top of page

O dia em que o Rage Against the Machine ficou nu pela liberdade: o protesto que parou o Lollapalooza em 1993

Décadas depois, aquela imagem segue viva: quatro homens em pé, imóveis, nus, com a fúria contida como uma bomba prestes a explodir

Rage Against the Machine
Imagem: Reprodução

Em 18 de julho de 1993, no Lollapalooza da Filadélfia, o Rage Against the Machine fez o que poucos artistas ousariam fazer: subiu ao palco completamente nu, com fita isolante na boca e as letras “PMRC” escritas nos corpos. Não houve riffs, nem versos explosivos de Zack de la Rocha. Apenas silêncio — e ruído. Uma performance de 15 minutos que se tornou um dos atos mais radicais da história do rock contra a censura.



O Protesto Nu Contra a Censura


Naquela noite, o RATM se viu diante de um problema inesperado: Zack havia perdido a voz. Em vez de cancelar o show ou improvisar uma solução segura, a banda decidiu transformar o contratempo em protesto. O alvo era claro: o Parents Music Resource Center (PMRC), grupo liderado por Tipper Gore, responsável por pressionar a indústria fonográfica a inserir os temidos selos de “conteúdo explícito” — algo que o RATM enxergava como uma forma sutil (e poderosa) de censura.


A resposta foi direta, incômoda e impossível de ignorar. Com os instrumentos ligados em volume máximo, gerando um zumbido ensurdecedor, a banda ficou imóvel diante do público, expondo corpos e ideais. Fita preta nas bocas: censura. “PMRC” na pele: o recado. O tempo passava — cinco, dez, quinze minutos. Nada mudava. Nada além do desconforto crescente da plateia, que começou a vaiar e atirar objetos no palco.


Foi um antishow. Uma declaração muda e incandescente, que transformou a frustração em arte política. Sem dizer uma única palavra, o Rage Against the Machine gritou mais alto que qualquer solo de guitarra.



O espírito do Lollapalooza e o nascimento de uma fúria


Em 1993, o Lollapalooza era mais que um festival. Criado por Perry Farrell, do Jane’s Addiction, o evento funcionava como um caldeirão alternativo onde música, arte e ativismo se misturavam em ebulição. O Rage Against the Machine, que estreara um ano antes com um disco homônimo e uma capa que já dizia tudo — a chocante imagem do monge Thích Quảng Đức em autoimolação —, era o símbolo perfeito para esse momento cultural.


E não vendia camisetas. Não vendia nada. A postura era anticapitalista, antipublicitária, antiproteção de imagem. O RATM não apenas fazia música — fazia oposição em forma de música. A censura do PMRC, para eles, não era sobre proteger crianças. Era sobre silenciar vozes incômodas, tornar a arte mais palatável, mais domesticada.


O impacto eterno de um silêncio ensurdecedor


Naquela noite, a polícia retirou a banda do palco. Não houve prisão. Houve barulho, manchetes, polêmica. E, meses depois, um show gratuito na mesma cidade, como pedido de desculpas aos fãs que esperavam por “Killing in the Name” e receberam, no lugar, um protesto nu.


Mas foi assim que o Rage Against the Machine cravou seu nome no panteão da resistência artística. A nudez virou símbolo. A fita isolante, um manifesto. A banda que já causava desconforto com palavras, agora fazia o mesmo com silêncio.


Décadas depois, aquela imagem segue viva: quatro homens em pé, imóveis, nus, com a fúria contida como uma bomba prestes a explodir. E explode até hoje.

Comentários


bottom of page