O Mundo Depois de Nós correlaciona o comportamento humano diante de um mundo em colapso
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O Mundo Depois de Nós correlaciona o comportamento humano diante de um mundo em colapso

A visão de Esmail sobre sua obra é cômica, irônica e dosada por um humor negro e sombrio sobre a era modernista.

O Mundo Depois de Nós
Crédito: Netflix



O Mundo Depois de Nós (Leave the World Behind), novo suspense apocalíptico que chegou ao catálogo da Netflix, vem dividindo as opiniões do público - é mais um daqueles filmes "ame ou odeie". O filme tem a direção de Sam Esmail, mais conhecido pela série Mr. Robot. O longa é uma adaptação do romance de Rumaan Alam com o mesmo nome.


Na trama, iremos acompanhar o casal Amanda (Julia Roberts) e Clay (Ethan Hawke), que alugam uma casa afastada da cidade para passar umas férias junto dos filhos. O que era para ser algo relaxante logo se torna em uma rotina nada normal quando dois estranhos, GH (Mahershala Ali) e sua filha Ruth (Myha'la), batem na porta de madrugada trazendo notícias de um possível ataque cibernético, dizendo que são os donos da casa e buscando abrigo.



O clima de tensão logo se instala, gerando dúvidas, desconfianças e uma série de eventos anormais que irão forçar ambas as famílias a aceitarem seus lugares em um mundo em colapso. Smail que também assina o roteiro do longa, tá mais interessando em captar e mostrar as relações das pessoas em sociedade e como elas podem se comportar diante do caos. Não é um filme com explosões, invasões e apocalipse, desses que já estamos acostumados a ver, isso pode desagradar algumas pessoas. A trama é mais sobre o comportamento humano. O que você faria, ou melhor dizendo, quem seria você se o mundo estivesse acabando? São alguns dos questionamentos que o longa nos faz refletir.


Os cenários, a fotografia e a trilha sonora são elementos muito bem usados e ajudam a imprimir uma paisagem de mistério, tensão e suspense, que acaba por si só prendendo a atenção do telespectador, mesmo com aquela sensação mais lenta do desenrolar dos fatos. A cena do avião e dos carros na estrada foram muito bem produzidas e causam uma certa aflição em quem está do outro lado da tela. Mas não espere mais do que isso; O Mundo Depois de Nós acaba embarcando em uma outra narrativa, como já elencado no início deste texto.



Outro ponto a ser mencionado, são os créditos executivos do longa serem creditados para Barack Obama e sua esposa Michelle, o que nos leva a uma seguinte teoria: o cinismo sombrio e paranoico de Smail em seu filme pode traçar um olhar crítico com um certo humor ácido para as fraquezas fundamentais da América. Um povo tão acostumado ao poder e seus privilégios que acabam vivendo em uma redoma de vidro, uma bolha na qual irão carregar seus filhos. Essa divagação caiu como uma luva ao casal Roberts e Ethan. Ela, uma mulher amargurada, parece sempre com raiva e ódio das pessoas. Por sinal é dela que surge uma das reflexões mais filosóficas do filme: “Sacaneamos uns aos outros. O tempo todo, sem nem perceber. A gente sacaneia tudo que é vivo no planeta e acha que tá tudo bem.”



Já Clay (Hawke) interpreta o tipo de intelectual genial e inofensivo que envelheceu naturalmente, embora o filme não o poupe das consequências de suas ações. Ali personifica o maníaco por controle com compostura perfeita, alguém que não sabe ao certo como lidar com o conhecimento que adquiriu. A personagem de Myha'la pode muito bem resumir as frustrações de uma geração que enxerga o que está acontecendo, mas não consegue vocalizar ou compreender de fato as complexidades que a cercam. O mesmo cabe para a filha de Clay e Amanda, Rose (Farrah Mackenzie), que parece odiar o mundo; e sua maior preocupação é ver o episódio final de Friends. Com a internet fora e os equipamentos eletrônicos não funcionando, sua concepção de mundo desaba.


O filme exemplifica a condição humana diante de situações que não podemos controlar e entender de fato os desfechos que isso irá resultar. Não falta o sentimento de individualismo e racismo na desconfiança de Amanda. Seria esse o comportamento natural das pessoas em situações extremas? O instinto de sobrevivência, proteger a si mesmo e egoÍsmo, muito disso é bem pontuado no personagem Danny (Kevin Bacon) em uma participação simbólica na trama, mas que não deixa de ser importante para conectar os pontos de um caos que também expõe nossa fragilidade e dependência desse mundo tecnológico, de redes sociais e streamings. O longa ainda nos leva a uma indagação: como seria o mundo sem tudo isso que estamos habituados a ter hoje em dia? Você já parou para pensar e refletir nisso?



A visão de Esmail sobre sua obra é cômica, irônica e dosada por um humor negro e sombrio sobre a era modernista. Sua técnica não é tão diferente de M Night Shyamalan; as tomadas de câmeras evidenciam isso e fazem questão de destacar – até a marca do carro envolvida na cena da estrada é bem coreografada. O diretor não está preocupado em dar nomes aos bois em revelar o que de fato está acontecendo. É um ataque terrorista? Um ataque cibernético? Uma guerra? são perguntas que ficam no ar, e com isso, ele esfrega o pavor da incerteza no telespectador, como se você estivesse no escuro sem saber pra onde ir e o que fazer diante da situação.


A dependência de Rose na série Friends chega a ser um dos pontos mais irônicos do filme, mas é justamente esse tipo de hipocrisia moderna que O Mundo Depois de Nós revela. Mas ao mesmo tempo, deixa a mensagem que, na pior das situações, a arte sempre estará lá para te salvar do caos, e nem tudo precisa fazer sentindo, assim como diz aquela música: “Ninguém te disse que sua vida seria assim. Seu trabalho é uma piada, você está quebrado, sua vida amorosa é um desastre total... Mas eu estarei lá por você”

 

O Mundo Depois de Nós

Leave the World Behind


Ano: 2023

Gênero: Thriller

País: EUA

Direção: Sam Esmail

Roteiro: Sam Esmail

Elenco: Ethan Hawke, Julia Roberts, Mahershala Ali, Myha'la, Kevin Bacon


 

NOTA DO CRÍTICO: 7,5

 

Trailer:





 

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