinema e literatura. marce.almeidasilvaa@gmail.com

 





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